Posted by admin On fevereiro - 14 - 2014

Os conteúdos trabalhados na disciplina Crítica da Mídia, no período correspondente a outubro de 2013 a fevereiro de 2014, foram enriquecidos com uma experiência única, pelo menos para o Curso de Jornalismo da UFOP. Recebeu convite para ministrar oficinas de leitura crítica de jornais, para jovens cujas famílias são assistidas pelo Centro de Referência da Assistência Social Volante Bairros (CRAS -VOLANTE), órgão ligado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania da Prefeitura Municipal de Mariana.

Participaram do projeto jovens moradores do Bairro São Pedro, para os quais a disciplina reservou duas horas semanais. Depois de reuniões de apresentação, a primeira acompanhada de algumas mães, o trabalho começou com uma visita às instalações do Curso de Jornalismo, pela qual os convidados conheceram todos os laboratórios, e receberam explicações básicas sobre cada um.

Na sequência das atividades, foram apresentados alguns jornais impressos, explicado o jargão da profissão, e destacadas palavras novas para o grupo, como tabloide , manchete, matéria, notícia e reportagem, chegando aos espaços publicitários. Neste ponto foi possível explicar que os jornais tem donos e anunciantes, assim como mostrar que a escolha das pautas (outra palavra nova) era deles. A oficina dedicou-se, também, eleição de notícias que deveriam ser lidas e comentadas, primeiro em pequenos grupos, depois para a sala inteira.

Os participantes do projeto se reconheceram apenas nas notícias sobre “rolezinho”. Até então se mantinham calados, atentos e muito tímidos. Nesse momento falaram de preconceito, de experiências semelhantes pelas quais alguns passaram. O debate começou, de fato, naquele momento. Ao final da atividade, já propunham elaborar o próprio jornal, que falasse deles, que elegesse pautas do bairro. E esta foi a inspiração da tarefa seguinte.

Monitorados pelos alunos da disciplina, propuseram pautas, todas referentes ao bairro São Pedro. No dia seguinte trouxeram suas anotações. Haviam feito a apuração. Redigiram os textos (postados nesta página), com pouca ou nenhuma edição por parte dos alunos.

Os resultados foram surpreendentes para os dois grupos envolvidos: para os jovens de São Pedro uma oportunidade de refletir sobre a mídia, pela primeira vez em suas vidas. Perceberam que a exclusão que possa ocorrer na vida material, está retratada nas páginas dos jornais, tanto pelo enquadramento dado às notícias, quanto pelas ausências, pelo não dito, pelo esquecido.

Para os alunos de Crítica de Mídia, ficou a comprovação de que ao enquadrar, ou seja, ao escolher um ângulo dos acontecimentos para explorar, a mídia convencional ancora preconceitos, mantém os excluídos ausentes, ou os faze figurar nas páginas policias, apenas.

Continuidade

O projeto Leitura Crítica da Mídia, proposto pelo Cras – Volante, não termina com o encerramento do semestre. Estimulados pela experiência positiva da convivência com Felipe, Gabriel, Thalita, Beatriz, Ryan, Allan, Matheus e Aglines, foi elaborado um projeto de extensão no âmbito da UFOP. Sob o título “Nos bastidores da notícia: projeto de comunicação comunitária incluindo oficinas de leitura crítica da mídia e construção de plataformas comunicativas independentes”. O trabalho se dará em parceria com Centro de Referência da Assistência Social Volante Bairros (CRAS), órgão ligado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania da Prefeitura Municipal de Mariana. Inclui a participação da Central de Comunicação Pública Educativa (CCPE), setor da Coordenaria de Comunicação Institucional da Universidade.

Entre os objetivos da atividade estão a capacitação à leitura crítica da mídia, de modo a que se entenda os processos de elaboração de conteúdos, se reconheça os interesses econômicos/ideológicos sob os quais os sistemas comunicativos se edificam. Inclui a produção de meios alternativos, nos moldes dos propostos pela comunicação comunitária, importante rubrica de estudos deste campo do conhecimento. Também conhecida como comunicação popular ou alternativa, emerge a partir da constatação do desequilíbrio informativo existente nas sociedades, acompanhando e servindo de sustentáculo para desníveis socioeconômicos.

Assim sendo, longe de ter voz nas decisões referentes a programações e a conteúdos, por exemplo, as “minorias” aparecem na condição de sujeitos de páginas policiais, com raras exceções. Pelo que é veiculado, a comunicação popular é reduzida a programas de entretenimento de forte conteúdo estereotipado, fortalecendo o racismo e a homofobia. Destaca a violência presente na sociedade, como se fossem originárias unicamente das camadas desfavorecidas. Desenha-se, assim, uma imagem negativa das localidades menos favorecidas por recursos socioeconômicos – um lugar de violência, crime e vulgaridade.

Na perspectiva da Crítica da Mídia, que inclui estudos sobre esfera pública, os veículos de comunicação, por meio de seus conteúdos, são responsáveis, em grande parte, pelos processos de formação de opinião. Os indivíduos, a partir do que ouvem, leem e veem, estocam informações que lhes oferecem elementos para entender o mundo a partir de uma perspectiva específica. Portanto, entender o processo de elaboração de notícias, conhecer as rotinas jornalísticas, observar interesses que possam estar embutidos na eleição de fatos a serem noticiados, contribui para que o receptor das informações possa formar uma visão crítica do jornalismo e da realidade.

Cicília Peruzzo, uma das mais respeitadas autoras deste assunto, observa que a pessoa inserida nesse processo (de comunicação comunitária) tende a mudar o seu modo de ver o mundo e de relacionar-se com ele. Tende, também, a agregar novos elementos a sua cultura. Os meios de comunicação comunitários e populares – nem todos, têm, assim, o potencial de ser, ao mesma tempo, parte de um processo de organização popular e canais carregados de conteúdos informacionais e culturais, além de possibilitar a prática da participação direta nos mecanismos de planejamento, produção e gestão. Contribuem, portanto, duplamente, para a construção da cidadania.

Participantes do Projeto Leitura Crítica da Mídia:

Felipe de Freitas Pedro

Allan Max Santos

Ryan Júnior de Souza

Gabriel Jorge de Souza

Thalita Mariano de Souza

Beatriz Alessandra da Silva Santos

Otávio Januário Lima

Matheus Januário Pereira

Aglines Januário de Lima

Coordenadores:

Emerson Carioca – Coordenador do CRAS-Volante Bairros

Kênia Fernanda Santos – Educadora Social do CRAS-Volante Bairros

Juçara Gorski Brites – Professora de Jornalismo da UFOP

Alunos de Crítica de Mídia:

Anna Clara Velho Antoun

Danilo Augusto Araújo Moreira

Elis Regina Santana Saraiva

Emanuel Luiz Brandão

Francine Vilas Boas Silva

Lucas Machado de Oliveira

Luma Saboia Coutinho Oliveira

Raquel Augusto Satto Vilela

Raquel Estevam da Costa

Rayssa Aparecida do Amaral

Sandro Aurelio Alvarado

Tamara Pinho

Thiago de Araujo Huszar

Yara de Oliveira Diniz

 

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