Posted by admin On junho - 2 - 2014

Por Aldo Damasceno, Ana Elisa Siqueira, Daniela Julio, Flávia Silva, Joyce Mendes e Lucimara Leandro

A compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela empresa brasileira Petrobrás tem se destacado na mídia desde março, quando denúncias de irregularidades na aquisição da refinaria voltaram à tona. A partir de algumas reportagens veiculadas nos sites G1 e Estadão vamos analisar questões relativas ao modo de construção discursiva do acontecimento.

O jornalismo se constrói em torno dos acontecimentos, que são fatos e ocorrências que se destacam ou merecem maior destaque. Escolhemos como exemplo de um acontecimento o caso Pasadena, que tem ganhado maior destaque devido ao envolvimento da Presidente Dilma Roussef, que, em 2006, ano de aquisição da refinaria, era presidente do Conselho Administrativo da estatal.

Como estamos em ano eleitoral, evidenciar o envolvimento da atual presidente do país em um escândalo político chama a atenção. Isto fica evidente no título da matéria do Estadão “‘Dilma não pode fugir à responsabilidade’ diz ex-presidente da Petrobrás”, no dia 20 de abril de 2014. E, no subtítulo do G1, “Transação levantou suspeitas de evasão de divisas e superfaturamento. Presidente Dilma era conselheira da estatal na época da negociação”, no dia 20 de março de 2014, que estabelece uma relação do mau negócio com o cargo ocupado por Dilma na época.

Este é um importante acontecimento político, mas apesar de todo acesso às informações, veiculadas por diferentes mídias, não se pode dizer que o assunto tenha grande poder de afetação no público. O público estaria, neste momento, totalmente interessado nos acontecimentos acerca do Escândalo da Petrobrás?

Uma pesquisa publicada pelo site do Correio Braziliense no dia 29 de abril, que foi encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), mostra que 49,5% dos entrevistados não estão acompanhando ou não ouviu falar no caso e 19,9% somente ouviu falar. Apenas 30,3% dos entrevistados têm acompanhado as notícias sobre o caso Petrobrás.

A matéria divulgada no dia 12 de abril, no site do Estadão, “Procuradoria do TCU pede que Dilma e conselheiros respondam por Pasadena”, traz informações de que a compra da refinaria teve um gasto superior a 1 bilhão de dólares, um valor considerado muito alto ao longo da reportagem,  sugerindo, com isso, que a compra resultou em danos aos cofres públicos. A utilização de dinheiro público deveria ser assunto de total interesse da sociedade.

Já no meio político o caso Pasadena tem tido grande repercussão, conforme mencionado, 2014 é ano de eleições. Comparando as notícias deste ano com matérias de anos anteriores, podemos perceber a mudança de enquadramento. A reportagem publicada pela Revista Veja em 18 de dezembro de 2012, por exemplo, destaca o mau negócio que a Petrobrás realizou em 2006, não o envolvimento de Dilma. O título já mostra que tipo de narrativa será construída, “Negócio da Petrobrás trouxe prejuízo de 1 bilhão de dólares”.

O nome da atual presidente do país é citado apenas duas vezes ao longo do texto, nas seguintes frases: “A primeira a levantar dúvidas sobre a transação foi a presidente Dilma Rousseff, em 2008, quando era ministra da Casa Civil e comandava o conselho da Petrobras.”e em “ ‘Dilma atacou a proposta e criticou duramente Sergio Gabrielli (então presidente da estatal) diante de todos. Foi constrangedor’, lembra um ex-diretor.”

Através das notícias analisadas podemos perceber que os veículos estão tentando construir um escândalo de corrupção, a informação que recebe maior visibilidade é o envolvimento da Presidente Dilma no caso e não as questões relativas ao valor do negócio e a produtividade da refinaria.

Categories: Destaque

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