Posted by admin On setembro - 23 - 2011

Por João Felipe Lolli, Kleiton Borges, Nathália Barreto, Pedro Fernandes e Rafael Camara.

No dia 11 de setembro de 2001, o mundo parou pra ver o que a imprensa, hoje, chama de “o maior ataque terrorista de todos os tempos”. Duas da torres mais altas do mundo, o World Trade Center, foram atingidas por dois Boing 767 em um curto espaço de tempo. Menos de 2 horas depois, ambas despencaram e se tornaram uma imensa cortina de poeira e fumaça que levariam dias para se dissipar. Mais tarde, outro avião atingiu o Pentágono, a sede do poder militar norte-americano. E um quarto avião que tinha como alvo o Congresso Americano caiu em zona rural.

O que mais parecia um roteiro de cinema de Hollywood, era uma dura realidade que permaneceu nas capas de jornais e revistas do mundo todo durante meses. O mundo inteiro começou a viver em um clima de medo e temor a novos ataques e inúmeras questões a respeito foram levantadas pelas grandes mídias.

Hoje, 10 anos depois, muitos jornais e revistas voltaram a colocar o assunto em pauta. A edição 2233 da revista Veja, por exemplo, deu um grande destaque ao assunto. Em uma reportagem especial feita por uma série de repórteres, ela dedicou 30 páginas para relembrar seu leitores e levá-los a uma série de apontamentos e desdobramentos ao longo de uma década.

A revista começa com um prefácio explicando a origem do fundamentalismo islâmico, que levou Osama Bin Laden a liderar os ataques naquele dia. Nas páginas seguintes, um pouco da história dos atentados e dos personagens que nele participaram.

A revista, como é de costume, apresenta uma diagramação muito bonita, apostando em grandes imagens e infográficos para explicar ao leitor tudo relativo ao assunto. Não há dúvidas de que a revista mais lida do país prima por um projeto gráfico de excelente qualidade que, aliada ao texto, torna a leitura mais agradável.

O trato ao assunto, porém, apresenta falhas. A revista Veja, assim como grande parte dos veículos de comunicação, sobretudo a Globo, aponta os EUA como única vítima do ataque terrorista de 11 de setembro. Apenas a entrevista concedida pelo professor Steven Weber à repórter Tatiana Gianini trouxe uma voz que dê ao leitor elementos que o propiciem uma discussão reflexiva sobre o atentado. Por outro lado, quando a revista traz as guerras do Afeganistão e do Iraque, ela aponta que na primeira os EUA estavam certos e, na segunda, errados. Uma revista formadora de opiniões como a Vejaperdeu a oportunidade de discutir mais sobre o assunto. Mostrar aos seus leitores os possíveis motivos que fizeram Bin Laden jogar dois aviões sobre o WTC. Se aprofundar nos problemas do oriente médio e tentar entender suas culturas e suas crenças. Dizer que “guerras necessárias são as que envolvem interesses nacionais vitais e a falta de alternativas ao uso da força militar para protegê-los” é apoiar que um país invada outro, mate milhares de civis e gaste bilhões de dólares para capturar apenas um homem.

Ao invés de promover uma discussão mais do que necessária para uma possível pacificação entre ocidente e oriente, a mídia prefere, muitas vezes, acirrá-las. Árabe virou sinônimo de terrorista e países como Iraque e Afeganistão viraram imensos campos minados onde, a qualquer momento, um homem-bomba pode se explodir em nome de sua crença. Mas que crença é essa que diz que um homem que tira sua vida e de várias outras pessoas irá para o paraíso? Isso a Veja não disse nessa edição.

“A grande imprensa tem sido majoritariamente submissa e acrítica com relação aos interesses do governo norte-americano, reproduzindo a lógica expansionista e imperialista, ajudando a consolidar o suposto direito dos EUA de intervirem pela força, para combater o “comunismo”, o “terrorismo” ou qualquer outra resistência que aquele país considere como “perigo” à sua dominação. A imprensa tem um papel específico, que é o da sistemática propaganda no sentido da manutenção ‘de um mundo de má distribuição de renda e de importantes conflitos de interesse de classe’”. (HERMAN, E. S. e CHOMSKY, N. A manipulação do público: política e poder econômico no uso da mídia. São Paulo, Futura, 2003. p. 61. )”

Outras coberturas trataram os 10 anos do atentado de uma maneira diferente. A cobertura da CartaCapital, por exemplo, foi mais reflexiva. A revista evitou recontar a historia dos atentados, buscando levantar os motivos que levaram a maior potencia econômica da época, os EUA, a serem alvejados por um ataque de grandes proporções. Em reportagem assinada por Wálter Maierovitch, foram elencados vários “sinais” de que a organização comandado por Osama bin Laden estava planejando um ataque aos EUA. Mas não um ataque que tenha como único objetivo tirar a vida de seres humanos, e sim de mostrar aos islâmicos e a todo mundo que é possível atingir o inatingível, ferir o imortal.

A prova de que outra cobertura é possível é visível na revista Super Interessante que, assim como a Veja, também é da editora Abril e buscou um novo olhar sobre o tema. Ao invés de Word Trade Center, fundamentalismo islâmico e Osama Bin Laden, a revista preferiu uma análise diferente mostrando o que mudou em 10 anos graças aos atentados que muitas vezes nós nem percebemos (confira no Box abaixo).

11/09 na Super Interessante, outro produto da Editora Abril

A revista Super Interessante, da Editora Abril, trouxe em sua edição 295, do mês de setembro, a matéria “11 de setembro 10 anos depois”, com seu foco típico, sem apelo político e com dados cotidianos usados a partir de outro olhar.

O subtítulo da matéria traz o seguinte conteúdo: “O ataque terrorista contra os EUA chocou o mundo e deu origem às guerras do Afeganistão e do Iraque. Mas também ajudou muita gente a comprar casa própria, mudou a programação dos cinemas e fez a alegria de banqueiros, nudistas e até de fabricantes de talheres. Veja quais são os efeitos menos conhecidos – e mais surpreendentes – dos atentados de 11 de Setembro.”

Este subtítulo traz uma prévia bem clara do conteúdo da matéria. Como é de praxe da Super Interessante, o tema mais comentado do momento foi analisado a partir daquilo que alterou em nossas vidas sem sabermos que estava relacionado com aquele tema específico. Algumas análises mais óbvias que outras como, por exemplo, o tema terrorismo ter ficado em alta nas pautas do cinema, mas algumas mais bizarras como o apoio dos nudistas em relação aos aparelhos raios-X dos aeroportos com capacidade de despir as pessoas. Além de “fazer um feijão com arroz” bem feito, como relacionar a crise de 2008 com o atentado das torres gêmeas.

O grande ponto para a revista nessa cobertura do 11 de setembro não está em grandes informações ou furos de conspirações mirabolantes, mas em saber usar um tema bem comentado e, ainda assim, manter sua personalidade, dando aos seus leitores o produto que eles esperam.

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