Posted by admin On abril - 19 - 2013

Por Lídia Ferreira, Mariana Borba, Nathália Viegas e Tamires Duarte

Pautas acerca da temática Infância e Juventude estão presentes diariamente nos grandes meios de comunicação nacionais. Mas será que o mesmo acontece em um jornal da cidade de Mariana, MG? A proposta desta crítica é baseada em uma análise de dois meses do Jornal “A Semana” – de 3 de janeiro a 21 de fevereiro de 2013 –, para chegar a essa resposta.

 

Se é difícil visualizar critérios exatos sob a produção dessas críticas, provavelmente isso se dá em função da natural complexidade do campo analisado (Bourdieu, 2005), construído a partir de julgamentos editoriais com posicionamentos éticos multifacetados, limitações de tempo e espaço inerentes ao ofício, ambiguidades, polissemias e injunções de toda ordem. (VITRINE E VIDRAÇA, 53-68)
Os critérios utilizados nesta análise foram claros e pautados no Portal ANDI[1]. Durante a análise, observou-se: 1) Abordagem do tema – estereótipos e pré-julgamentos, didatismo e clareza, menção à legislação e às políticas públicas relacionadas; 2) Elaboração do produto – factual ou pontual, se há presença de recursos gráficos; 3) Fontes e atores – espaço dedicado à temática e preocupação em situar o leitor, apresentando o maior número de fontes; 4) Código de ética da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); cada tópico, para uma análise mais aprofundada, subdividido.

 

Como objeto de análise, escolhemos o jornal “A Semana”. Fundado em 24 de junho de 2004, traz semanalmente notícias da cidade de Mariana, além de Ouro Preto, Itabirito e Acaiaca, em Minas Gerais. Circulando as quintas-feiras, com uma tiragem de 5.000 (cinco mil) exemplares, é distribuído gratuitamente em bancas de revista e comércio local, tendo como público alvo a classe C.

 

Abordagem do tema

 

A análise crítica das matérias estudadas aponta para a sub-representação ou representação distorcida de identidades sociais, fundamentadas na chamada política de identidade, que se caracteriza pela afirmação e defesa da singularidade cultural dos grupos oprimidos ou marginalizados.

 

Na edição 460, o jornal inicia a matéria sobre a morte de um jovem com a seguinte expressão: “Um crime bárbaro…”. Entende-se por bárbaro, de acordo como dicionário Aurélio, o que é sem civilização, rude, cruel, desumano, nessa perspectiva a adjetivação usada induz a um pré-julgamento do autor do crime e em defesa da vítima.

 

Na edição 463, a matéria sobre a morte de um adolescente pela PM usa o termo “criminoso”.  Entende-se por criminoso, de acordo com o dicionário Aurélio, que ou aquele que comete ou cometeu crimes; delinquente, facínora, celerado; culpado. Entretanto só se considera um indivíduo culpado após julgamento, principalmente ao se tratar de menor de idade. Portanto o uso do termo expressa desconsideração com a dignidade da pessoa humana.

 

Nas matérias analisadas a explicação das causas e efeitos se restringe ao factual e se dá de forma sucinta, sem maiores detalhamentos. Há ausência de desdobramentos e consequências sobre os casos citados. Falta informação e o uso de palavras e expressões repetidas deixa o texto confuso. As notas não são expostas de forma clara e didática.

 

Na edição 463, a matéria: “Adolescente é morto pela PM após se recusar a liberar refém” apresenta a seguinte oração: “Um adolescente de 17 anos foi morto durante uma abordagem policia em Ouro Preto na manhã de sexta-feira (8), após se recusar a liberar uma mulher que fazia o mesmo refém dentro de uma casa.”. O texto é ambíguo e não é possível identificar quem é o refém, o adolescente ou a mulher.

ponto final10


Das oito edições analisadas, a 461 e 464 fazem referência às políticas públicas no âmbito da temática Infância e Juventude. Ambas as matérias falam sobre educação. Nesse contexto o ensino e a saúde no Brasil são direitos universais de todos os brasileiros. Assim, para assegurá-los e promovê-los estão instituídas pela própria Constituição Federal as políticas públicas de educação e saúde.

 

A abordagem é restrita ao evento relatado, não apresentando de forma completa e pertinente as diretrizes da Educação, como política pública. Apenas na edição 464, a matéria: “Prefeitura nega a pretensão de reduzir verba para educação”, que se faz referência a Legislação que concerne a Educação. Entretanto são reproduções de notas publicadas em redes sociais.

 

Elaboração do produto

 

A edição 460 traz a notícia “Rapaz de 18 anos é morto e carbonizado”. A utilização do adjetivo “bárbaro” para qualificar o crime, distancia a matéria da maior objetividade possível. Entretanto, é específica em relação ao crime, quanto à escolha das fontes e a narrativa dos fatos. O enquadramento apresentado coloca a idade da vítima do crime como fator atenuante para o critério de noticiabilidade[1].

