Posted by admin On maio - 14 - 2012

Por Aniele, Bruna Matos, Geraldo Adriano, Isabela Portela

A revista Playboy, criada nos Estados Unidos, foi trazida ao Brasil em 1975 em pleno período ditatorial. Chamava-se “Revista do Homem” e tinha como plano editorial divulgar fotos sensuais, entrevistas com personalidades, além de matérias sobre o universo masculino. É válido lembrar que a revista sofria constantemente com a censura que não permitia o nu artístico explícito. Em 1978, a revista no Brasil passou a se chamar “Playboy”, tal qual a sua originária. E, em 1980, o nu foi autorizado. Analisamos duas edições da revista: uma de maio de 2000 (n⁰ 298) e a outra de março de 2012 (n⁰ 442).

Em comum, as duas edições trazem a seção ‘Tira dúvidas’ (em que o leitor faz perguntas, de qualquer natureza, para a equipe da revista), matérias sobre moda e estilo masculinos, entrevistas (feitas, geralmente, por mulheres) e fotos eróticas de mulheres famosas. O espaço publicitário da revista é reservado, basicamente, a marcas caras e mundialmente famosas de roupas, perfumes, relógios, e, principalmente, carros, preservativos e bebidas. Revela-se, assim, que o enquadramento e a posição editorial da revista mantiveram-se constantes ao longo do tempo, reforçando-se o perfil masculinizante de seu público.

A revista trabalha majoritariamente com o estereótipo do homem-playboy: com muito dinheiro, é o tipo de homem que tem seus desejos de consumo (carros, bebidas, roupas, etc.) atendidos, assim como suas fantasias sexuais- em parte alimentadas ou saciadas pelos ensaios fotográficos. Dessa forma, a Playboy explora também a objetização da mulher; reportagens como “O Brasil das beldades- onde estão e como vivem as mulheres mais desejadas do país”, da edição de 2000, a constância, nas duas edições, de dicas sobre paquera e conquista e, principalmente o nu artístico demonstram como a revista constrói um discurso machista. Generalizando o comportamento masculino, de interesse apenas em carros e mulheres, a revista reforça a ideia de que estas são apenas objetos de conquista, quando não de ostentação.

O reforço do estereótipo do homem playboy-conquistador acaba por revelar traços históricos da sociedade brasileira como o patriarcalismo. Na época da casa-grande e da senzala, a mulher era destinada basicamente à procriação, apenas mais um membro da família que se organizava ao redor do pai. A mulher era, portanto, coisificada pelo machismo da sociedade colonial. As mulheres alcançaram a equiparação de muitos direitos (como o de voto, de trabalho, de acesso aos estudos), no entanto, é sabido que o preconceito contra a mulher ainda impera, mesmo que tacitamente, em muitas sociedades contemporâneas, inclusive na nossa. São enquadramentos como os da revista Playboy que demonstram padrões comportamentais e culturais ainda vigentes entre nós: nas edições da revista há uma mulher que ainda é “coisa”, ao passo que há ainda um homem que manda [tal qual no Brasil de outrora.

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