Por Caio César, Daniella Andrade, Janine Reis, Mylena Pereira e Túlio dos Anjos

O Bolsa Redonda, quadro apresentado pela jornalista esportiva Fernanda Gentil, que conduz o bate-papo entre a atriz Christiane Fernandes, a escritora Thalita Rebouças e a apresentadora do Esporte Espetacular, Glenda Kozlowski, estreou em novembro de 2013 com o objetivo de promover um espaço dedicado às mulheres para discutirem o futebol. O quadro é exibido quinzenalmente às manhãs de domingo, com duração de 10 a 15 minutos cada, dentro do tradicional programa Esporte Espetacular, exibido pela emissora TV Globo.

A descrição do programa no site da TV Globo diz: “Elas são as donas da bola”. As apresentadoras comentam fatos inusitados que aconteceram durante a semana no mundo do futebol. O formato do programa foi pensado para propor discussões divertidas e incentivar a participação do público através do envio de dúvidas, sugestões, recados e vídeos pelo site.

O programa, que usa o mesmo cenário do Esporte Espetacular, ganha, em sua decoração, um tapete e quatro poltronas cor-de-rosa. As participantes entram segurando bolsas personalizadas que remetem ao futebol. Para votar contra ou a favor em alguma discussão, elas exibem cartões com aprovação ou reprovação, “sim”, na cor rosa, ou “não”, com a cor azul.

Considerada uma das primeiras mesas redondas, entre mulheres, da TV Globo, o diretor e idealizador do Bolsa Redonda, Sidney Garambone, afirmou em uma prévia do quadro, que a ideia é “retratar o esporte de uma maneira corajosa e descontraída, com um olhar diferente, bem-humorado e sem vergonha de explicar termos que até os homens têm dúvidas.”

Logo na primeira edição do quadro, exibida no dia 10 de novembro de 2013, nota-se que sua finalidade realmente deixa a desejar. A matéria intitulada “As minas piram” faz uma análise da beleza do jogador Willian, do Cruzeiro, reforçando o estereótipo de que mulher não entende de futebol e está apenas interessada na imagem do jogador.

Também no primeiro quadro, o bordão “Ai gente, que fofo”, fala sobre momentos ou lances do futebol, dignos da frase, como no jogo entre Flamengo e Goiás, quando os torcedores do rubro-negro levantaram placas com os dizeres: “Saúde Davi”, referindo-se ao filho do jogador Elias que estava doente.

Após muitas críticas dos telespectadores, profissionais do meio esportivo e pesquisadores, o primeiro quadro de 2014, apresentado no dia 26 de janeiro, não sofreu mudanças consideráveis. Sustentando matérias que falam sobre a beleza dos jogadores, surge a série nomeada “Patente alta”, semelhante ao “As minas piram” que, como proposta inicial tem objetivo diferente: analisar os talentos, no quesito futebol, dos principais craques que atuarão na Copa do Mundo. Porém, consegue nesse episódio, apenas ressaltar o estilo metrossexual do jogador Cristiano Ronaldo. Em se tratando da audiência, os índices do “Esporte Espetacular” não teve alterações, a atração marcou oito pontos de média, seu número habitual, na Grande São Paulo.

Com pautas superficiais, as apresentadoras conduzem os 10 minutos do quadro tentando manter o bom humor, coisa que, dificilmente, se vê no semblante da experiente Glenda Kozlowski. A apresentadora, de longe, parece incomodada com os rumos das propostas de pauta.

Podemos comparar o quadro Global com a primeira participação das mulheres no jornalismo esportivo. Uma equipe formada na Rádio Mulher, em 1970, em São Paulo. O programa era composto apenas por mulheres onde realizavam coberturas dos jogos de futebol. Elas analisavam a beleza dos jogadores e a limpeza dos uniformes, por exemplo. Isso reforça que não houve uma evolução na experiência esportiva se tratando do gênero feminino. Fortalece o estereótipo que mulher não entende de futebol, e o espaço corrobora totalmente o preconceito que a maioria dos homens tem sobre a participação das mulheres quando o assunto é futebol.
O quadro, que deveria assumir um perfil mais jornalístico – por conta da sua finalidade e por agregar duas apresentadoras formadas em jornalismo – torna-se um meio de entretenimento esportivo, mantendo o preconceito sobre as visões das mulheres acerca do futebol.