Posted by admin On junho - 8 - 2015

Por Marília Mesquita, Priscilla Santos, Silmara Filgueiras e Stênio Lima

Para o Estado de Minas Dilma tinha razão: seu governo é nível Felipão e o jornal fez política virar futebol.

Em 9 de julho de 2014 os jornais trouxeram na capa a lástima de uma derrota. A Seleção Brasileira de Futebol perdera a copa do mundo em seu palco, ou melhor, em seu estádio. Os brasileiros também perderiam a esperança da alegria, pelo menos da alegria de um hexa campeonato do esporte mais popular do país.

Em 16 de março de 2015 os jornais trouxeram na capa a revolução, ou a tentativa de golpe, ou a injustiça com partido X ou  a glorificação do partido Y ou ainda a alienação do povo, a inquietação da “elite”, a superioridade dos “menos favorecidos”. A política brasileira se vê em crise.

As Duas são, de alguma forma, patrimônio nacional, memória nacional. Em 2013 a presidente Dilma Rousseff declara que seu governo é “padrão Felipão”, mal sabia ela quão significativo soaria com o final trágico da Copa do Mundo. Técnico da Seleção Brasileira entre 2012 e 2014, Luiz Felipe Scolari ou Felipão, chegou como o campeão do penta, e saiu com o vexame do hexa. O resultado de 7 a 1 para os adversários alemães envergonhou o Brasil, humilhou os heróis da bola. Dilma, eleita em 2010, consegue a reeleição em 2014. Mas se o padrão é “Felipão”, mal começou 2015 e o caos político está instaurado.

Muito se fala sobre a mídia tendenciosa. Sobre o poder de manipulação da população. Sobre o partidarismo político impregnado. Pouco se fala sobre a linha editorial dos meios de comunicação. Sobre ideologia. Sobre as teorias do jornalismo. O Estado de Minas, um dos mais importantes impresso de Minas Gerais, publicou, nas datas referidas, duas capas similares. Cada qual com as suas peculiaridades, mas as duas com mensagens para transmitir ao seu leitor. Ideologicamente julgado como conveniente para as classes privilegiadas e politicamente de apoio a chamada direita brasileira, o Estado de Minas usou toda a página para tratar exclusivamente dos assuntos em questão.

A análise

O jornal como um produto a ser vendido, quer atrair o leitor através da capa. A derrota da Seleção Brasileira e cidadãos reunidos em manifesto fez com que o Estado de Minas ocupasse toda sua primeira página com um único assunto. O único que interessava. As manchetes, com letras garrafais, diretas e chamativas, com cores que contrastam o branco e o preto, quase um símbolo de luto, logo dizem: “A maior vergonha do futebol brasileiro”, em 2014, e “O grito dos indignados”, em 2015.

As fotografias grandes e expressivas, retratos, também, de desespero e repúdio, são propositais. Todos os gestos expressam a infinidade de sentimentos diante dos fatos ocorridos. Felipão ocasionalmente faz o número sete com os dedos, o zagueiro Davi Luiz cai em prantos e as mãos ao alto da multidão remetem a um sinal luta.

O grid usado na capa do pós 7 x 1, é bastante sugestivo. As fotografias e as palavras formam uma cruz, símbolo que relaciona facilmente à morte como se comprova ao longo do texto com o termo “sepultado”. Na capa referente ao dia 15, a foto que ocupa maior espaço na página segue o formato vertical. Remete continuidade ou imensidão, como uma rua. O recorte mostra o grande corredor de pessoas que ocuparam os locais públicos do país, aumentando o volume da massa.

Uma coisa é certa: nada que compõe a capa é posto de forma aleatória.

O discurso

Com o grande destaque dado aos efeitos visuais, o texto perdeu espaço. Em poucas frases o Estado de Minas apresentou, nos dois eventos, sentimentos que se misturam e ocasiões que se confundem. Não há como discernir, tampouco diferenciar, o discurso do brasileiro decepcionado com o governo e do torcedor triste com o fracasso da Seleção. A população “indignada” e “vergonhosa” na Copa do Mundo e “incrédula” diante de um Estado defasado pela corrupção apontam o quanto a política se aproxima do entretenimento e reforçam a afirmação de Dilma. O “desastre”, proferido em ambas as situações, mostra que as pessoas esperavam algo muito diferente do que lhes foi proporcionado.

Depois do 7 x 1 a frase “é preciso fechar essa porta” poderia facilmente ter sido dita pelo treinador da seleção, se referindo aos gols sofridos. Foi proferida, entretanto, nas manifestações ao se tratar de corrupção. Destaques nos protestos e no grifo do jornal, as roupas coloridas, as camisas da Seleção Brasileira e a criatividade de quem foi às ruas referenciavam o clima de festa, que também esteve presente na Copa do Mundo. Na Copa a “resistência” foi exaltada. Palavra que se vê ligada à conquista de minorias em intervenções como as do Dia 15, mas que não apareceu no jornal na ocasião. Se tratava de uma manifestação “em clima de paz” e “organizada”.

Categories: Destaque, Texto

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