Posted by admin On maio - 14 - 2012

Por Bárbara Duarte, Lorena Costa e Tuanny Ferreira

A G Magazine, revista direcionada ao público gay masculino, está a 13 anos no mercado e traz ensaios de nudez em suas páginas. Ela é publicada mensalmente e a sua tiragem chega a 180 mil. A edição 160, disponível no site da revista*, tem como tema a 15ª Parada Gay de São Paulo. A análise desta edição mostra a necessidade de discutir a seguinte questão: a revista se dirige a um público ou cria o público a que se dirige?

Na capa, Daniel, ex-participante do reality show Big Brother Brasil, que é homossexual assumido, exibe o garoto fitness Santos 2011. É comum encontramos homens com certa visibilidade midiática e uma boa forma física estampando as capas e os ensaios de nudez. Eles exibem corpos firmes, bem trabalhados e são viris. A boa forma e os traços estéticos “perfeitos” fazem com que eles sejam idealizados e tidos como “sonho de consumo”, além de instigar no público o desejo de vê-los nus.

Os gays são estereotipados pela revista através do uso de perfis pré-determinados: os que possuem gestos e trejeitos espalhafatosos, linguagem composta por muitos jargões, fala satirizada e figurinos marcantes.

Não há matérias sobre a homoafetividade, mas sim um retrato do gay que se preocupa com a vida sexual ativa. Isso reforça a imagem, já estabelecida entre a sociedade, dos homossexuais como seres promíscuos. A sessão “Agenda do Gay” apresenta o perfil do que a revista entende como “gay moderno”. Nela, estão homossexuais que vão sempre à academia, se preocupam com o corpo e com a aparência, frequentam festas e boates e mantêm uma vida sexual ativa. A relação sexual está em quase todos os dias da agenda.

A publicidade e as propagandas estampadas nas páginas da revista são de boates, bares, casas de show LGBT, motéis, clínicas de estética, saunas, spas, preservativos, lubrificantes, lojas de roupas íntimas, entre outras. Esses anúncios mostram a preocupação do veículo em trazer informações sobre lazer e saúde para o público gay. Ainda assim, nas demais páginas, a G Magazine reforça o estereótipo promíscuo do homossexual e deixa claro que é direcionada a um público com alto padrão de vida.

A questão política e dos direitos dos homossexuais também possui espaço no veículo. O tema é tratado na forma de artigo de opinião, matérias e publicidade. Mas o conteúdo presente no restante da revista é totalmente contrário à intenção dessas questões políticas. A G Magazine não aborda nenhuma forma de relação amorosa entre os “gays modernos”, mas nessa seção mostra a luta pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, pela adoção de crianças e pela constituição da família. Porém, nas demais páginas, a revista não trata das relações familiares do gay.

Essas observações permitem afirmar que a Revista G Magazine, quando estereotipa o “gay moderno”, acaba sendo responsável pela criação de um público específico que compra seus exemplares. E essa segmentação pode trazer como consequência tanto o aumento do preconceito dentro do próprio grupo homossexual, quanto o reforço de uma imagem pejorativa do gay na sociedade.

*Versão online da revista disponível em: www.gmagazineonline.uol.com.br, acessado no dia 27/03/2012.

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