Posted by admin On novembro - 6 - 2012

Por Camila Maia, Cínthya Goulart, Isadora Faria e Rodrigo Pucci

O caso do Senador Demóstenes Torres tem sido pauta permanente em todos os veículos do país nas últimas semanas. Diante da importância e da repercussão desse escândalo, nessa análise utilizamos a versão online da Revista Carta Capital entre os dias 5 à 24 de abril de 2012 e a revista Veja da edição do dia 4 de abril deste ano, tendo em vista o que cada um desses dois veículos têm explorado sobre esse assunto.

Consideramos importante a análise dessas duas revistas, pois apesar de fundadas pelo mesmo jornalista, hoje assumem pontos de vistas distintos em relação à política brasileira em suma. E também pelo fato do diretor da sucursal da Veja de Brasília estar envolvido no escândalo entre o senador Demóstenes e o bicheiro Cachoeira. Como foi a cobertura dela sobre o assunto estando intimamente ligada a ele? E como outra mídia expôs essa situação.

A matéria da Veja, por Rodrigo Rangel, começa com uma apresentação do perfil de Demóstenes, que informa algumas de suas ações que estão sendo investigadas. Para isso, adotou-se uma fala irônica exemplificando os erros cometidos pelo senador para caracterizá-lo. No começo do texto, é perceptível a presença da opinião do jornalista, que atribui adjetivos aos acusados.

Na abertura temos algumas informações do caso e o porquê das investigações sobre o parlamentar e seu contraventor, mas são postas superficialmente e expressam a opinião do jornalista para com os envolvidos. É possível notar que a “informação de diagnóstico” poderia ser mais trabalhada nesse aspecto, para que ficasse claro ao leitor todas as ações do senador que o levaram a uma investigação da Polícia Federal.

São expostas as conversas telefônicas gravadas entre Torres e Cachoeira em abril do ano passado. Nessas conversas pode-se ter uma noção da relação entre os dois, o que deixa claro um enquadramento de jogo, relatando as interações e ações dos personagens.

No final da matéria, aparece um Box com escutas das ligações envolvendo o nome de Policarpo, um dos redatores-chefe da Veja. No intuito de validar a não participação do redator nos casos e a honestidade do jornalista com sua profissão, o trecho do diálogo revela: “O Policarpo nunca vai ser nosso.” Essa parte da reportagem foi usada como forma de defesa da revista, para tentar mostrar o trabalho sério de seu funcionário, ou seja, a política da casa.

Essa matéria em si faltou com os fatos concretos sobre as fraudes cometidas pelo senador. Nos dá a impressão que é um artigo de opinião, em que o jornalista faz comentários sobre alguns crimes cometidos pelo político. E o foco da matéria está atribuído a umenquadramento episódico, pois houve um direcionamento maior para algumas atitudes de Demóstenes e ao mesmo tempo tratou de forma superficial os acontecimentos que tiveram mais repercussão na mídia.

A Carta Capital é marcada por uma linha editorial assumidamente alinhada à esquerda política. Contudo, em suas publicações apesar da posição política, faz uma análise crítica dos acontecimentos nacionais. Quanto ao escândalo do senador foi bastante efusiva criticando a mídia que não faz o seu papel de informar, oculta informações e traz para o leitor uma idéia pronta apresentando somente um quadro episódico. Exemplo dessa crítica feroz se dá no editorial de Mino Carta que questiona que deveria ter também uma CPI na mídia, já que esta se orgulha de sua idoneidade, mas acaba fazendo exatamente o contrário. “Recheada de anúncios, a última edição da Veja esmera-se em representar à perfeição a mídia nativa. A publicidade premia o mau jornalismo. Mais do que qualquer órgão da imprensa, a semanal da Editora Abril exprime os humores do patronato midiático em relação à CPI do Cachoeira e se entrega à sumária condenação de um réu ainda não julgado, o chamado mensalão, apresentado como ‘o maior escândalo de corrupção da história do País’.”

Mino também defende em outro editorial a posição de sua revista quanto ao apoio à esquerda “(..) E aqui constato haver quem tenha CartaCapital como praticante de um certo, ou incerto, “jornalismo ideológico”. (…) Achamos demagógica e apressada a decisão de realizar a Copa no Brasil e tememos o fracasso da organização do evento, com efeitos negativos sobre o prestígio conquistado pelo País mundo afora nos últimos dez anos. Ah, sim, estivéssemos de volta ao passado, a 2002, 2006 e 2010, confirmaríamos nosso apoio às candidaturas de Lula e Dilma Rousseff. Se isso nos torna ideológicos, também o são os jornais que nos Estados Unidos apoiaram e apoiarão Obama, ou que na Itália se colocaram contra Silvio Berlusconi. Ou o Estadão, quando em 2006 deu seu voto a Geraldo Alckmin e em 2010 a José Serra. (…) Hoje estamos impavidamente decepcionados com o comportamento de muitos que se apresentavam como esquerdistas e despencaram do lado oposto, enquanto gostaríamos que a chamada Comissão da Verdade atingisse suas últimas consequências.” (Confira o editorial na íntegra pelo link:http://www.cartacapital.com.br/politica/demostenes-marconi-e-policarpo/?autor=42)

As matérias vêm comprovar a posição defendida por seu editor. Nas notícias da revista nota-se um quadro temático, pois apesar dos enquadramentos que são inerentes ao jornalista pela sua própria visão de mundo, pelo newsmaking e também pela linha editorial do veículo são apresentados vários pontos sobre o assunto. E assim como no texto de Danilo Rothberg a Carta defende o papel do jornalismo na formação democrática do país e assim fornecer informações que estimulem o leitor ao raciocínio e não seja como se pressupõe na teoria da agulha hipodérmica. Com isso, conclui-se que esse periódico semanal se aproxima mais da informação de diagnóstico do que o outro veículo analisado.

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