Posted by admin On novembro - 6 - 2012

Por: Camila Maia, Cinthya Meneghini, Isadora Faria, Lucas Machado e Rodrigo Pucci

O desenrolar das investigações e das CPIs chamou a atenção para outros escândalos que envolveram o Partido dos Trabalhadores (PT), partido do governo, e eclodiram antes do aparecimento das primeiras grandes denúncias sobre a existência do mensalão.

Em 2004 estourou o escândalo dos Bingos e em maio de 2005 o escândalo dos Correios. As investigações das CPIs trouxeram ainda para a pauta de discussões a misteriosa morte do prefeito Celso Daniel (2002) e as denúncias de corrupção na Prefeitura de Santo André, administrada por ele.

Por conseguinte, a crise do mensalão envolveu não somente o escândalo provocado pela denúncia de compra de votos (o mensalão, propriamente dito), mas todos esses escândalos juntos, que de alguma forma ou de outra se relacionam. Um dos elementos que ligam esses outros eventos com o mensalão, são as acusações de que em todos eles foram montados esquemas clandestinos de arrecadação financeira para o PT. O dinheiro vindo desses esquemas, pelo menos em parte, poderia ter sido usado para financiar o mensalão. Com o desenvolvimento da crise surgiram ainda novas denúncias e novos escândalos, como, por exemplo: o escândalo dos fundos de pensão, do Banco do Brasil, esquema do Plano Safra Legal, a suposta doação de dólares de Cuba para a campanha de Lula.

Agora, em 2012, teve inicio o julgamento dos envolvidos nesse escândalo. Esse assunto tem sido pautado na mídia exaustivamente como um dos maiores escândalos de toda a história da democracia brasileira. Com isso, pretende-se fazer uma análise da cobertura dos veículos Carta Maior, uma publicação eletrônica, e a Folha de São Paulo, jornal impresso de grande abrangência nacional. Assim, encontrar os tipos de enquadramentos presentes em cada meio, (conflito, jogo, episódicos, temáticos ou informação de diagnóstico) e descobrir se as matérias apresentam uma abordagem abrangente, proporcionando ao leitor uma reflexão embasada ou se as notícias focam em um único ponto de vista.

Para esta análise foram utilizadas quinze publicações da Carta Maior e as noticias publicadas entre os dias 5 a 10 da Folha.

Carta Maior

A Carta Maior em suas publicações apresenta uma análise critica de como a grande mídia (veículos de influência nacional) é tendenciosa na escolha dos assuntos que pauta. Segundo ela, pode-se observar isso pelo fato do mensalão ter recebido um grande enfoque nos veículos midiáticos e estar sendo tratado como um dos maiores escândalos dentro do estado democrático brasileiro. Isso, apesar de existirem outros acontecimentos na política nacional que mereceriam uma cobertura com tanto ou até mais destaque que o mensalão, como por exemplo, a compra de votos para reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

O fato de que o Estado de Direito funcionou em todos estes casos não quer dizer que isso ocorreu de maneira uniforme. O tratamento não foi igual para todos os envolvidos. As ações e providências políticas no Estado de Direito refletem no espaço midiático de forma diversa e não cumprem finalidades meramente informativas. Mensalão e Judicialização da Política: a metáfora da mesa – Tarso Genro

Justifica-se o rótulo de maior escândalo da República o desvio de dinheiro nesse montante? Não houve em nossa história outros maiores, muito maiores?” Mensalão: de como um rótulo virou acusação, e a acusação, um massacre – J. Carlos de Assis

A imprensa brasileira pode ser acusada de tudo, menos de não ser seletiva. O cardápio de notícias apresentado diariamente à sociedade brasileira também pode ser recriminado por tudo, menos pela repetição do prato principal. Refiro-me à Ação Penal 470, no linguajar jurídico, e ao mensalão, no linguajar dos jornalões”. Mídia & Mensalão: A imprensa seletiva – Washington Araújo

Nesses trechos podemos perceber a critica do veículo pelos critérios que a mídia utiliza para determinar o que é ou não notícia. De acordo com a sua linha editorial : “Nosso compromisso é contribuir para desenvolver um sistema de mídia democrática no Brasil e, de modo mais amplo, trabalhar pela democratização do Estado brasileiro, pelo fortalecimento da integração sul-americana e de todos os movimentos que lutam pela construção de uma globalização solidária.ela se encaixa assim, na metacobertura, pois apresenta aos leitores uma analise de como a própria imprensa usa os fatos midiáticos.

