Posted by admin On dezembro - 30 - 2011

Por Lorena Silva, Maysa Souza, Pablo Gomes, Renata Torres e Thalita Neves

Resumo

O tema “Políticas Públicas de Comunicação” não é comumente pautado nos meios de comunicação. Esse fato implica em uma constante necessidade de espaço para se discutir como deve ser o tratamento de uma informação e os demais aspectos correlatos. O presente trabalho tem por objetivo apontar como essa temática é agendada na Revista Carta Capital através de uma análise de cinco edições do veículo.

Metodologia

Inicialmente, foram selecionados os subtemas referentes ao tema “Políticas
Públicas de Comunicação”: Direito à Comunicação, Economia da Comunicação,
Sistemas Públicos de Comunicação, Marco Regulatório e Movimentos de Resistência. Selecionados estes subtemas, fez-se uma leitura de todas as manchetes de cinco edições da CartaCapital, para identificar se tais assuntos foram agendados de maneira direta e clara e qual o espaço destinado à matéria.

Em seguida, realizou-se uma leitura aprofundada das cinco edições escolhidas, para identificação do enquadramento das matérias, uma vez que, entendemos que as questões relativas às “Políticas Públicas de Comunicação” não se encontram apenas no tema, mas também na maneira como os assuntos são abordados pela Revista. A análise seguiu algumas diretrizes: agendamento; fontes utilizadas nas matérias; gênero textual usado na abordagem do assunto; elementos de valorização (fotos, matéria de capa ou não, box, gráficos, chamada) e adjetivação.

Finalizou-se com a conclusão do grupo acerca de como a revista é construída, tanto do ponto de vista do agendamento dos assuntos, quanto do tratamento dado a cada matéria.

Introdução

É preciso entender que as questões referentes às “Políticas Públicas de Comunicação” não estão apenas nos textos que trazem esse tema em suas manchetes. Para além disso, as Políticas Públicas remetem a um modo de tratamento da informação, um compromisso que deve ser firmado entre Estado, jornalistas e público. As Políticas Públicas estão nas entrelinhas de tudo o que é escrito, falado, filmado ou fotografado, ainda que esse conteúdo não seja vinculado à mídia, pois o silêncio perante um acontecimento é provavelmente um dos maiores problemas que enfrentamos hoje.

Grandes conglomerados significam pequenas variações de pontos de vista que, quando limitados, geram uma visão restrita, seja do que acontece na nossa cidade, Estado, país ou no mundo inteiro.

Em relatório organizado pela UNESCO nos anos 80 do século passado são levantadas oito funções da comunicação: INFORMAR, socializar, motivar, discutir, educar, promoção cultural, entretenimento e integração. E, para que tudo isso funcione de forma idônea, é necessário garantir alguns direitos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo XIX, diz: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Por isso, a repetição de fontes, o enviesamento de matérias jornalísticas e o não agendamento de determinados assuntos nos remete a uma falta de responsabilidade com a informação. E levantam uma questão política que tenta proteger grandes empresários em detrimento de um direito assegurado pelo Estado e pela ONU.

Análise

Analisando a edição nº 660, de 24 de Agosto de 2011, da revista CartaCapital, no que diz respeito às “Políticas Públicas de Comunicação”, é relevante a matéria da seção “Memória”. Trata-se da “Comissão da Verdade”, referente ao Direito à Comunicação/Informação. Em pauta nos meios midiáticos desde o governo Lula, a comissão – que tem por objetivo “abrir os arquivos” da Ditadura Militar no Brasil – é tratada em forma de entrevista nas páginas 80, 81 e 82 da referida edição. Isso define, logo de início, a opção da Revista por expor um único ponto de vista.

A matéria-entrevista vem encabeçada pelo título “O joio e o trigo”, que é justamente uma das expressões utilizadas pelo entrevistado – Marco Antônio Barbosa – no decorrer da conversa. Com essa expressão, o advogado defensor dos Direitos Humanos atenta para a importância da Comissão da Verdade para o Brasil democrático. Com essa declaração, ele pretende salientar que a Comissão diz respeito aos militares, no intuito de separar o “joio” do “trigo”. Ou seja, através do direto do cidadão à verdade, os militares prestarão contas da Ditadura aos interessados, para que o “joio” finalmente se separe do “trigo”.

