Posted by admin On setembro - 3 - 2013

por Ana Rafaela Silva, Gabriel Koritzky, Gisela Cardoso,

Rosana Freitas, Rosianne Silveira

 

Nesse trabalho, busca-se analisar como os órgãos de crítica de mídia avaliaram a cobertura das manifestações brasileiras ocorridas nos meses de junho e julho de 2013. Vários órgãos foram utilizados na pesquisa, a saber: Observatório da Imprensa, Comunique-se, Mídia Sem Máscara e Midia@Mais, além, é claro, dos veículos de comunicação sobre os quais tais órgãos desenvolvem suas análises São eles, entre outros, os jornais “Folha de S. Paulo”; “O Globo”; “Diário de S.Paulo”, “Correio Popular”, “Estado de S.Paulo”; “Estadão”; e as revistas “Carta Capital”, “Veja” e “Época”.

De modo geral, a resposta da mídia às manifestações foi muito rápida. As primeiras grandes manifestações ocorreram nos dias 6, 7 e 11 de Junho em São Paulo. Essa última teve forte e instantânea repercussão nos meios de comunicação locais. No mesmo dia, o Observatório da Imprensa já divulgava a sua primeira de uma série de análises sobre o tema. A matéria “O que querem os manifestantes” foi ao ar na edição radiofônica do órgão[1], destacando um descaso da imprensa para com sua função informativa:“[...] a imprensa ainda não foi buscar as planilhas que demonstrem se o transporte gratuito é factível ou se os ativistas fazem muito barulho por nada.”

O enquadramento utilizado pelos órgãos foi, essencialmente, discursivo textual, e faltou uma análise mais profunda das imagens veiculadas pelos media. O argumento de cada um variou conforme sua linha editorial. O Observatório de Imprensa criticou a maneira como os jornais enxergam apenas o fato imediato (classificando a manifestação como parte de um movimento isolado, ou mesmo como um único grupo sem causa comum) e tendendo a não avaliar suas causas ou as responsabilidades dos governantes perante as reivindicações. Sua crítica se baseia principalmente na falta de apuração das informações.

Já o Mídia Sem Máscara, por sua vez, fez jus a sua linha editorial (de direita conservadora) “denunciando”, sem oferecer fontes, que as manifestações teriam sido articuladas pelo governo Dilma e por grupos globalistas[2]. Sua principal crítica à grande mídia brasileira e de que esta, segundo o órgão, estaria aclamando os manifestantes e dessa forma inflando manifestações subsequentes. Seu argumento se relaciona à idéia de que a mídia brasileira é fundamentalmente esquerdista e se organiza nesse sentido.

O Mídia@Mais, por haver uma linha editorial muito parecida com aquela do Mídia Sem Máscara, publicou notícias de cunho similar, de autoria própria ou de outros meios de comunicação (por vezes, os dois órgãos republicavam as mesmas notícias). Faltou, entretanto, a análise da cobertura da mídia. A seção “Mídia em foco”, que tem esse propósito em particular, contém apenas uma matéria relacionada às manifestações. A seguinte frase, presente na matéria, define como os dois órgãos observaram a cobertura da mídia no período: “Se um alienígena pousasse no Brasil no dia 23 de junho e, para se informar a respeito da onda de protestos, escolhesse os textos do Estadão (ou possivelmente de qualquer outro grande jornal brasileiro) iria ter uma compreensão totalmente distorcida da realidade dos fatos.”

O Comunique-se possui uma linha editorial semelhante a do Observatório de Imprensa. Além de analisar as produções midiáticas dos grandes meios de comunicação, o site possui suas próprias coberturas das manifestações. Algumas delas apenas relatam os fatos de maneira objetiva e direta. Já outras são de caráter opinativo, ou seja, pauta a opinião do autor após narrar o acontecimento.

Em particular na cobertura dos eventos, foi observado que todos os órgãos se desviaram em maior ou menor grau de sua função primária — aquela de analisar a mídia — para integrar a própria mídia na produção de novas notícias e análises. Assim como num primeiro momento todos os órgãos criticaram diretamente o vandalismo presente nas manifestações, durante todo o período os órgãos publicaram principalmente análises pessoais do momento político pontuadas com observações sobre a mídia nacional.

A cobertura midiática dos eventos, no geral, pode ser dividida em duas fases principais: a primeira fase está relacionada ao início das manifestações, quando a maioria das coberturas interpretava as manifestações como movimentos anárquicos e seus participantes como vândalos, além de apoiar as ações da força policial. Aos poucos, os enquadramentos utilizados por muitos meios de comunicação mudaram, a partir do momento que — segundo os sites de crítica — os jornalistas responsáveis pela cobertura passam a sofrer com os abusos da ação policial. Sendo assim, surgiram apurações mais detalhadas sobre os protestos, destacando a violência policial, assim como o vandalismo ainda presente durante as manifestações. Além disso, a força das manifestações pelas redes sociais também foi considerada crucial na nova cobertura, abrindo um canal de comunicação de maior transparência.

De acordo com o Observatório da Imprensa, os pontos importantes da virada da cobertura foram: uma descrição feita por Elio Gaspari, da Folha e do Globo, sobre a forma em que uma equipe da tropa de choque deliberadamente provocou tumulto; um vídeo de um PM quebrando a própria viatura; e a legenda na Globo News colocada, durante a noite, sob imagens dos conflitos: “Polícia fecha a Avenida Paulista para evitar que manifestantes fechem a Avenida Paulista”.

Em relação aos elementos articulados que os contrapõem à mídia analisada, os sites de crítica, principalmente o Observatório de Imprensa e Comunique-se, também afirmam que em busca de uma objetividade, os jornais perderam o rumo da análise sobre a natureza do evento — para abordar essas questões de maneira mais ampla, seria preciso que a imprensa fosse menos direcionada para os fatos específicos e mais interessada nas problemáticas que esses acontecimentos representam. Também é ponderado que houve uma dificuldade dos jornais encontrarem as reais causas das manifestações.

Pode-se concluir que, de acordo com a análise, a resposta da mídia aos protestos foi imediata, sendo o Observatório da Imprensa o primeiro site de crítica a analisar o tema. Em relação ao enquadramento, os sites, em sua maioria, abordam a questão da ênfase dada ao vandalismo nas manifestações pelos grandes veículos de comunicação. Também ressaltam o fato da revirada das coberturas jornalísticas. Ou seja, conforme mencionado anteriormente, os meios de comunicação focavam fortemente na questão do vandalismo até que a própria mídia passou a ser atacada pela violência policial, o que alterou o direcionamento de sua narrativa.



[1] Curiosamente, essa primeira matéria já fazia uma comparação entre a manifestação daquele dia e a revolta contra a ditadura na década de 1970.

[2] O site define “globalistas” como “aqueles que querem implantar o governo mundial imediatamente, em prejuízo dos Estados nacionais” (artigo “Equívocos de Roberto Damatta”, 08 de Agosto de 2013)

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