Posted by admin On outubro - 6 - 2010

O jornal Ponto Final, de grande circulação na cidade de Mariana, apresenta predominantemente o enquadramento episódico nas notícias sobre políticas publicas. A análise de três notícias retiradas das seções “Cidades”e “Saúde” comprova esta estratégia de texto. São elas: “Hospital desmente corte de convênios”; “Câmara inaugura centro de atendimento ao cidadão” e “Remédios abandonados no distrito de Furquim”.

A primeira revela a situação dos convênios que a prefeitura de Mariana mantinha com os hospitais Monsenhor Horta e TOMHOS para atendimento da população local. A informação do corte de convênios foi enviada por leitores ao site do jornal, que se encarregou de apurar os fatos. Na apuração foi ouvida a assessoria de comunicação dos hospitais e publicou, junto à notícia, uma nota do Hospital Monsenhor Horta. A matéria, em tom de denúncia, se atém a comentar o possível corte de convênios, e não se preocupa em desvelar as causas e as consequências da informação. É uma notícia de constatação de um fato, que não se propõe a discutir o assunto.

“Câmara inaugura Centro de Atendimento ao Cidadão” trata da inauguração do Centro de Atendimento ao Cidadão (CAC) e cita apenas uma das funções que o centro exerce. O texto enfoca apenas aspectos circunstanciais e não propõe uma discussão das atividades do CAC. A inauguração é tratada como um acontecimento na cidade, bem parecido com a divulgação de algum monumento ou festividade em Mariana.

A última matéria analisada, “Remédios abandonados no distrito de Furquim”, relata o episódio de “amostra grátis” que foram abandonados na estrada que leva aquele distrito. Não menciona o desenrolar da questão e nem as causas do abandono. Exibe o que aconteceu por meio da fala da Gerente da Vigilância Sanitária, Vera Lúcia Fernandes Vieira, que esclarece muito pouco sobre o motivo de os medicamentos terem sido abandonados.

As três notícias seguem a mesma perspectiva: são pequenas, de no máximo seis parágrafos pequenos e não há um aprofundamento das questões, nem mesmo em termos contextuais. Há somente uma apresentação do tema, em tom de denúncia em duas delas. Apresentam duas ou três fontes oficiais para esclarecer os detalhes dos casos e dar alguma justificativa que, na maior parte das vezes, não esclarece as razões dos acontecimentos. Dessa forma, o enquadramento episódico, que limita o texto a reportar os aspectos circunstanciais das notícias, aparece nos três textos revelando superficialidade nas matérias.

Perspectiva do enquadramento:

Danilo Rothberg apresenta cinco tipos de enquadramentos que podem ser encontrados nos textos midiáticos: episódico, de jogo, estratégico, de conflito e temático.

O episódico está relacionado a comentários circunstanciais de fatos ou ações. É definido como o “que mal tocam nas questões propriamente políticas do fato, ligadas à complexidade das escolhas envolvidas em determinada opção a ser adotada ou rejeitada pela gestão pública, e apenas acentuam aspectos circunstanciais dos fatos enfocados.” (ROTHBERG, 2007, p. 4).

O de jogo é aquele em que demonstram as chances de vitória ou derrota. O texto tem enfoque na competição e não se posiciona a respeito dos desafios, obstáculos e perspectivas reais dos candidatos. Para demonstrar como o enquadramento de jogo funciona, Danilo Rothberg expõe qual a pergunta que motiva esse tipo de cobertura: “como a campanha do candidato pode ajudar ou atrapalhar suas chances de vitória?” (2007, p. 4).

No estratégico, as ações aparecem como premeditadas, uma estratégia com objetivos bem específicos. O de conflito se atém sobre o grau de disputa envolvido num determinado tema.

Por fim, o temático é visto como uma superação dos outro quatro tipos de enquadramento. “Os temas em questão são os aspectos concretos de políticas públicas envolvidas nas escolhas eleitorais” (ROTHBERG, 2007, p. 5).

Referência Bibliográfica:

ROTHBERG, D. . Enquadramento e metodologia de crítica de mídia. In: 5º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, 2007, Aracaju. Anais do 5º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, 2007.

Lorena R. P. Caminhas

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