É altamente perceptível que, ao enfatizar o ponto de vista do entrevistado em relação ao tema, a Revista se mostra em prol da Comissão. Isso também é justificado no que tange às questões de tamanho e design da matéria: ela ocupa três páginas, contém duas fotos – uma delas traz o advogado em destaque, no encontro das páginas 80 e 81 – e, como já foi dito, destaca a declaração de Barbosa já no título da publicação. Outro fator intrigante é que a essa entrevista segue-se – propositalmente nas páginas 84, 85 e 86 – a matéria de Capa, “O Brasil de Dilma”, em uma análise do governo da presidenta que foi alvo da Ditadura.

“Quando as pessoas não percebem as políticas como consequências de escolhas e de compensações entre efeitos previsíveis, tendem a se relacionar de maneira superficial e difusa com o sistema político. E, se elas não dão sinais de que compreendem as opções envolvidas em cada conjuntura, isso apenas desestimula a responsividade (accountability) dos mandatários, que passam a apresentar suas bandeiras como panacéias, através de estratégias de marketing.” (ROTHBERG, Danilo; Jornalismo e Informação para Democracia: parâmetros de crítica de mídia; p. 27; Vitrine e Vidraças: Crítica de Mídia e Qualidade no Jornalismo; org. CHRISTOFOLETTI, Rogério; 2010)

A Revista CartaCapital, edição n° 663, do dia 14 de Setembro de 2011, apresenta três matérias destacadas no ponto de vista das “Políticas Públicas de Comunicação”. A matéria “O Frei e o Aborto”, do jornalista Rodrigo Martins, nas páginas 12 e 13, apresenta os problemas enfrentados pelo, até então Frei Dominicano Julián Cruzalta, em sua luta pelo direito da mulher sobre o seu corpo. Ao decorrer da entrevista, Cruzalta deixa claro que não é a favor do aborto, mas ressalta que a descriminalização diminuiria consideravelmente o número de mortes das latino-americanas em abortos clandestinos. A matéria expõe a falsa liberdade de expressão ao entrevistar um Frei que é perseguido pelo conteúdo de sua luta.  Analisando a matéria, percebe-se que a mesma apresenta apenas um ponto de vista, uma vez que a sua única fonte é o teólogo mexicano Cruzalta, alvo recorrente de cobranças da hierarquia eclesiástica. A matéria ocupa duas páginas com três fotos centralizadas, além de ilustrar um pequeno mapa do México.

“A insuficiência da notícia pode ser vista de diferentes maneiras, alicerçadas em distintos aportes teóricos, que ligam causas e conseqüências. Entre eles, destaca-se a literatura sobre o paradigma do enquadramento, que tem sido pródiga na tarefa de contribuir com explicações sobre as decorrências do conceito de notícia praticado pelo jornalismo comercial. De certa forma, a noção de enquadramento fornece aspectos para a produção de uma teoria unificada que pode ser tida como resposta parcial ao dilema colocado por Schudson (2000) a respeito da origem da informação jornalística.” (ROTHBERG, Danilo; Jornalismo e Informação para Democracia: parâmetros de crítica de mídia; p. 22; Vitrine e Vidraças: Crítica de Mídia e Qualidade no Jornalismo; org. CHRISTOFOLETTI, Rogério; 2010)

A matéria “Equívocos Bilaterais”, do colunista Mauricio Dias, na página 16, ressalta a necessidade de um marco regulatório para o jornalismo. A matéria é ilustrada com uma foto centralizada. Segundo arquivos do colunista, diferentes jornais noticiam o mesmo fato com dados incoerentes, como exemplifica: “’Reabertura do Museu de Arte de São Paulo – MASP’; O Globo: MASP reabre com mais polícia do que público e Folha: Na reabertura do MASP, sobra público e falta segurança.” (p.16). De acordo com Mauricio, a falta de regulação da profissão possibilita que diversos meios cometam equívocos sobre o jornalismo. Algumas tentativas para regulamentação são propostas pelos políticos, mas para isso, é necessário um conhecimento sobre a profissão para que tudo funcione. Isso nos faz perceber a “Necessidade de assegurar a competição entre veículos, de modo a garantir a diversidade de opiniões e interpretações a respeito de fatos controversos(…)” (LINS, Bernardo F. E; Análise Comparativa de Políticas Públicas de Comunicação Social; p.4; Estudo realizado em Janeiro de 2002).