Na maioria dos textos analisados as fontes são oficiosas, com a fala dos envolvidos nas denúncias e ministros do STF durante o julgamento ou de declarações dadas à imprensa. As fontes oficiais que aparecem são especialistas, sociólogos que comentam os nas imagens dos políticos e dos partidos. Com isso, não existe uma pluralidade de vozes, já que o leitor acaba tendo como única opção a opinião do jornalista. Porém, opinião defendida pelos colunistas e colaboradores da Carta Maior não é a defesa de um partido ou outro, mas sim a igualdade de tratamento nas coberturas, postura essa que esta ausente na imprensa nacional.

As fotografias devem ser de arquivo, pois não é mostrado o nome do fotografo. Todos os artigos apresentam também uma única foto que busca representar o assunto geral tratado que é tratado no texto. Como exemplo disso pode- se citar o texto ‘Joaquim Barbosa afirma tese do “mensalão”.’ em que o juiz do STF, Joaquim Barbosa é o personagem principal da matéria é mostrada a sua foto em cima.

Também é possível observar a grande utilização de metáforas, que costumam aparecer logo nos títulos:
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a metáfora da mesa: “Suponhamos que a democracia seja uma grande mesa onde todos, abrigados no princípio da igualdade formal, sentam-se para viabilizar seus interesses e disputar algo da renda socialmente gerada pelo trabalho social” , porém no Brasil a forma como as pessoas estão distribuídas na mesa não é igual.
-a metáfora do photoshop: “Órfãos da crise do Estado mínimo, açoitados diariamente pelo noticiário econômico, soterrados nos escombros das finanças desreguladas –aqui e alhures– que argumento lhes resta, além do photoshop dos fatos na tentativa, algo derrisória, de ainda vender peixe podre como iguaria inexcedível?O mensalão e o photoshop de um tempo histórico- Saul Leblon
Elas podem ser percebidas também no decorrer dos artigos: Ao fazê-lo, o relator abastece a cartucheira conservadora com mais uma daquelas balas de prata de que se vale frequentemente a direita brasileira quando parte para o tudo ou nada, sem deixar tempo ao adversário ou ao eleitor para reagir.” O ‘mensalão’ é a ‘Miriam Cordeiro’ do Serra- Saul Leblon.

Folha de São Paulo

A Folha apresenta nas matérias analisadas duras criticas ao mensalão e ao governo PT, mostrando a condenação dos réus como troféus quando alguém é inocentado é tradado com certa ironia. Ao logo dos textos deixa em destaque as falas com fortes acusações, como por exemplo: “Macroleinquência governamental da cúpula do PT”, “Utilização criminosa do governo”, frases ditas pelo ministro Celso Mello. Com isso, ela coloca os personagens sempre na posição de culpados.

Pode-se perceber que na maioria das matérias aas palavras-chave: condenado, corrupção, acusado, caixa-dois, crime, formação de quadrilha, julgamento.

As fontes são em sua maioria oficiosas e trazendo a as falas dos personagens durante o julgamento. E não existe uma pluralidade de fontes. São mostrados símbolos com um box nos cantos das páginas apresentando cada político com um tópicos do que está sendo acusado e do que alega defesa.

Com base nesses elementos pode-se perceber na cobertura desse veiculo um enquadramento de conflito, pois como afirma Danilo Rothberg: “A cobertura da política se torna a cobertura dos bastidores da política. Proliferam as fontes em off e anônimas, e o jornalismo diário vai sendo construído com base não no que deve ser de fato apreciado por um cidadão de uma democracia madura, mas sim naquilo que os políticos supostamente estariam tentando esconder de sujeitos que, se não fosse a astúcia de jornalistas sempre dispostos a revelar as verdades sob a mesa, seriam inevitavelmente engabelados.”

Nenhum meio midiático é isento de imparcialidade, todos os jornalistas estão de alguma forma selecionando os fatos a serem contados, assim sempre haverá um enquadramento. Contundo, ainda é possível fazer uma cobertura ética e que ofereça ao leitor condições de criar um posicionamento embasado. Esse não tem sido o caso de grande parte da mídia brasileira que julga e condenada pessoas antes mesmo da justiça. E como foi possível perceber esse também não é o caso da Folha de São Paulo, que certa de sua grande influência nacional condena os réus do mensalão. Se o escândalo tivesse atingido o PSDB, e não o PT, de certo que a cobertura seria outra.

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