Posted by admin On agosto - 20 - 2013

por Bárbara Monteiro, Carolina Brito, Daniela Gurgel, Isadora Ribeiro, Maysa Alves

As manifestações populares que protagonizaram o espaço midiático nacional no mês de junho tiveram como alvo inicial o aumento das tarifas do transporte público. Apesar da amplitude adquirida a partir da segunda semana de junho, os primeiros atos de protesto registrados remontam ao mês de março no Rio Grande do Sul, quando a população de Porto Alegre foi às ruas contra o reajuste de R$ 0,20 nas passagens.

A gradação dos movimentos públicos pelas regiões do país foi acompanhada pela incorporação de novas demandas, como a extinção da PEC 37, os exacerbados gastos com a Copa de 2014, a baixa prioridade dada à saúde e à educação e a “cura gay” (projeto de lei que prevê tratamento psicológico para alterar opção sexual de homossexuais). De forma sintética, o descontentamento com as instituições públicas e com a corrupção nortearam as demandas populares.

A progressão das contestações incitou ações repressivas da polícia, o que fomentou a representatividade nacional dos manifestos, conferindo-lhes força gradual. Articulados em torno de causas comuns edestituídos de uma liderança centralizada, os manifestantes se organizaram por meio das redes sociais, especialmente o Facebook.

Notabilizaram-se como atores os jovens universitários usuários do transporte coletivo. Vale frisar ainda função das universidades como ponto de convergência de deliberação ideológica das pautas reivindicadas. Com destaque ao Movimento Passe Livre (MPL), definido pelo apartidarismo, mas não pelo antipartidarismo, também atuaram nesse arranjo partidos de esquerda (PSOL, PCB, PCO), sindicatos de trabalhadores, minorias organizadas, defensores de iniciativas individuais e outros grupos diversos.

O enquadramento adotado pela mídia variou conforme a expansão dos movimentos. A princípio, os veículos optaram por rotular os manifestantes como baderneiros; diante da progressão das contestações, o heroísmo passou a ancorar novas estratégias de discurso. A associação com protestos pertinentes à memória coletiva nacional, como os “Caras Pintadas” que atuaram no processo de impeachment do presidente Collor (1992), também foi empregada pela imprensa. Quanto à repercussão internacional, as reivindicações nacionais foram pautas em jornais como o El País e The New York Times.

Embora frequentes, as manifestações tinham caráter predominantemente local. A partir do dia 17 de junho, esse quadro se altera, quando focos de protesto foram registrados em várias capitais brasileiras. O discurso proferido pela presidenta Dilma em rede nacional, no dia 21 de junho, assim como sua sucessiva proposta de reforma política, são demonstrações da pertinência das articulações populares.

Do inicial descontentamento com o serviço de transporte público à extensão de seu alcance a prerrogativas políticas maiores, as manifestações já resultaram na queda da PEC 37, na transformação da corrupção em crime hediondo e na redução das tarifas de transporte coletivo (não em todas as cidades). Tais desdobramentos denotam o caráter não efêmero dos movimentos, bem como sua pertinência à efetivação do regime democrático.

Nas postagens seguintes aqui no Cítrico, veremos como a mídia realizou a cobertura das manifestações. Em cada uma das postagens, será dado enfoque a uma mídia específica. Acompanhe as nossas análises.

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