Posted by admin On maio - 5 - 2015

Por Bárbara Torisu, Caroline Tereza A. de Souza, Janaína Almeida, Gabriel Campbell, André Nascimento, Sabrina Passos e Isânia Santos

Com uma hora e 22 minutos de entrevista, o Roda Viva que teve como convidado o economista francês, autor do livro “O Capital do Século XXI”, Thomas Piketty, recebeu muitas críticas pelo modo como conduziu a entrevista. Em forma de sabatina, os entrevistadores utilizaram boa parte desse tempo para realizar suas perguntas. Com indagações que pareciam mais como artigos, de tão longas e cansativas, eles usaram disso, para enquadrar as questões conforme suas opiniões políticas da economia brasileira.

Para Traquina e Kovach a imprensa tem como objetivo informar as pessoas, fazendo com que estas “abram” os olhos para a realidade e tenham a sua própria opinião sobre qualquer assunto e contestem o que julgam incorreto. A liberdade de escolher o que queremos ler é o que faz com que haja a democracia, e o jornalismo tem como objetivo passar as informações para as pessoas para que cada uma possa optar nos mais diversos assuntos políticos, econômicos e sociais.

Os autores acreditam que “a principal finalidade do jornalismo é fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernar”, porém não levam em conta que, atualmente, a maior parte da produção jornalística tem um fundo ideológico, não só do jornalista, mas também do veículo em que o mesmo atua.

De modo geral a Teoria do Enquadramento perpassa o papel dos meios de comunicação nos processos políticos. Trabalha com a percepção no campo da pesquisa dentro das instituições, quer seja, Estado, Religião, Política e movimentos sociais.

No programa em questão, é claramente notável a intenção do discurso de caráter ideológico no decorrer da entrevista. Desde a primeira pergunta feita pelo mediador, o foco ou enquadramento foge do entrevistado e sua obra para debruçar na situação das políticas econômicas do governo brasileiro. Há o propósito de expôr, negativamente, as iniciativas governamentais, colocando o entrevistado em segundo plano.

É nítido que os entrevistadores procuraram no convidado a todo tempo, argumentos para dar embasamento aos seu pressupostos e posicionamentos políticos. Segundo a Teoria do “Gatekeeper”, a produção da informação é um processo de escolhas, e elas têm que passar pelos portões até serem publicadas. Ou seja, as notícias são uma espécie de visão de mundo de um profissional e não um espelho da realidade. A partir dessa teoria, podemos analisar as notícias somente por quem as produz.

No programa, podemos analisar que o economista André Lara Resende estava se mostrando imparcial ao se mostrar um liberal arrogante, dogmático e pouco razoável. Além disso, o entrevistador orientava as perguntas para que o economista francês falasse da política brasileira. Com longas perguntas que mais pareciam teses de mestrados, embates ideológicos e desatenção às respostas do entrevistado, todos entrevistadores tentaram direcionar a culpa da desigualdade social no país não no capitalismo, mas na incompetência governamental. Direcionamento o qual não foi realizado de forma natural, fazendo com que os telespectadores e críticos de mídia pudessem perceber que a mudança no enquadramento do tema estava sendo bem abrupto. A construção da notícia, através deste jornalista, foi de seguir o que se defende o editorial, que na verdade é de direita.

Mas apesar do ataque feito pelos entrevistados, Piketty soube passar com exatidão pelo portal dos jornalistas. Mostrando a importância das fontes no processo de produção da notícia. Se apenas levarmos em consideração o que foi dito pelos jornalistas, as perguntas que foram construídas e as afirmações feitas por eles, podemos perceber com clareza essa tentativa de atingir o governo neste momento político pulsante no Brasil. Piketty, com muita paciência, soube se posicionar e mostrar que esse descontentamento político não é novidade na história do mundo capitalista, que a mais de duzentos anos vem se repetindo.

Uma outra questão é: a mídia no que se refere ao interesse público é considerada o quarto poder, é através da mídia que assuntos e decisões que influenciam diretamente os membros da sociedade são divulgados. A mídia tem um papel fundamental como guardiã da verdade, e claramente no Roda Viva, observa-se a subjetividade quando as perguntas dos entrevistadores são feitas a fim de defender seus pontos de vista.

Assim, através dessas observações conclui-se a importância de uma imprensa mais plural e acessível onde o público e a mídia sejam monitores das informações. Atualmente a mídia brasileira ignora assuntos que se relacionam ao seu monitoramento e a questões políticas de relevância. A pouca pluralidade e a concentração de poder limita o monitoramento.

“O novo marco regulatório deve garantir o direito à comunicação e a liberdade de expressão de todos os cidadãos e cidadãs, de forma que as diferentes ideias, opiniões e pontos de vista, e os diferentes grupos sociais, culturais, étnico-raciais e políticos possam se manifestar em igualdade de condições no espaço público midiático. Nesse sentido, ele deve reconhecer e afirmar o caráter público de toda a comunicação social e basear todos os processos regulatórios no interesse público.” (Lei da Mídia Democrática)

 

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