Posted by admin On novembro - 23 - 2010

Em uma mesa em que vigorou militância, consciência e ecologia, o Fórum das Letras encerrou sua edição de 2010 com uma figura singular: o célebre Leonardo Boff, autor de 82 livros e que se considera um “agitador cultural”. O momento também foi compartilhado com a mediadora Nazareth da Fonseca e com o escritor e poeta Mia Couto.

Em relação a Mia Couto, vindo de Moçambique, a mesa perdurou em torno de assuntos como militância e poesia, coisas aparentemente dicotômicas, somadas a ecologia; algo que pode se fazer mais estranho ainda aos olhos de quem lê esse humilde texto. Todavia, os elos se fizeram em um mar de coesão. O escritor emendou-os com precisão e apreço.

O primeiro elo se dá quando Mia contou como foi aceito em um grupo de militância política em seu país. Havia um teste. Ele consistia em contar a própria história de vida – demonstrando como ela era sofrida. Era essa sua prova, a qual, inclusive, no momento em que ouviu sobre ela, pensou: “estou reprovado”. Na sua visão, não havia sofrido. Mas, para sua surpresa, o resultado foi outro. Quando lhe perguntaram sobre as agruras de sua existência. Respondeu: “sofri, porque vi sofrer”. Perguntaram-lhe se era poeta. Disse que sim. Admitiram-no. A militância em torno da ecologia veio depois, pois além de escritor também é médico e biólogo. Assim, as paixões pelas ciências da natureza e pela escrita se juntam.

Boff tem características parecidas com Mia Couto, exceto pelo fato de não ser poeta, pelo menos não oficialmente. O grande filósofo falou de coisas grandes, disse que o homem estava em guerra contra a Terra e que ela o retribuirá com furor. E assim proclamou o Apocalipse. Mas também proclamou a salvação. E a salvação está no próprio homem. Este precisa entender, segundo Couto e Boff, que não deve salvar o planeta, mas a si mesmo. Pois o planeta continuará sua existência, a vida não.

Os dois grandes homens, o poeta e o filósofo, quiseram angustiar a todos, pregando a salvação do mundo. O que parece uma contradição. Mas não é. Quiseram contagiar a todos com responsabilidade. Com uma noção de que o consumo não pode continuar predatório, de que a Terra está doente, com febre e que o nome da doença é humanidade.

A mesa foi reveladora. Ao término, os fãs de Boff, procuraram-no para conversas, fotos e autógrafos. A sua mensagem e de Mia Couto realmente foram inspiradoras. Os seus seguidores que o digam. Torçamos para que se lembrem de suas palavras e que as coloquem em prática.

Fábio Seletti, Mateus Fagundes, Marcelo Quintino, Wagner Baldez, Simiao Castro

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