Posted by admin On junho - 8 - 2015

Por Wendell Soares

Oriundas do processo de redemocratização da política no país, as manifestações do povo, devido insatisfações com o governo, tem sido um dos meios populares de maior repercussão na mídia atual.

Desde o fim da ditadura brasileira (onde um levante histórico da população demonstrou nas ruas seu posicionamento quanto à forma de governar dos militares, denominada Diretas Já), tais manifestações tomaram diversas formas (vide o pedido de impeachment do ex presidente Collor, ou mesmo passeatas por melhoria na educação ou melhores salários de professores, por exemplo) no sentido de questionar e demonstrar o posicionamento popular acerca de questões de interesse coletivo.

Exemplo disso, foram as manifestações de junho de 2013, onde houveram protestos pacíficos em todo o país, relacionados primeiramente ao aumento na tarifa de ônibus, e tal conseqüência serviu de mote para a inclusão de pautas diversas (homofobia, feminicídio, união civil de pessoas do mesmo sexo, violência) no assunto.

Observando o posicionamento da mídia, sem se ater à opiniões partidárias, a forma como as manifestações foram abordadas trouxe à tona uma dupla possibilidade sobre o que se pode considerar imparcialidade no Jornalismo. Se por um lado, não haviam partidos por trás da intenção (e a iniciativa se deu de forma pacífica), por outro,  grupos políticos e sociais tentaram se aproveitar da situação afim de desqualificar ou validar, com um discurso diferente, as manifestações.

Protesto em Brasília – Congresso Nacional, 06/2013 Fonte: Correio Braziliense

Houve parte da mídia que preferiu referenciar o protesto fazendo uma alusão aos “caras pintadas” de 92, quando do pedido de saída de Collor, já que com a proximidade das eleições do ano seguinte (que seriam acirradas pela disputa pragmática entre PSDB e PT), ambos os partidos podiam se valer dela para benefício próprio. Enquanto o PT, através do discurso da atual presidente, Dilma Rousseff, se posicionou considerando “a manifestação legítima”, o partido da oposição tentou associar diretamente ao governo esta insatisfação, mesmo sendo oriunda de uma esfera estadual e municipal (o aumento de tarifas). A mídia, por sua vez, fez uma cobertura cheia de falhas, onde a exceção, ganhou notoriedade acima do bem comum.

Reforça-se o fato acima quando se percebe nas coberturas, o enfoque dado aos Black blocks e a vândalos em geral, que se aproveitaram da aglomeração para saquear e quebrar o patrimônio público, se distanciando do objetivo da maior parte dos manifestantes. Por outro lado, esta “parcialidade midiática” produziu medias alternativas, como o caso da Mídia ninja, sem patrocínio governamental ou político. Tais grupos fizeram coberturas ao vivo e isentas de interpretações dúbias.

É relevante ainda, traçar uma comparação com a última onda de protestos, pelo pedido de impeachment da presidente reeleita. A mídia, em sua maior parte, preferiu associar as manifestações a um grupo elitista, branco, com poder aquisitivo, e partidário, quando o mote das manifestações era, a princípio, contra a corrupção instaurada com os escândalos do caso Petrobrás.

Protesto em Brasília – Congresso Nacional, 06/2013 Fonte: Correio Braziliense

Essa verve passional, conseguiu dar espaço a bizarrices, como aqueles que pediam intervenção militar. Paralelo a estes protestos, é importante ressaltar que houveram outros de menor porte (mas nem por isso com importância reduzida), como o dos professores em São Paulo por melhoria nos salários e empregos, ou ainda, protestos de agenda anual, como a parada Gay ou a marcha da Maconha.

Quando se estuda a teoria do Espiral do Silêncio, é fácil ver sua aplicabilidade na forma como a atual mídia decide como e o quê será transmitido ao grande público. Porque de maneira geral, os meios de comunicação pouco convergem suas informações, relacionando a articulação e o engajamento dos manifestantes.

Ainda há uma tentativa de transformar a notícia deste porte em espetáculo, com personagens ímpares, que nem sempre apresentam a totalidade do movimento, seja ele a drag queen da manifestação contra a homofobia ou ainda o cidadão que pede a volta da ditadura. Não que estes não devam ter voz, mas é perigoso ver a multiplicidade de um coletivo ignorada, em detrimento da individualidade que não representa o todo.

A Internet, como ferramenta de fácil acesso e com um imediatismo óbvio, é a principal responsável pela mudança da forma como abordar a notícia. No caso das manifestações, ela dá uma pluralidade de ideias e ângulos para que a população entenda o fato, pelo viés que considerar mais adequado. Se temos, para citar dois exemplos, páginas financiadas pelo governo (Brasil247 ou Pragmatismo político), há também a liberdade constitucional de sites e páginas que se contrapõem a este (Reaçonaria ou Libertarianismo.org), o que transita a opinião, de uma forma geral, entre dois extremos. E nele cabe tudo.

Quando pessoas decidem se unir em uma causa, sempre haverá detalhes que especifiquem cada indivíduo. Mas o processo midiático precisa atentar ao que os faz um coletivo.

 

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