Posted by admin On setembro - 3 - 2013

por Bruna Lapa, Filipe Monteiro, João Gabriel Nani,

Osmar Lopes, Pedro Gomes

A cobertura televisiva dos protestos que ocorrem no Brasil desde junho deste ano possuiu uma narrativa fragmentada, assumindo diferentes perspectivas e posicionamentos no decorrer dos manifestos. A partir da análise do conteúdo midiático veiculado nos canais Globo, Band e Globo News, no período de maior repercussão dos protestos, pode-se notar que a narrativa possuiu três etapas bem demarcadas ao longo do processo de cobertura das mobilizações.

O Movimento Passe Livre – MPL, que foi o marco inicial dos outros protestos, passou a ser noticiado com ênfase nacional após a passeata que ocorreu no início de junho em função do aumento da tarifa de transporte público. Devido ao confronto entre policiais e manifestantes, a primeira fase da cobertura foi marcada pelo repúdio ao movimento e ao apoio dado à Polícia Militar. No momento, o conteúdo veiculado limitou-se a classificar o movimento como um ato de baderna e vandalismo. Pode-se constatar tal postura analisando as três emissoras. Embora os programas fossem diversos e a maneira de narrar também, o discurso se firmava sobre os mesmos argumentos.

Em um segundo momento, após casos em que jornalistas também sofreram ataques abusivos de policiais durante as manifestações, a narrativa da cobertura midiática se transformou. Ao mesmo tempo, o próprio movimento sofreu mudanças, assumindo um caráter mais contestador do que o iniciado pelo MPL.  A onda de protesto invadiu o país e outras causas aderiram ao Movimento, ampliando seus motes e incluindo entre as reivindicações a queda de PECs, a transparência dos investimentos nas Copas, entre outros. O protesto, antes rejeitado, passou a ser visto como legítimo, mesmo que a imprensa ainda criticasse os casos de vandalismo.

Esse posicionamento pôde ser visto na edição de 13 de junho do programa Brasil Urgente, apresentado por José Luís Datena. Na ocasião, o apresentador fazia seu discurso sobre os protestos, com ênfase nos atos violentos, na baderna e no vandalismo quando lançou a seguinte enquete: “Você é a favor desse tipo de protesto?”. Para a sua surpresa, a resposta foi afirmativa. Não satisfeito, Datena lançou outra enquete: “Você é a favor de protesto com baderna?”. O resultado reafirmou o anterior, com mais de 2000 votos afirmativos. Após o ocorrido, Datena mudou de discurso e passou a enaltecer a manifestação, dizendo, inclusive, que se tratava de um movimento pacífico.

 No entanto, o discurso midiático não criticou a truculência policial, classificando-a apenas como instrumento de controle. Nesta segunda fase, o aumento da inflação ganhou destaque à medida que foi retarado como uma das causas da revolta da população, principalmente nas edições do Jornal Nacional, da Globo. Tanto a Globo como a Band e a Globo News suspenderam, nesse período, a sua programação noturna usual para noticiar ao vivo as manifestações em Brasília. Na Globo, a cobertura dos eventos nesse dia coube à equipe do Jornal Nacional, que,  devido às pressões por parte de manifestantes, telespectadores e redes sociais,  já trazia uma nova narrativa, apoiando o movimento.

Alguns temas se tornaram recorrentes durante a terceira etapa da cobertura televisiva. Ao descrever as manifestações como movimentos apartidários, a mídia passou a apoiá-los e a incentivar a participação popular. Em seguida, as negociações entre manifestantes e os dirigentes entraram em pauta, cujo principal enfoque delimitado pela imprensa foi a ausência de uma liderança representativa nos protestos. Devido à grande repercussão alcançada pelo movimento em âmbito mundial, as conquistas obtidas — como a queda de PECs e a diminuição da tarifa de transporte público — foram noticiadas com um caráter otimista frente a novas manifestações. No entanto, após o lançamento de medidas governamentais que atendiam a parte das negociações, os movimentos perderam espaço nas coberturas midiáticas.

Categories: Destaque

Leave a Reply