 


ponto
A matéria “Oito mil alunos voltam às aulas”, da edição 461, restringe-se a informar a data de retorno às aulas dos alunos da rede pública. A partir daí, é colocada a intenção de aumento do Índice de Desenvolvimento Educacional (IDEB), pela secretária de educação.

Por fim, a grade curricular alterada para o próximo semestre é exposta no último parágrafo. O enquadramento temático coloca o jovem como papel secundário na notícia. Mesmo que se fale da volta às aulas, os planos da secretária ocupam um espaço maior que o estudante na matéria.

 

Por se tratar de um artigo de opinião, “Fraternidade e Juventude” na edição 463, página 2, o professor e advogado, Israel Quirino, não relata os fatos brutos, ele faz referencias a situações sociais para embasar seus argumentos. O único recurso utilizado é uma charge do Papa Bento XVI ao lado do Renan Calheiros, que ilustra a crítica feita no artigo. O Papa representa a campanha da fraternidade da Igreja Católica, e o político Renan Calheiros à situação de descaso estatal que o professor pontua como um agravante para a melhoria na educação nas escolas da rede pública. O enquadramento do texto é feito a partir da condição do jovem “vítima” de um sistema do governo. O autor coloca a atuação do Estado como o principal meio de profissionalização e para recuperar os jovens do contexto de violência e drogas em que se encontram.

 

Já na página 6 da mesma edição, a matéria “Adolescente é morto pela PM após de recusar a libertar refémtem um espaço bastante reduzido no jornal. O enquadramento abordado aponta um jovem criminoso, um assassino em potencial. Logo, é um tipo de enquadramento negativo que reforça as estatísticas criminais da região.

 

Na edição 464, página 4, frases como: “Polêmica à vista na câmara” e “o projeto tem sido alvo de críticas da oposição” são impressões do jornalista que não fazem parte do factual da matéria “Prefeitura nega a pretensão de reduzir verba para educação”. Uma foto de um político não identificado é o único recurso de imagem adotado na matéria. O enquadramento temático que é exposto coloca a situação regional da educação como problema a ser discutido na câmara por vereadores da cidade.

 

Poucas matérias apresentaram algum tipo de recurso gráfico e quando presentes são colocados sem uma legenda que complemente o sentido da matéria.

 

Fontes e atores

 

De oito edições analisadas, apenas quatro continham notícias sobre infância/juventude. Dessas quatro edições, há apenas 7 notícias. Elas ficam dispostas, em sua maioria, no lado esquerdo da página e na parte inferior, apenas a matéria “Prefeitura nega a pretensão de reduzir verba da Educação” encontra-se na parte superior.

Há prioridade para o assunto apenas na edição 464, em que ela ocupa o espaço de maior destaque da página, sendo a única que possui foto. O tema infância/juventude é tratado como pauta secundária, visto que o espaço dedicado é visivelmente menor que a editoria de política, ou até mesmo o carnaval. Um exemplo disso é a notícia “Adolescente é morto pela PM após se recusar a libertar refém” que está abaixo da notícia principal do jornal.

 

As fontes apresentadas na maioria das matérias são oficiais. Na notícia “Prefeitura nega a pretensão de reduzir verba da Educação”, edição 464, as fontes são amplas, visto que nos depoimentos presentes há a dualidade de opiniões, fechando com citação da Constituição, trazendo um peso maior ao que é afirmado.

 

Na edição 463, na notícia “Adolescente é morto pela PM após se recusar a libertar refém” a fonte policial traz, juntamente com os detalhes do caso, falas do depoimento da refém. Em contrapartida, os familiares da vítima tornam a matéria mais humana. Já em “Oito mil alunos voltam às aulas” foi procurada uma fonte credenciada para tratar do assunto. Nesse caso, há a necessidade de ampliar a quantidade de entrevistados.

 

Não há depoimento de qualquer representante oficial da universidade na notícia “Ufop realiza ação para conter a bebedeira de estudantes”.Apenas expõe-se o que foi divulgado em redes sociais e no site da universidade. Depoimentos de alunos e principalmente, de alguém ligado diretamente ao “Avalie seu consumo” [1], enriqueceriam o conteúdo.

 

No jornal de número 460 as duas matérias de autoria do A SEMANA apresentam escassez de fontes e abordagem unilateral. Coletar depoimentos de amigos e familiares da vítima, e laudo do IML com a data da morte, são formas de enriquecer a matéria, humanizando-a e ao mesmo tempo apresentado detalhes fundamentados. SAMU e Corpo de Bombeiros poderiam ter apoiado com depoimentos sobre o acidente da matéria “Acidente fatal de bicicleta mata jovem”. Já a notícia “Bebê que se afogou em balde é transferido para enfermaria” não é uma notícia escrita pela redação do jornal A Semana. É uma notícia produzida para a web e recortada de outro meio de comunicação, porém as fontes dão conta da temática.

