Posted by admin On janeiro - 30 - 2014

Raquel Lima

O Cidade Alerta é um programa policial produzido pela Rede Record. Foi transmitido pela primeira vez em 1995 e já teve como apresentadores José Luiz Datena, William Travassos, Reinaldo Gottino e atualmente Marcelo Rezende. É exibido de segunda a sexta-feira durante o fim de tarde e possui uma edição especial aos sábados, o “Cidade Alerta Especial”. O programa conta com transmissão ao vivo pelo seu site e com grande interatividade do público, seja por meio de compartilhamento nas redes sociais, enquetes, ligações ou o “fale conosco”, que são muitas vezes transmitidos ao vivo.

Por ser um programa de cunho policial, grande parte de suas reportagens envolvem o tema “drogas”, seja a violência causada pelo tráfico ou utilização da mesma. O tema é abordado independentemente do tipo de droga, seja cocaína, maconha, craque etc.

Os personagens das reportagens são pessoas comuns, moradores de várias regiões do Brasil, já que o programa tem alcance nacional, além de versões locais exibidas nos estados do RJ, PB, ES, BA, RN, PA, SC, CE, PR e PE.

O Jornalismo Policial e os riscos envolvidos no exercício da profissão

No programa, vários dos repórteres que saem às ruas, por lidarem com vários tipos de criminosos, correm diversos riscos, já que eles podem sofrer ameaças e retaliações de todo tipo. É o caso de Fabíola Gadelha, repórter de Manaus (AM), entrevistada no vídeo a seguir, por Marcelo Rezende.

- ASSISTA: Marcelo Rezende entrevista a repórter Fabíola Gadelha, de Manaus

Fabíola chegou a afirmar que, devido ao alto risco da profissão, anda somente com escolta policial:

— Eu ando escoltada em Manaus. A Record Manaus prefere manter policiais 24 horas do meu lado por conta de uma ameaça de uma facção criminosa que se sentiu prejudicada com algumas matérias. Mas isso não intimida o meu trabalho. Não será a primeira nem a última ameaça que eu recebi. Eu incomodo quem está errado e esse é o preço que eu pago por estar fazendo o que é certo.

Esse é um risco real pra todo aquele que deseja trabalhar em um ambiente envolto em violência. É o caso de Tim Lopes, famoso réporter investigativo, assassinado em 2002 por traficantes do Complexo Morro do Alemão, no Rio de Janeiro.

Em um crime que chocou o país, ele foi morto após subir ao Complexo com uma câmera escondida buscando flagrar o tráfico de drogas e a exploração sexual de adolescentes. Ele foi torturado, esquartejado e teve seu corpo queimado, por defender a liberdade de expressão e denunciar diversas atrocidades cometidas pelos traficantes, nos mostrando que a violência e o poder do tráfico são ameaças reais.

Tim Lopes

A opinião pública formada através do programa

Sabemos que a televisão é hoje o principal meio de construção da opinião pública. E que portanto, possui um papel indiscutivelmente importante dentro da sociedade. Por esse motivo, analisar como a população lida com o que é transmitido através de programas como o “Cidade Alerta” significa entender como a mesma aborda a questão da violência em geral.

As cenas de troca de tiros entre bandidos e policiais são constantes, e se repetem diversas vezes sem nenhuma nova informação, esse fato se repete durante as inúmeras transmissões do sofrimento das vítimas e as tragédias que estão vivenciando. Tudo isso sem que haja um questionamento ou debate maior sobre o assunto, levando o programa a ser repetitivo e vazio de conhecimento novo.

Como o programa apresenta, em sua maioria, situações que causam revolta na população derivadas do uso e/ou tráfico de drogas, o público do mesmo, em sua grande parte, considera certas manifestações, como por exemplo a marcha pela legalização da maconha, um grande absurdo, e exaltam até mesmo situações em que, durante uma troca de tiros, um bandido foi morto pela polícia. Claro que todos os telespectadores necessitam ter opinião formada em relação à temas tão importantes, mas o programa deveria desenvolver o pensamento do público e incitar o debate dentro da sociedade, e o que ocorre é apenas uma retaliação aos criminosos, sem que sejam abordados outros aspectos da questão.

O programa utiliza de sensacionalismo para manter a atenção do público, com ênfase nas imagens, na dramatização do acontecimento, no sofrimento e dor da vítima, e na proximidade do crime, levando o telespectador a refletir: “Isso poderia ter acontecido comigo”.

O uso exagerado de frases de efeito e imagens chocantes é quase absurdo. Os repórteres tentam, de toda maneira, levar o telespectador às lágrimas e à revolta pelo ocorrido utilizando meios desnecessários e não profissionais.

Apresentado em três etapas, o programa começa com chamadas dentro do estúdio, onde o apresentador mostra os principais acontecimentos que serão noticiados. A partir daí, passa para o repórter que acompanha o caso na rua, com depoimentos de envolvidos, testemunhas e policiais, para então retornar ao estúdio, onde o apresentador, Marcelo Rezende, faz algum comentário inflamado para instigar a população e causar alteração no ânimo do telespectador.

Como o programa foi formulado para correr de maneira dinâmica, Rezende fala com rispidez e certa autoridade, utilizando de ironia e humor em algumas partes do programa, modelo de apresentação que garante a audiência. O “show” é do âncora, e a matéria acaba de certa forma ficando em segundo plano. É o caso da enquete a seguir, que contêm humor a partir da aparência do apresentador, ou mesmo das matérias abaixo.

- ASSISTA: Marcelo Rezende brinca com roupa de Fabíola e chama repórter de Chiquinha

- ASSISTA: Marcelo Rezende brinca com gafe e diz que “Jornal Nacional” é um “jornal morto”

Para concluir, vemos que tudo o que é transmitido é mais do mesmo. Mostra-se uma cena trágica, vê-se o quanto nossa sociedade é perigosa e o quanto o Estado e a polícia ainda não ineficazes no combate ao crime. Ao público só resta reclamar da falta de caráter de alguns e a ineficiência do Governo. E, enquanto isso, diversos crimes continuam acontecendo, criando agenda para o dia seguinte, o que me faz pensar que a sociedade precisa refletir sobre novas maneiras de combate ao tráfico de drogas, porque, obviamente, as ações do governo não estão trazendo os resultados esperados.

 

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