A matéria “Cartilha de 140 caracteres”, de Felipe Marra Mendonça, páginas 68 e 69 da seção “Ideias Tecnologia”, relata um exemplo do uso das novas tecnologias dentro das salas de aula na França. A ideia é utilizar a rede social (Twitter) dentro das salas de aula para que os alunos aprendam a escrever corretamente de uma maneira diferente. Após essa curiosidade, Felipe Marra opina sobre a compra da unidade de telefonia móvel da Motorola pela empresa Google. A matéria apresenta uma figura centralizada para atrair a atenção do leitor. As novas tecnologias possibilitaram aos meios de comunicação a priorização da notícia, mas mantém a publicidade em destaque. A convergência dos veículos de comunicação resultou na relação entre todos os meios. Na revista, observamos um espaço destinado a abordagem da rede social “Twitter”. Existe uma metalinguagem, onde a mídia fala da própria mídia, resultante dessa convergência.

Na edição nº 664 da Revista CartaCapital, do dia 21 de Setembro de 2011, pode-se observar que algumas matérias se encaixam no tema proposto na análise. São elas: “Cartas Capitais – O frei e o aborto” (p.08), “Editorial: A mão que lava a outra” (p. 21) e “A Semana – José Serra e o submundo” (p. 23).

Na carta do leitor -“Cartas Capitais” – a revista publicou o posicionamento de um assinante sobre a matéria da edição anterior “O frei e o aborto”. O leitor se posiciona a favor a descriminalização do aborto. Para ele, todo cidadão tem direito a escolher quais serão seus atos.

No Editorial – “A mão que lava a outra”- Mino Carta discorre sobre o poder de agendamento da mídia, em contraposição ao poder político, especialmente em São Paulo. O jornalista comenta sobre a compra de veículos de comunicação por políticos, fato que gera uma concentração de poder – tanto midiático quando político – na mão dos mesmos. Para Mino Carta, enquanto o governo paulista dá, a mídia recebe e ao mesmo tempo diz ameaçada sua liberdade de chegar a verdade dos fatos.

A Semana – “José Serra e o submundo”- comenta sobre a contratação de uma empresa de espionagem pelo ex-governador de São Paulo. Com um enquadramento anti-Serra, a reportagem fala sobre a empresa “Fence”, especializada em segurança com prestação de serviços técnicos em comunicações. A Revista contextualiza a relação de Serra com a dita empresa e quais medidas pretende-se adotar para que tal ligação seja investigada.

A partir dos cinco elementos que podem ser enfatizados na narrativa jornalística (palavras-chave, metáforas, conceitos, símbolos e imagens) se percebe o enquadramento da revista. A CartaCapital, apóia, declaradamente, os governos de esquerda do Brasil. Esse fato é perceptível em toda a revista, inclusive pela escolha das matérias da edição. O enquadramento anti-direita também pode ser observado na publicação, especialmente em seu Editorial, que faz uso de muitas metáforas, conceitos, símbolos e palavras-chave. O uso de bonecos dos políticos citados também é feito pela revista, que se utiliza de fotos, onde os ângulos dos personagens não são favorecidos.

Pode-se encontrar nas circunstâncias empíricas os seguintes quadros: quadros de conflito; políticos como eternos personagens de disputa,  e quadros de jogos; políticos como agentes movidos unicamente por estratégias competitivas. Não se nota, claramente, quadros episódicos, pois as reportagens da CartaCapital, se diferenciam por tratar os temas de forma aprofundada. Sendo assim, o enfoque “mídia e democracia” e “mídia e política” foram encontrados na revistas, caracterizando o tema “Políticas Públicas de Comunicação”, que é tratado de maneira subjetiva pelo veículo. Encontra-se claramente tais temas no Editorial e outras seções de opinião, que se distinguem pelo uso de conceitos, metáforas, símbolos e palavras-chaves. A Carta trata o tema com certa liberdade e é um dos únicos veículos de comunicação a se dedicar ao tema abordado.

