Posted by admin On setembro - 3 - 2013

por  Carolina Lourenço, Caroline Gomes, Hiago Maia,

Nathália Souza e Viviane Ferreira

 

As manifestações ocorridas no Brasil, em que multidões se colocaram às ruas buscando melhorias em diversos setores sociais, atingiram grandes proporções. Prova disso é que os principais meios de comunicação aos quais estamos acostumados a utilizar no dia a dia, fizeram coberturas quase que exclusivas sobre esse tema. Surpreendentemente, estas manifestações ganharam visibilidade fora do país, sendo que alguns dos mais importantes jornais do mundo dedicaram espaço aos desdobramentos, como o Le Monde e o El País.

Abordando o movimento nas principais capitais brasileiras, o jornal francês Le Monde inicia sua cobertura sobre as manifestações populares no Brasil a partir da ocorrência das primeiras mortes em confrontos da população com a polícia militar. Um dos focos do jornal foi o vandalismo, enfocando exclusivamente a violência e as possíveis consequências do movimento. Houve ainda uma preocupação em posicionar o Brasil no cenário mundial, em especial correlacionado as manifestações com a Copa das Confederações. Aliás, é possível esse tenha sido um dos principais motivos para que essa questão fosse abordada pelo Le Monde, já que diante do evento esportivo a situação nacional se torna mais relevante para o mundo.

Preocupados com a veracidade dos fatos, bem como o agrupamento de uma boa quantidade de dados concretos, o jornal buscou informação em um dos principais veículos brasileiros, a Folha de S. Paulo. A metodologia encontrada pelo Le Monde para retratar a situação brasileira foi dividir a matéria em blocos. Em cada um deles constavam informações a respeito de uma das principais capitais — São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Além disso, notamos que o jornal não dedicou um espaço especial para apresentar as manifestações no Brasil, inserindo sua cobertura na editoria Internacional o que, de certa forma, pode dificultar o acesso por parte do leitor, dado que não garante um destaque maior ao conteúdo.

Em uma análise geral, o Le Monde apresenta com maior intensidade as consequências negativas das reivindicações, destacando casos de vandalismo, depredação e as mortes causadas, pecando por não apresentar uma contextualização das razões que levaram à eclosão do movimento.

Já o El País, um dos jornais mais influentes da Espanha, foi um dos veículos internacionais a dar mais destaque às manifestações no Brasil. Títulos como “Uma pergunta inquietante sobre os protestos brasileiros”, “Um morto em uma batalha entre manifestantes e a polícia em Fortaleza” e “É um protesto político, e não do povo” chamaram a atenção da população espanhola ao país do samba e do futebol.

As ponderações apontadas nas matérias sobre as primeiras manifestações traziam dados que serviam para dimensionar a situação. “Só no Rio de Janeiro cerca de 300.000 pessoas participaram, o triplo da passeata de segunda-feira. Em São Paulo foram 110.000; em Recife, 52.000.”, relatam na matéria “A vitória das manifestações leva mais gente às ruas”, publicada em 21 de junho.

Além de quantificar a insatisfação do brasileiro e fazer um questionamento sobre o futuro do país, o jornal faz questão de frisar a que as mudanças e soluções podem vir das urnas, quando nós brasileiros escolheremos nossos representantes durante as eleições. Em sua última publicação sobre as manifestações, “Os protestos no Brasil estão sendo sequestrados?”, no dia 16 deste mês, o jornal analisou os novos rumos das manifestações, abordando as ações violentas de alguns grupos extremistas como prejudiciais, uma vez que tiravam o foco das reais reivindicações e ameaçavam o regime democrático atual. A reportagem também aponta outro fator que vem ameaçando o movimento, o abandono nas manifestações por parte de quem buscava apenas um país mais justo. “Sociedade sem bandeiras e sem ideologias predeterminadas, que ansiava apenas por um país mais limpo, mais livre, mais moderno e com políticos menos corruptos, tenha começado a deixar de sair às ruas, que estão agora nas mãos daqueles que pregam a ‘estética da violência’”, relatam.

Durante as matérias notam-se elementos que situaram e contextualizaram os leitores sobre a situação político-econômica do Brasil. Dentre eles, podemos citar os levantamentos históricos sobre a política brasileira, a busca por fontes variadas que pudessem mostrar uma análise crítica das manifestações, as comparações com situações de luta de outros países — como o caso da Itália — e o posicionamento do governo e dos manifestantes.

            Ambos os jornais pecam no sentido de não relacionar os movimentos ocorridos no Brasil com eventos do mesmo cunho ocorridos anteriormente em outras partes do mundo. Alguns outros veículos chegaram a associar as manifestações à Primavera Árabe, como foi o caso da mídia japonesa, que se surpreendeu com o fato de isso acontecer em um país democrático como o Brasil.

Com base na análise geral da cobertura das manifestações no Brasil pela mídia internacional, percebe-se uma intenção velada de desconstruir a imagem do Brasil como sendo um país sem problemas. Algumas das fragilidades são expostas como a corrupção e as falhas institucionais, que podem por vezes ser fatos desconhecidos pela população além das fronteiras brasileiras.

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