Posted by admin On novembro - 6 - 2012

Bárbara Costa, Lorena Costa e Mariana Mendes


No dia 9 de outubro a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou no julgamento do mensalão os réus José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Na ocasião, a publicação eletrônica Carta Maior e a versão online da revista Veja noticiaram o fato.

A Carta trouxe a seguinte manchete: STF alcança maioria para condenar Dirceu, Genoino e Delúbio. Já a Veja optou por dar enfoque apenas a Dirceu: STF condena Dirceu, senhor do PT e do mensalão. As manchetes ilustram como um mesmo fato pode ser noticiado de forma distinta, dependendo do enquadramento que o jornalista, e também o veículo de comunicação, prefere adotar.

Enquanto a Carta Maior apresenta uma matéria em que mostra detalhes da sessão do julgamento – quem foram os acusados, quais ministros votaram contra e quais votaram a favor – a Veja traz uma reportagem dedicada à condenação de Dirceu. Em todo o momento, a revista faz referência ao partido que o político pertencia e renuncia do direito de colocar os argumentos dos dois ministros que votaram a favor da absolvição de Dirceu, levando aos leitores apenas um lado do fato.
A Carta tem uma posição esquerdista, porém mais próxima da neutralidade se comparada com a Veja. Ela expressa sua opinião através de depoimentos dos ministros. A escolha de falas mais duras no que diz respeito às condenações mostra, de um jeito indireto, qual é sua política editorial.

Um exemplo é o argumento de Gilmar Mendes no qual ele rejeita a tese de que Delúbio seria o único responsável do PT pelo esquema do mensalão. Segundo a Carta, Mendes disse que “não é factível e crível aceitar que o tesoureiro do partido lograria articular essa fonte de recurso estatal sozinho, ainda que contasse com a sempre presente colaboração de Marcos Valério”. Mesmo com esforços para ser imparcial, destacar essa parte da declaração aponta a posição política da publicação.

Em contraponto, a revista Veja, que é de extrema direita, elabora uma reportagem baseada em poucas falas dos ministros e se concentra em criar uma imagem relacionando José Dirceu e todos os seus crimes ao partido do qual era filiado. O periódico condena seus atos sem explicar quais são as acusações contra ele, além de não mostrar nenhum depoimento dos que votaram por sua absolvição.

Apesar de a matéria da Veja ter sido divulgada no dia da votação pela condenação ou absolvição de envolvidos no mensalão, a revista em momento algum menciona outros acusados, como o ex- presidente do PT José Genoino e o ex- tesoureiro do partido Delúbio Soares.

Na versão online da revista é possível perceber a construção da imagem de José Dirceu como o “senhor” do PT. Logo no título já vemos essa expressão e, no bigode, lemos: “homem forte do primeiro governo Lula”. No decorrer da matéria, em um parágrafo que explica a trajetória do político dentro do partido, a Veja usa outra expressão, cuja autoria é atribuída ao ex-presidente Lula: “capitão do time”. Mais abaixo, a revista reafirma essa imagem de Dirceu, de forma mais explícita, na passagem: “Dirceu – um homem que vivia para o PT e, em certo sentido, era o partido”. Para enfatizar que a condenação do ex-ministro representa ou equivale à condenação de todo o partido, a versão online da revista “justifica” tal imagem com a expressão usada por Lula e emenda que o resultado do julgamento envolve também todas as irregularidades atribuídas ao partido.

A Veja reafirma que a condenação representa a punição ao PT e a um “projeto de poder”, que vai “da nomeação de milhares de funcionários de confiança para cargos na administração” até a “compra de ‘consenso’ no Congresso, com a corrupção de parlamentares”. Na seção Biografia, a versão online da revista afirma que, desde o começo do julgamento do mensalão, Dirceu não fez muitas aparições públicas. A revista também diz que o ex-ministro da casa civil encontra-se no interior de Minas e de São Paulo, além de estar “mais magro e cabeludo, como nos tempos rebeldes que fez treinamento de guerrilha na ilha do camarada Fidel Castro”. Esse posicionamento que a Veja assume, ressaltando a todo o momento o partido de José Dirceu, revela o enquadramento – ou framing – da revista. O enquadramento é percebido quando o veículo seleciona alguns aspectos da realidade, deixando-os mais salientes no texto.

Durante a leitura da cobertura da condenação do ex-chefe da Casa Civil percebe-se um uso constante de metáforas induzindo os leitores a pensarem nele e no partido ao qual pertenceu como algo único. Isso fica claro ao analisar a criação de um possível simbolismo: Dirceu como a cara do PT, decadente e comunista.

As matérias analisadas estão disponíveis em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/stf-condena-dirceu-senhor-do-pt-e-do-mensalao, acesso em 13/10/2012

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21047, acesso em 13/10/2012

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