“Um enquadramento (framing) é construído por meio de operações como seleção, exclusão ou ênfase de determinados aspectos e informações, compondo perspectivas gerais para a compreensão de acontecimentos e situações cotidianas. É uma idéia central que organiza a realidade a partir de certos eixos de apreciação. Gamson e Modigliani (1989, p. 3) vêem os enquadramentos como “pacotes interpretativos” que conferem sentido a um assunto. Eles podem materializar-se tanto na ótica dos próprios produtores de informação, que assim os repassam implicitamente na organização de uma matéria jornalística, quanto na própria notícia. Desta maneira, podem tanto ser fruto de manipulação deliberada (o que vai ao encontro da perspectiva da economia política da comunicação como fator de origem da notícia), de valores profissionais de newsmaking ou de componentes culturais.” (ROTHBERG, Danilo; Jornalismo e Informação para Democracia: parâmetros de crítica de mídia; p. 23; Vitrine e Vidraças: Crítica de Mídia e Qualidade no Jornalismo; org. CHRISTOFOLETTI, Rogério; 2010)

A edição nº 666 da CartaCapital, de 05 de Outubro de 2011, traz o Editorial e a seção “Ideias” que, indiretamente, aludem ao tema “Políticas Públicas em Comunicação”. O Editorial, intitulado “Ecos do terror de Estado – Saberá ouvi-los a dita Comissão da Verdade?”, retoma episódios acontecidos durante a época da ditadura no Brasil. Mino Carta exige, durante todo o texto, uma reflexão acerca do assunto: como catalogar esses episódios? O que aconteceria se certas bombas explodissem conforme planos dos terroristas do Estado? Qual seria o real número de mortos pela ditadura? Porém, a maior crítica proposta por Mino se volta para a aprovação da Comissão da Verdade. O autor coloca em dúvida se sua criação é legítima e se conseguirá atingir seus objetivos, já que teme que “a chamada Comissão da Verdade, que acaba de ser aprovada pelo Congresso, seja de fato destinada a perpretar outro gênero de atentados, contra a memória e a história do País.” (p.18). Mino Carta preocupa-se em debater a validade de uma comissão que pretende dar direito a informações de documentos oficiais desse período a toda sociedade.

O artigo “O julgamento da memória”, da seção “Ideias”, traz novamente como assunto a Comissão da Verdade. Já de início, opina que “é um equívoco decretar o fracasso antecipado da Comissão da Verdade” (p.74). Primeiramente, deixa claro o posicionamento da presidenta Dilma Rousseff quanto a Comissão, esclarecendo seu apoio, declarado em pronunciamentos, inclusive na abertura da reunião da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Para Nilmário Miranda, autor do artigo, a criação da Comissão Nacional da Verdade “é mais um passo na construção da nossa vigorosa democracia, com a mesma importância da Lei da Anistia de 1979, que apressou o fim da ditadura…”(p.74). O autor propõe que o tema direito à memória e às informações, ou à verdade, é necessário. Porém, em seguida, critica a mídia, que “não contribui para o esclarecimento da sociedade com a difusão de críticas baseadas em inverdades”(p.74). Seu objetivo ao longo do artigo é esclarecer mentiras ou mitos que estão sendo espalhados à sociedade antes mesmo da validação da Comissão da Verdade.

Pode-se dizer que o tema “Políticas Públicas de Comunicação”, mesmo que de forma indireta, tem espaço nessa edição da CartaCapital. A Comissão da Verdade, que se refere ao direito à comunicação/informação, é tratada tanto no editorial quanto na seção “Ideias”, em forma de artigo. O tema não é valorizado com ilustrações, mas pelo gênero textual utilizado. São dois textos de gênero opinativo, por isso não buscam tanto esclarecer o assunto ao leitor, mas sim deixar explícito um ponto de vista. Assim, tanto no editorial quanto no artigo, a revista se mostra em favor da Comissão. Como são opinativos, não fazem uso de outras fontes.

