Posted by admin On agosto - 18 - 2016

Por Luísa Campos

Alerta: Esta crítica não é sobre uma única cobertura midiática. É uma análise sobre todas as coberturas, reportagens e notícias até hoje realizadas sobre homofobia, pautadas no erro de enquadramento, na conivência com um discurso de ódio e na omissão do papel fundamental do jornalismo: informar.

Ho.mo.fo.bi.a. ”Substantivo feminino. Repulsa ou preconceito contra a homossexualidade ou homossexuais”. (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2016). A definição de homofobia é popularmente conhecida como o ódio aos homossexuais. Tal ódio se manifesta de maneira latente em todos os graus de nossa sociedade. Homofobia nas escolas, nas universidades, no trabalho, na família, na política. Porém, seu significado encontra dificuldades para ser entendido. A dimensão e a força de um ataque homofóbico tenta ser justificado de várias maneiras, mesmo um crime de ódio não sendo justificável. A homofobia é um dos frutos de uma sociedade machista, e a mídia brasileira é uma das peças fundamentais que sustentam tal discurso machista e misógino, complementando os ingredientes para a manutenção da homofobia no Brasil.

O ódio contra homossexuais não pára de se fortalecer no Brasil. De acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB), entidade que luta pelos direitos LGBTS no país e monitora o número de mortes veiculados pela mídia, quase 1.600 pessoas morreram nos últimos quatro anos. No mais novo levantamento do GGB, um LGBT é morto quase todos os dias.

Homofobia virou uma palavra vaga. Sabe quando se fala repetidas vezes uma palavra e ela se torna estranha aos ouvidos, estranha até para o entendimento do cérebro? Homofobia. Muito cometida. Pouco verbalizada. Menos ainda assumida. A mídia brasileira não entende bem o que significa homofobia. Esta acredita que é de interesse do leitor e necessário veicular somente o ato homofóbico que culminou em morte. O que chama atenção de jornais e revistas do país é o ponto final de um ataque de ódio. Um erro gigante. Um dos clássicos das falhas da cobertura midiática, mas esta falha nunca vêm à tona. A homofobia não tem início no assassinato. Nas pauladas. Nos tiros. Nas pedradas. Este é o fim.

Cobertura falha

Ela tem um início sutil, com piadas, brincadeiras, banalização de um ”senso comum” carregado de discurso de ódio, na omissão da mídia. Para além do papel de informar, veja bem, a mídia também auxilia na formação de opinião, do senso crítico de um leitor, na manutenção de crenças, ou na destruição. A mídia possui amplas ferramentas para lutar contra a homofobia. A mídia tem voz, clamor que os grupos LGBTS não têm na sociedade. Entretanto, a mídia escolhe o caminho reverso.

André Cagni, jornalista e conselheiro municipal LGBT da Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual da Prefeitura de São Paulo, comenta, em entrevista ao Portal da Comunicação, que a mídia erra enormemente ao cobrir a homofobia apenas em situações de crime, quando o ponto principal deveria ser o que motivou o ato criminoso. Relatar um homocídio motivado por homofobia é de extrema importância. Mas, a mídia faria um grande favor a estes indivíduos que morrem diariamente, se problematizasse o que motiva um ataque homofóbico. Informar qual tipo de discurso está por trás de cada piada, xingamento, soco, pedrada. ”Se essas críticas não são veiculadas, fica difícil para a homofobia. O que é preciso é a prevenção do crime. Então, essas medidadas que estão paradas no Congresso, como o kit homofobia e a Lei da Criminalização da Homofobia, poderiam cessar os crimes, pois não queremos simplesmente prender quem já cometeu o delito”, comenta Cagni.

A política brasileira também é uma grande aliada da mídia, quando falamos de discurso de ódio. Com os célebres representantes da população política brasileira, os perfis ultra conservadores assinam a lista de presença no Senado e na Câmara. Os discursos de ódio são sustentados por uma bancada evangélica e as críticas e julgamentos aos LGBTs não cessam, o que dá munição para uma visão distorcida que a mídia veicula, incitando indiretamente a violência e a homofobia.

Não podemos negar que as minorias sociais e suas demandas estão sendo noticiadas na mídia. Até pouco tempo atrás a violência contra a mulher e o genocídio da população negra e periférica era quase um tabu para a mídia. Mesmo assim, o que os portais de notícias, jornais e revistas escolhem veicular está sempre relacionado à espetacularização, principalmente da população LGBT.

Para a mídia, a causa mortis parece ser mais importante do que problematizar os discursos homofóbicos que perambulam em todas as camadas da sociedade. Colocar o dedo na ferida e publicar um histórico ERRAMOS, quando se trata de enquadramento de crimes homofóbicos e das homofobias diárias, é realmente difícil, principalmente para aqueles que carregam o poder da informação. A autocrítica da mídia seria de extrema ajuda para o longíquo fim da homofobia. Produções que dêem maior atenção às homofobias diárias, que levem a sério um discurso de ódio reproduzido em uma sessão da Câmara dos Deputados, as críticas a piadas e pensamentos homofobicos reproduzidos pela própria mídia, seja informativa ou de entretenimento, seriam ferramentas de grande avanço para aqueles que resistem em viver em um Brasil que enfrenta uma epidemia de violência homofóbica.

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