Posted by admin On agosto - 1 - 2016

por Giselle Borges e Matheus Maritan

Em poucas horas, as Redes Sociais se tornaram um instrumento de denúncia contra o abuso sexual no Brasil.  

   O caso bárbaro da jovem de 16 anos, vítima de estupro coletivo no Morro São João, na Praça Seca, no Rio de Janeiro – RJ, tomou proporções assustadoras quando um dos envolvidos publicou um vídeo no Twitter mostrando o estado da garota após ser violentada sexualmente por 30 homens.

    Internautas indignados com o ato, recorreram às redes sociais para denunciar o caso às autoridades e fazer o reconhecimento dos perfis dos agressores.   Observa-se assim, uma ampla rede de denúncias, indignação e repúdio ao crime contra a adolescente e outras mulheres em situações semelhantes.

  Durante os dias 16 a 27 de junho de 2016, analisamos por meio das hashtag #estupronuncamais o engajamento dos usuários do Twitter e Instagram, acerca da temática:  violência contra a mulher. A escolha desse período foi devido ao que aconteceu com a jovem na cidade do Rio de Janeiro.

    Considerando que estes espaços sociais vêm gerando discussões e promovendo mobilizações afim de estimular campanhas, debates e instigar assuntos relevantes. O objetivo é identificar quais usuários são influentes, em quais países o tema foi mais debatido, assim como os recursos usados pelos perfis para disseminar o assunto.

    Para realizarmos um estudo que visa contemplar este proposito, recorrermos a ferramenta Keyhole, que possibilita fazer uma mensuração através das tags que são compartilhadas no Twitter e Instagram. Os resultados desta analise foram representados em forma de gráficos.

A raspagem dos dados contabilizou que no período de estudo, 472 usuários publicaram 482 postagens utilizando a hashtag #estupronuncamais, obtendo  nas redes sociais um alcance de 435,511 visualizações.

        Dos países que fizeram uso da hashtag, o Brasil foi o que mais se mobilizou pelas redes sociais. De acordo com a ferramenta utilizada, esse valor correspondeu a 71% das postagens. Uma das hipóteses que poderia explicar a colocação do Brasil neste ranking, talvez esteja relacionada com a história citada no começo desse texto.

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Alcance Mundial

    A mobilização dos internautas impulsionou colocar em pauta a culpabilização da mulher em casos de abusos e quais as formas de combate contra violência. Além de caracterizar as formas que se manifestam a cultura do estupro, instaurando o diálogo.

    As “palavras chaves” nas postagens foram fundamentais para alcançar os trends tópicos como no caso do Twitter que foi a rede de maior mobilização, se comparada ao Instagram.

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As hashtags e palavras chaves mais utilizadas no período de coleta

     Das postagens feitas no Instagram e Twitter, 50%  das publicações foram produzidas pelos próprios usuários, enquanto 46,7% refere-se aos compartilhamentos e 3,3% podem ser considerados réplicas de outros indivíduos.

    Quanto ao assunto debatido, 64% das pessoas mantiveram a neutralidade em suas postagens, enquanto 19,5% reagiram de formam negativa e 16,5% demonstraram de forma positiva. É importante ressaltar que nesta etapa os resultados foram obtidos através do comportamentos dos internautas perante as tags e ações interativas disponíveis  por cada plataforma.

 

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Análise das postagens do Twitter e Instagram

A maioria das postagens foram feitas por usuários do gênero feminino. Podemos inferir que as estatísticas demonstram a preocupação das mulheres em torno da violência contra elas.

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Estatísticas das postagens em relação ao gênero

No instante que o vídeo do estupro foi publicado, os internautas denunciaram os suspeitos, pois não tiveram dificuldades para reconhecer o que tinham visto era algo criminoso. Foi a partir da interatividade e instantaneidade dos usuários nas redes sociais que a polícia conseguiu localizar a vítima e os responsáveis. Porém, toda essa repercussão fez com que outros usuários também acessassem o perfil da vítima e a condenasse, mesmo ela sendo a vítima.

  Nesse sentido, é impossível ignorar o papel da mídia. Se por um lado ela dá noticia e destaque, por outro lado ela divulga informações irrelevantes para o caso. O fato dela frequentar baile funk, ser mãe solteira, ter consentido sexo com um dos envolvidos, não justifica o fato do crime ter acontecido e compõem um quadro desfavorável à vítima.

Por fim, essa falta de entendimento que configura um estupro pela mídia, contribui com a culpabilização da vítima. A mídia tem um poder imenso, tanto de reproduzir e reforçar valores machistas e misóginos, como de contestá-los e transformá-los.

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