Ao analisar a edição nº 669, de 26 de Outubro de 2011, da Revista CartaCapital, uma matéria chama a atenção quanto ao seu tema. “Não é só na China” trata de um caso de censura na França, onde a constituição não garante a liberdade de imprensa e/ou de livre circulação de informação, abrindo brechas para que os casos sejam julgados isoladamente.

Em um box de quatro colunas, que ocupa toda a primeira metade da página 66 e uma coluna da página 67, Felipe Marra Mendonça faz uma comparação da constituição dos Estados Unidos e da França. A matéria mostra a fragilidade das leis francesas, assim como compara o caso com outro da Arábia Saudita e revela o interesse da Revista em dar um panorama mundial da legislação que rege a circulação de informação.

Apesar de carecer de uma reflexão mais aprofundada, a matéria traz um conteúdo denso, mas de forma clara e direta, já que se trata de uma produção factual. O que mais chama a atenção, no entanto, é a matéria ter sido vinculada à seção “Tecnologia”. Uma vez que trata de um site que hospeda vídeos de policiais cometendo abusos, poderia ser veiculada à seções ligadas à política ou mundo.

Por se tratar de algo factual, não é possível encontrar elementos de valorização no texto escrito, tampouco há chamadas dessa matéria na capa ou em qualquer outro lugar da revista. Apenas um foto de um computador que ocupa 14 das trinta e duas linhas de uma das colunas do texto.

Outros textos também chamam a atenção: a reportagem das páginas 34 à 36, “Reação à Paranoia”, que fala sobre o “Manual de Campanha contra Inteligência do Exército”; “Parcerias para inovar”, que trata de um evento organizado pela própria Revista em parceria com a Revista Inova para otimizar a relação entre empresas e universidades, páginas 40 e 41; “A globalização dos Indignados”, que trata dos protestos contra o neoliberalismo, páginas 52 à 55; e “É o fim ou o começo?” que trata da morte de Kaddafi.

Não apenas pelo conteúdo, mas principalmente pela forma que são escritos e o que representam. Levantam um debate sobre questões políticas do Brasil e do mundo de forma objetiva e com posições claras. A CartaCapital mostra, não apenas nessas matérias, mas em todo o seu conteúdo, a defesa por um Estado mais justo e transparente. Isso fica claro quando a Revista questiona o papel de um “Manual de Campanha contra Inteligência do Exército”, que investiga pessoas e empresas, dentro de um Estado democrático. Ou quando elogia a presença da presidente Dilma em um evento sobre educação e geração de tecnologia.

Conclusão

As cinco edições da revista CartaCapital analisadas apresentaram o tema “Políticas Públicas de Comunicação” em sua abordagem. Nem sempre esse tema esteve claro, mas sim implícito, exigindo uma leitura mais detalhada da matéria para essa constatação.

“Quando focalizamos as revistas – veículos para os quais estamos trabalhando com o universo total de conteúdos publicados no período – alcançamos a média de 0,43 textos/semana ou praticamente um a cada 15 dias. Se subtrairmos dessa conta o semanário Carta Capital – que deu maior destaque à cobertura sobre as políticas de comunicação –, essa média se altera para um texto ao mês.” (Mídia e Políticas de Comunicação; Pesquisada realizada pela ANDI com o apoio da Fundação Ford; 2007)

A maioria das matérias em que se encontra o tema “Políticas Públicas de Comunicação” são enquadradas no gênero “opinativo”. Desse modo, a CartaCapital emite sua opinião acerca do assunto, sendo observado o seu viés político.

O tema “Mídia e Democracia” pôde ser encontrado no que se refere ao controle social dos veículos, a democratização da comunicação e o controle exercido pelo Estado nos meios. Como exemplo: as reportagens relacionadas à “Comissão da Verdade”, o editorial de Mino Carta sobre o controle da mídia existente no Estado de São Paulo, na coluna de Mauricio Dias referente ao marco regulatório. O tema “Mídia e Política”: discute as relações midiáticas e políticas encontradas na revista CartaCapital. Exemplificando: a matéria sobre José Serra e as empresas de espionagem, a reportagem “O julgamento e a memória” e novamente as matérias sobre a Comissão da Verdade.
As “Políticas Públicas de Comunicação”, geralmente, não são um assunto agendado pelos veículos de comunicação. O tema é complexo e não pertence a uma editoria fixa, pois envolve questões políticas, econômicas, culturais. Além disso, existem poucos profissionais especializados no tema no mercado. Os veículos de comunicação tem seus interesses subjugados às “Políticas Públicas”, o que torna difícil o tratamento do assunto.

