Posted by admin On novembro - 6 - 2012

Alexandre Anastácio, Filipe Barboza, Jéssica Clifton, Nara Bretas, Paulo Victor Fanaia, Tamara Martins

A idéia do grupo é analisar e levantar discussões em torno de como foram enquadradas as manifestações contrárias a comemoração do Golpe de 64, veiculadas no portal online do jornal O Estado de S. Paulo, estadao.com.br, no dia 29 de Março de 2012. A escolha dessa data não foi em vão, visto que nesse dia ocorreu grande parte dos protestos em todo o Brasil.

Na pesquisa feita dentro do portão estadao.com.br, foram encontradas – apenas – duas pequenas matérias informando o assunto: “Manifestação contra o Golpe de 64”. Esses materiais servem para reflexão de como o Estadão “enxergou” e enquadrou os protestos. A primeira matéria, intitulada, “Militares da reserva são cercados por manifestantes na Cinelândia, no Rio”, publicada às 17h46 e com atualização às 19h35, mostra claramente pelo seu próprio título a presença do enquadramento de conflito. A utilização de termos como “sitiados”, “cercados” e “alvo”, no texto transmite uma sensação de barbárie em plena civilização carioca. O descontrole dos manifestantes, a atuação de proteção da Polícia e a posição de vítima dos militares reservistas mostram a disputa dos agentes envolvidos e suas posições perante a situação.

A matéria comete vários deslizes em não contextualizar os fatos de forma adequada como, por exemplo, no momento em que escreve: “Homens que saíam do prédio eram hostilizados com gritos de ‘assassino’”. Não há, posteriormente, nenhuma explicação sobre os motivos desse coro.

Outro aspecto da notícia deixa a impressão de que o Estadão tomou posição perante o caso. Primeiramente, a matéria afirma que os ovos e as tintas jogadas nos militares da reserva vinham dos manifestantes. Mas, quando informa que um dos protestantes ficou ferido na manifestação, a matéria faz uso de uma frase mais inserta: “(…) atingido supostamente por uma pistola de choque (…)”. A distinção de tratamento entre a afirmação e a suposição pode colocar em xeque a isenção jornalística que deve ser um fator essencial no jornalismo. Nesse caso, a reflexão que fica, pegando o aspecto do enquadramento, é a seguinte: será que o uso do enquadramento de conflito nesse caso não foi proposital? No sentido de que é interessante usar esse recurso para o público ter a impressão que a manifestação foi, simplesmente, uma baderna e não é interessante sabermos sobre o contexto dos anos de chumbo que levaram a esses protestos? Pode ser uma “viagem” da nossa parte, mas não deixa de ser um questionamento viável.

A outra matéria encontrada no portal estadao.com.br sobre as manifestações contra a comemoração do Golpe de 64, no mesmo dia 29, se chama: “Protesto contra golpe de 64 termina com presos e feridos no Rio”. Publicada às 20h30, esse texto não tem as características tão emocionais do primeiro, mas peca em outros aspectos. Nele não há, mais uma vez, abrangência, aprofundamento e pluralidade necessária para uma abordagem ideal. Seu enquadramento fica mais próximo do episódico, em que o fato repercute a partir de traços mais extravagantes e sem grande importância. A nota se preocupa basicamente em resumir o conflito da matéria anterior.

Entretanto, ela tem um ganho em relação à primeira matéria. O jornalista utiliza a fonte dos manifestantes para tentar explicar um pouco dos motivos que levaram aos protestos. Não é nada profundo, se resume em duas pequenas falas, mas já é um grande avanço se lembrarmos que a primeira matéria não dá nenhuma voz aos manifestantes.

Após analisar e entender o enquadramento dessas duas matérias, várias justificativas podem ser dadas para as escolhas tomadas na construção de ambas. A primeira pode ser que realmente houve um conflito naquele dia e isso era a principal notícia a ser dada e ponto final. A segunda é que a internet é um veículo de rápida leitura, e, por isso, não se deve aprofundar tanto nos assuntos. Tudo bem, esses argumentos até fazem sentido. Mas, o fato é que, se fazermos uma pesquisa mais detalhada do assunto no site, vamos descobrir que não há nada mais além dos tumultos evidenciados.

O Estadão não pautou nada a respeito dos protestos que iriam acontecer em resposta à comemoração do Golpe Militar. Portanto, aquela desculpa de que o conflito era mais importante “naquele momento” não se justifica, pois, nos “outros momentos” antecedentes e, portanto sem a existência do conflito, o assunto foi completamente ignorado. Outra questão que devemos nos lembrar é que, na internet, podemos usar vários recursos para a expansão da informação. Sendo assim, a justificativa de que o texto tem que ser curto, pode ser rebatida com a possibilidade de uso de ferramentas como hiperlinks, vídeos e demais convergências. Ou seja, facilidades que podem complementar uma informação e/ou levar o público a outras leituras, mesmo com textos de poucos caracteres.

A abrangência da Manifestação pelo portal da revista Caros Amigos

Como exemplo do que pensamos e refletimos, encontramos no portal da revista Caros Amigos uma abordagem sobre a manifestação antes mesmo que ela ocorresse. Nessa matéria, intitulada “Manifestações contrapõem comemorações do golpe de 64”, falou-se das datas e locais de protestos no Rio, em São Paulo e em Campinas. Essa matéria contextualizou o leitor a respeito do Cordão da Mentira, grupo que organizou a manifestação de São Paulo, além de ter disponibilizado o Manifesto produzido pelos mesmos. Utilizou-se também de um vídeo em que o cineasta Silvio Tendler afirma que a ditadura o faz lembrar todas as coisas ruins que existem no país, e convoca a todos para a manifestação contra a Comemoração do Golpe de 64, no Rio. Logicamente, ainda assim não encontramos um primor de matéria, mas de qualquer forma, o exemplo é válido.

Material analisado:

Nosso grupo utilizou duas matérias para contextualizar criticamente a abordagem dos do portal online estadao.com.br, do Jornal O Estado de S. Paulo, no dia 29 de Março de 2012, a respeito das Manifestações contra as comemorações do golpe de 64. E também uma matéria do portal da revista Caros Amigos do dia 27 de Março, para mostrar pontos positivos que enxergamos.

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,militares-da-reserva-sao-cercados-por-manifestantes-na-cinelandia-no-rio,855126,0.htm

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,protesto-contra-golpe-de-64-termina-com-presos-e-feridos-no-rio,855177,0.htm

http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/noticias/2685-manifestacoes-contrapoem-comemoracoes-do-golpe-de-64

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