Posted by admin On setembro - 14 - 2016

Sabemos que a grande mídia brasileira, carrega consigo fama de ser tendenciosa e sensacionalista. Por isso, o presente texto pretende analisar de forma sucinta, a cobertura da mídia televisa e impressa, sobre o incêndio na boate Kiss, localizada na cidade de Santa Maria (interior do Rio Grande do Sul). O caso se deu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 e deixou 231 mortos e ao menos 129 pessoas feridas. Tratava-se de uma festa promovida pelos estudantes da Universidade Federal de Santa Maria. Dada a dimensão da tragédia, as notícias foram destaques da mídia brasileira, que enviou dezenas de repórteres à cidade, dedicando assim, um espaço incessante nas programações e jornais diários. Desta forma, os veículos e emissoras que tiveram tal comportamento, foram incisivamente criticadas.

De modo geral, as coberturas foram nomeadas como insensíveis e sensacionalistas. Se você procurar por “coberturas sensacionalistas do incêndio na boate Kiss”, constatará que existem inúmeros artigos e trabalhos de conclusão de curso/mestrado/doutorado, feitos por estudiosos da comunicação, acerca da midiatização do caso em questão. A exploração da mídia se mostrou imensamente grotesca, quando os programas de entretenimento, abordavam matérias em relação à dor das famílias das vítimas.

Não seria diferente com os três maiores jornais do país, O Globo, a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo, que trataram da tragédia em suas chamadas de capa. A dificuldade da linguagem em expressar o sentimento despertado pela tragédia, levou o jornal O Globo, por exemplo, a publicar na capa do jornal de segunda-feira, 28 de janeiro, um poema de um escritor gaúcho sobre o acontecimento.  As três maiores emissoras de TV Globo, Band e Record, também marcaram o território do sensacionalismo com suas dezenas de repórteres, câmeras e apresentadores para cobrir o acontecimento. No caso dos produtos Globo SAT, nem os canais privados das empresas Marinho, ficaram de fora, estendendo o caso a todo momento em seus noticiários. Para entendermos a dimensão da exploração do caso, William Bonner, diretor do Jornal Nacional, foi enviado um dia depois do incêndio à cidade gaúcha para apresentar de lá o programa da segunda-feira. O colunista Fabio Maksymczuk, do Portal da Imprensa, fez questão de destacar as coberturas realizadas durante o domingo da tragédia. O canal SBT, que pouco explora seus produtos jornalísticos, dedicou parte de seus programas de auditório no domingo (Domingo Legal e Eliana) ao acontecimento. Já a TV Record interrompeu diversas vezes programas dominicais como o Programa do Gugu e o Domingo Espetacular para dar notícias e a Globo mudou o roteiro do programa de variedades Fantástico para dedicar mais tempo ao assunto

Em meio à cobertura massiva da tragédia, não faltaram críticas aos veículos de comunicação, principalmente pela cobertura incessante e nem sempre informativa do caso. Para o jornalista e sociólogo Aurélio Munhoz, da revista Carta Capital, a cobertura midiática do incêndio pode ser classificada como uma “espetacularização da notícia”, na qual “o que se deseja é, tão somente, vampirizar as vítimas das tragédias.” Diante desta breve análise, podemos concluir que muitas vezes, o compromisso da grande mídia brasileira é com a audiência. O jornalismo pelo espetáculo e não pela informação. A competitividade para ver quem dá mais para o espectador ou leitor. As informações exclusivas ou os aclamados “furos de reportagem”, fazem parte da rotina dos editores, jornalistas e repórteres dessas redações. Diante desse tipo de cobertura podemos afirmar que “era uma vez o jornalismo.”

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