“Poucas pessoas são especializadas e têm paciência para lidar com essa temática. Geralmente, é uma cobertura na qual é preciso ouvir dezenas de pessoas para que se consiga escrever com propriedade. Nas revistas semanais, por exemplo, acho que ninguém conhece a fundo o assunto. A outra razão é que quase todos os veículos têm interesses envolvidos nessa discussão, o que acaba dificultando que o assunto seja abordado objetivamente. O jornal Estado de S.Paulo, por exemplo, pode até cobrir o tema, mas irá levar em consideração o fatode ter uma rádio e uma emissora de televisão que não consegue colocar no ar porque a Net [empresa de TV a cabo que pertence às Organizações Globo] não deixa.” (SOUSA, Ana Paula; subeditora de cultura da CartaCapital; Mídia e Políticas de Comunicação; Pesquisada realizada pela ANDI com o apoio da FundaçãoFord; 2007)

Nos últimos anos, o jornalismo se transformou em um conglomerado de mídias, que se baseiam em seus próprios interesses. Sendo assim, a CartaCapital se caracteriza por não pertencer a nenhum desses conglomerados e não possuir qualquer interesse envolvido, portanto a Revista não limita seus conteúdos.

“(…) por não termos relação com nenhum grande conglomerado de mídia, não há o medo de atingir algum interesse. Ou seja, não há outros interesses envolvidos, então isso nos dá liberdade de tratamento ao tema. Algumas vezes, as sugestões de pauta partem dos próprios repórteres. Mas a revista foi percebendo que nenhum veículo cobre sistematicamente o assunto, então este é um espaço que a Carta Capital conseguiu ocupar.” (SOUSA, Ana Paula; subeditora de cultura da CartaCapital; Mídia e Políticas de Comunicação; Pesquisada realizada pela ANDI com o apoio da FundaçãoFord; 2007)

Conclui-se que os veículos de comunicação são os principais impulsionadores das atuais democracias. A mídia tem o poder de agendar os assuntos que serão pautados pela sociedade. Portanto, as “Políticas Públicas de Comunicação” são um assunto de extrema relevância e que muitas vezes são ignorados pelos meios. A CartaCapital trata da temática, ao mesmo tempo em que emite opinião sobre tal. Fato esse, importante para o esclarecimento da sociedade sobre o que diz respeito ao tema: Marco Regulatório, Sistema Público de Comunicação e a regulação da mídia pelo Estado.

“A atenção não deve se restringir apenas ao jornalismo – segmento da comunicação responsável pelo provimento de informações factuais sobre o mundo –, cuja influência nos processos políticos de curto prazo é evidente. É importante reconhecer que os outros produtos difundidos pela mídia, frequentemente englobados sob o rótulo de “entretenimento”, também possuem importância política. Eles igualmente são vetores de visões de mundo e de valores que o público consome, contribuindo assim para moldar as formas pelas quais os indivíduos se compreendem e se situam na sociedade.” (Mídia e Políticas de Comunicação; Pesquisada realizada pela ANDI com o apoio da Fundação Ford; 2007)

Bibliografia
SOUSA, Ana Paula; subeditora de cultura da CartaCapital; Mídia e Políticas de Comunicação; Pesquisada realizada pela ANDI com o apoio da FundaçãoFord; 2007
ROTHBERG, Danilo; Jornalismo e Informação para Democracia: parâmetros de crítica de mídia; p. 23; Vitrine e Vidraças: Crítica de Mídia e Qualidade no Jornalismo; org. CHRISTOFOLETTI, Rogério; 2010
LINS, Bernardo F. E; Análise Comparativa de Políticas Públicas de Comunicação Social; p. XXX; Estudo realizado em Janeiro de 2002

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