Posted by admin On setembro - 24 - 2013

por Bárbara Monteiro, Carolina Brito, Daniela Gurgel,

Isadora Ribeiro e Maysa Alves

 

            Cracolândias são regiões de concentração do consumo em massa de crack.  Localizadas em espaços abandonados, principalmente dos grandes centros urbanos, elas se firmaram midiaticamente como problema de repercussão nacional a partir dos anos 2000. No Brasil, a Cracolândia de maior destaque é a localizada no centro de São Paulo, na região da Luz / José Paulino / Santa Efigênia. Sua formação data dos anos 1990, período em que a área historicamente conhecida como “boca do lixo” começou a receber migrantes amedrontados pelo cenário de violência e extermínio instalado nas periferias.

            Fruto do barateamento da cocaína pela fusão com outros componentes, o crack teve seu uso, a princípio, limitado a camadas mais vulneráveis. Negligenciado pelas autoridades, o consumo se espalhou por outras classes sociais e regiões mais remotas do país, ganhando uma abordagem na mídia como “epidemia”. O tratamento dado ao tema pela imprensa a partir de 2012 foi eleito como objeto de análise. Para tal, foram consideradas duas reportagens da revista Veja e cinco matérias do Jornal Nacional.

            O material coletado no site da Veja data, respectivamente, do mês de janeiro de 2012 e 2013. O primeiro, Cracolândia: uma terra sem pai, introduz a formação histórica da região em São Paulo, fazendo um percurso pelas gestões públicas e optando pelo enquadramento da questão política. O segundo, Os sobreviventes do crack, fia-se em fontes testemunhais para tratar da questão da internação compulsória implantada pelo governo do estado no início do ano, implicitamente apoiada pelo veículo. Nesse caso, expressões como “dependentes químicos” e “usuários de droga” são usadas para se referir aos indivíduos “pacíficos”, que entendem a necessidade e aceitam o tratamento; já o termo “viciado(s)” aparece em referência aos moradores de rua, considerados desordeiros e vândalos. “Limpo” é empregado para fazer menção ao estado de pessoas que largaram a droga.

            As matérias selecionadas do Jornal Nacional datam dos meses de janeiro e fevereiro de 2013 e abordam o tema da internação compulsória em São Paulo. O enquadramento é focado nos efeitos benéficos dessa iniciativa para os usuários. Contribui para isso a utilização dos familiares como fontes de cunho emocional. Os termos básicos que estruturam as matérias, no entanto, não são claramente definidos para o público, como o caso de “medida compulsória” e “medida involuntária”, presentes em todos os vídeos considerados. O enfoque, acima da questão social, está nas implicações da dependência da droga para os setores de saúde e segurança pública. Os termos “viciados” e “usuários” são constantes no tratamento dos dependentes.

            Nos dois veículos considerados, o teor alarmante das matérias é perceptível. Se por um lado é apreensível o apoio de ambos à prática da internação compulsória, por outro isso é pouco problematizado. O foco nos efeitos deixa a desejar na exploração dos meios para obtê-los. Nessa linha de raciocínio, o caráter epidêmico e sua ligação à saúde pública são predominantes. Junta-se a isso o item segurança pública, uma vez que os dependentes são tidos como uma perturbação da estabilidade do espaço público onde se concentram.

            O viés imediatista pelo qual as mídias tratadas encaram a situação reflete mais uma preocupação com a eliminação dos dependentes da droga do espaço público do que com o reposicionamento social dos mesmos após o tratamento. Nesse sentido, deixam de ser exploradas questões fundamentais como a falta de planejamento dos hospitais para receber a demanda e o risco que os dependentes representam acima de tudo a si mesmos. No caso, a culpa é colocada no fácil acesso à droga e na rapidez do vício quando, na realidade, centra-se efetivamente nas causas que levam os indivíduos socialmente desamparados a procurá-la.

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