Posted by admin On novembro - 17 - 2010
Por Ana Beatriz Noronha, Ana Carolina Meirelles, Natália Goulart e Raísa Geribello

O jornalismo cultural há muito vem se colocando como um espaço de tensões, sobretudo quando analistas críticos e telespectadores mantêm o foco da atenção sobre as publicações simplistas; sobre o agendamento de temas previsíveis; e sobre a veiculação como caderno de ‘diversão’ e entretenimentos. É importante que este jornalismo que se pretende cultural comece a ser encarado como um gênero complexo, de elementos formadores que estão além da sua inserção no mercado de bens simbólicos. As práticas desse campo no jornalismo constituem estreitas relações com outras produções intelectuais dos mais diferentes contextos sociais e nas mais diversas conjunturas históricas, e é neste ponto que se devem atentar as leituras das páginas culturais.

Assim, ao analisar certos cadernos e espaços de cultura presentes no leque infinito de veículos midiáticos pelo país, tem-se uma manifestação discursiva bastante fragmentada – aqui cabe ressaltar desde a escrita e expressão editorial, quanto o design de arte das páginas e seus signos característicos.

Analisando a revista Bravo e o jornal Estado de Minas em suas versões online, ou no que se pretende de reprodução na web, tem-se duas maneiras características e distintas de produção do jornalismo cultural.

O Estado de Minas apresenta duas versões em plataformas diferentes, uma especificamente para assinantes (não há acesso livre ao caderno de Cultura – EM cultura); outra de acesso público, em que o jornalismo cultural divide o espaço da tela com links de entretenimento, passatempos, chacras, cara metade, promoções e afins que mais parecem sugerir um espaço de recriação com ‘brinquedos’ diversos do que reflexão; tudo isso englobado dentro do chamativo título multicolorido Divirta-se!

A problemática aqui desponta em uma vertente que requer um trabalho mais profundo de observação, mas que pincelaremos em seus pontos mais fortes sem qualquer tentativa pretensiosa. Há que se reconhecer o papel das críticas neste espaço sugerido como divertimento. As colunas dedicadas a esta função a executam de forma exemplar, sobretudo as críticas de teatro que possuem consistência, ao mesmo tempo em que descrevem bem e instigam o leitor a assistir aos espetáculos.

Mas é justamente este aspecto que deveria fazer-se presente também nos outros pilares das editorias culturais, o que, quase sempre, não acontece. Prevalece o agendasetting (agendamento clássico do que deve ser publicado, as notícias mais quentes) e a apresentação de uma agenda dos eventos que irão ocorrer, e nada que fuja muito ao gosto do grande público suposto pela maior parte das mídias pela sua industria cultural.

A revista Bravo, diferentemente de uma produção que se insere no cenário da indústria cultural (entende-se aqui como um lugar que privilegia muita mais a quantidade do que a qualidade) preserva não somente uma reflexão sobre a cultura e os objetos que estão inseridos nela, como também abre espaço para o leitor conhecer o ambiente das produções culturais atuais e passadas.

Dessa maneira, a Bravo cultiva a cultura de forma a não polarizar o que de fato foi feito e o que é produzido hoje. No site, a revista apresenta alguns interessantes vídeos a respeito dos assuntos abordados na edição atual; os temas do seu jornalismo cultural destoam do senso comum, trazendo novas questões, oferecendo informações e notícias sobre aspectos culturais – nas áreas da literatura, cinema, música, teatro e outras artes – que nem sempre circulam na grande mídia; ou aparecem discretamente entre suas espalhafatosas chamadas sobre assuntos clichês de sua indústria cultural.

Neste embate entre uma publicação voltada para linhas culturais mais alternativas, e o caderno de cultura que mais se assemelha a uma caricata coluna social de outra, há muito a se fazer e repensar para que o jornalismo cultural não caia em chavões clássicos, nem em simplificações vazias. As produções precisam atender ao mesmo tempo à todas as pessoas da maneira mais ampla possível. Mediante um caráter ‘cult’, e um aspecto pitoresco, o jornalismo ainda necessita captar as lacunas esquecidas, a cultura regional, as manifestações populares e as novas propostas artísticas que surgem e incendeiam as idéias nestes tempos que se pretende ultra e pós-modernos.

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