Posted by admin On fevereiro - 12 - 2014

De que maneira a TV cultura, através do programa Roda Viva, fala sobre drogas.

Francine Vilas Boas e Yara Diniz

As drogas e todos os problemas relacionados a elas são assuntos que aparecem corriqueiramente na mídia. No programa Roda Viva, que foi ao ar em 20 de maio de 2013, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, discorreu sobre drogas e dependência química.

Ronaldo Laranjeira é bem lúcido em relação às suas colocações. No entanto, o programa teve um infeliz viés ao se prender no trabalho de combate ao crack no estado de São Paulo feito pelo psiquiatra e pecou por não abordar outros aspectos relevantes envolvidos com um tema tão amplo quanto drogas.

O Roda Viva surgiu em 1986 e é um espaço para debates e opiniões a respeito de temas comuns (cultura, política, saúde) da sociedade. Em um formato talk-show é composto por um mediador, cinco entrevistadores, um twitteiro e um cartunista, que ao decorrer do programa faz caricaturistas com frases marcantes ditas pelo convidado; posicionado no centro de um círculo sentado em uma cadeira giratória. Por ser um programa aberto a debate, são convidadas personalidades de opiniões divergentes, o que dificulta transmitir ao telespectador a posição do mesmo sobre os temas debatidos.

Como abertura, é de praxe aparecer um apanhado geral com imagens e dados sobre a questão a ser retratada. Na edição analisada, há informações estatísticas sobre os impactos das drogas: os bilhões envolvidos no tráfico, o número de mortes e usuários, além da perspectiva de países que descriminalizaram algumas substâncias que no Brasil são ilícitas. Aspectos que moldaram o enquadramento do programa.

Para Rogério Christofoletti – autor do livro Vitrine e Vidraça: Crítica de mídia e qualidade no jornalismo -, um enquadramento (framing) é construído por meio de operações como seleção, exclusão ou ênfase de determinados aspectos e informações, compondo perspectivas gerais para a compreensão de acontecimentos e situações cotidianas. São esses aspectos que buscamos na presente análise.

Entende-se que os recortes feitos pelo Roda Viva foram selecionados propositalmente para que o programa tivesse o viés (enquadramento) desejado, apontando os impactos negativos das drogas na sociedade brasileira e o porquê da não descriminalização, ideia defendida por Laranjeira.

O programa teve uma repercussão imediata. O jornalista Denis Burgierman – um dos entrevistadores – escreveu no seu blog mundonovo após o papo com Ronaldo Laranjeira que a entrevista foi bem frustrante para ele.

“Laranjeira tomou a palavra e falou sem parar, sem dar atenção às perguntas que lhe faziam. Citou uma série de dados inventados, como a informação de que todos os países desenvolvidos estão abandonando as políticas de redução de danos – basicamente o contrário da realidade, já que há uma clara tendência pela adoção global da filosofia da redução de danos, até mesmo nos Estados Unidos, onde pelo menos o discurso já mudou.”, escreveu Burgierman.

Vale refletir até que ponto um psiquiatra renomado como Laranjeira colocaria em risco sua credibilidade “inventando” dados. Talvez não haja uma invenção, mas uma manipulação dos mesmos para que o psiquiatra pudesse fundamentar sua opinião conservadora a respeito do assunto. Sejam os dados inventados ou manipulados a seriedade do programa fora comprometida, uma vez que a verdade não está explicita.

Falamos em opinião conservadora, pois Laranjeira defende uma posição tradicional em relação às drogas. Apesar de ver o usuário como um “doente” e não como criminoso, o psiquiatra é reverso às discussões mais liberais sobre a descriminalização e o consumo dos entorpecentes. Essa visão é perceptível nas suas afirmações e nos relatos dos estudos apresentados pelo mesmo, que condiz com uma negatividade tanto social quanto no âmbito da saúde do indivíduo.

A mídia brasileira tem limitação ao se tratar de drogas, deixando subentender ligações ao ilegal, à maconha, ao crack. Todavia podemos repensar que a matéria também entra na esfera de medicamentos, álcool e tabaco, porém com visões menos alarmantes e debates menos cítricos a respeito dos mesmos.

O programa Roda Viva tem credibilidade no ramo do talk-show, entretanto pecou na ausência de contrapontos em relação ao assunto tratado. Poderia ter explorado outras vertentes e não deixado que Laranjeira se esquivasse das perguntas polêmicas e opostas a sua zona de conforto, prendendo-se ao trabalho de combate ao crack no estado de São Paulo, que ele mesmo coordena.

* Vídeo do programa completo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHRISTOFOLETTI, Rogério – Vitrine e Vidraça: Critica da Mídia e Qualidade no Jornalismo. In: LabCom Books, 2010.

http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-comportamento-de-ronaldo-laranjeira-no-roda-viva

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/de-volta-ao-roda-viva-ha-uma-diferenca-entrevista-e-militancia-em-favor-da-descriminacao-ou-legalizacao-das-drogas-ou-destrinchando-mais-um-pouco-a-patuscada-na-tv-cultura/

http://www.clinicalamedas.com.br/site/index.phpoption=com_content&view=article&id=55:profdrronaldoramoslaranjeira&catid=37:comfoto&Itemid=79%27

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