 

Código de ética

 

O interesse público é um valor-notícia que além de ser relevante ao público, presta serviço e o informa. O Código de ética dos jornalistas esclarece que toda informação que tenha cunho público deve ser divulgada independente dos valores da empresa jornalística.

A matéria “Adolescente é morto pela PM após se recusar a libertar refém” do jornal A Semana, traz informações que interessam às pessoas que moram na comunidade em que ocorreu o crime.

A educação de crianças e adolescentes é um assunto que interessa às pessoas que frequentam ou trabalham em escolas, e as edições 461 e 464 trazem essa abordagem, nas matérias “Oito mil alunos voltam às aulas” e em “Prefeitura nega a pretensão de reduzir verba da Educação”. Na notícia a questão da obrigação social se apresenta como uma prestação de serviço. Os pais e alunos podem se informar sobre o retorno das atividades escolares através do jornal.
O compromisso com a veracidade dos fatos é cumprida quando as matérias trazem fontes oficiais como a Polícia Militar e a Secretaria de Educação do município. Porém, é necessário ouvir várias fontes sobre o ocorrido para se aproximar ao máximo da verdade, como é ressaltado no Art. 12, parágrafo primeiro.

Art. 12. O jornalista deve:
§ 1º – ressalvadas as especificidades da assessoria de imprensa, ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas;”.

Na matéria “Adolescente é morto pela PM após se recusar a libertar refém” a utilização de fontes, além da oficial, permite uma visão mais próxima do fato. Já na matéria “Oito mil alunos voltam às aulas” e em “Prefeitura nega a pretensão de reduzir verba da Educação”, apenas uma fonte é utilizada para apurar a matéria.
A notícia presente na edição 460 do jornal A SEMANA, traz uma matéria que já possui uma carga sentimental pesada não necessitando de palavras que caracterizam e aumentem o que é salientado pelo Art. 11, parágrafo segundo.

Art. 11. O jornalista não pode divulgar informações:
§ 2° de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes;

Quantificação

Edição Caracteres

460 563
461 1279
463 1272
464 1455
Conclusão

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a criança e o adolescente passaram a gozar de prioridade absoluta com relação a outros temas de relevância social. Sobreveio o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal nº 8.069/90), reafirmando esses direitos essenciais e a noção de prioridade absoluta com que deve ser tratada a questão infanto-juvenil.

A análise crítica da repercussão dessa temática, em um cenário das mídias sociais locais teve por objetivo constatar a frequência e a relevância com que o tema foi tratado. Na prática, observou-se que na abordagem do mote são usados de maneira arbitrária adjetivos pejorativos e que infligem à constituição, caracterizando-se crime, como a utilização de “criminoso”.

No que se refere à construção da matéria, em especial a técnica da escrita, as orações são redigidas de maneira confusa e ambígua. As ideias são restritas e não são expostas de maneira clara e didática. São raras as abordagens que possuem uma contextualização, que faça uma reflexão ampla e consistente sobre o assunto.

São, portanto, vastas as possibilidades de abordagem que norteiam a temática Infância – Juventude que não são utilizadas tem-se como exemplo a Legislação e as políticas públicas.

No que concerne a elaboração do produto, as matérias são constituídas por perspectivas que não visam uma contextualização histórica e social, mas sim que se restringem ao factual e obsoleto. Recursos gráficos são raramente utilizados e não há preocupação no tratamento da identidade visual.

Os enquadramentos, repetidas vezes colocam o jovem em um papel social secundário e até mesmo dispensável, no qual a política e o carnaval tornam-se assunto principal em detrimentos dos outros. Ressalta-se ainda o espaço que o jornal dispõe para a temática Infância e Juventude. Em 8 edições, apenas 4 tratam do assunto, sendo que a maior matéria possui 1455 caracteres.

Quanto às fontes nota-se uma escassez e uma abordagem unilateral. Nesse contexto criam-se interpretações parciais e subjetivas, onde todas as possibilidades de fala não foram relatadas.

Por fim, no que diz respeito ao jornalista como indivíduo, que deve ser pautado pelo Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, percebe-se graves falhas de conduta. Uso de valores sensacionais a partir de palavras fortes e chamativas. Além do pré- julgamento dos atores sociais presentes.

Criada formalmente em 1993, mas atuando de maneira voluntária desde 1990, a ANDI é uma organização da sociedade civil, sem fins de lucro e apartidária, que articula ações inovadoras em mídia para o desenvolvimento. Suas estratégias estão fundamentadas na promoção e no fortalecimento de um diálogo profissional e ético entre as redações, as faculdades de comunicação e de outros campos do conhecimento, os poderes públicos e as entidades relacionadas à agenda do desenvolvimento sustentável e dos direitos humanos. (Portal ANDI: www.andi.org.br – acessado em 01/04/2013)

Valor-notícia é um valor subjetivo que determina a importância que um fato ou acontecimento tem para ser noticiado. Por este motivo é também designado de critério de noticiabilidade. Todo o processo envolve a caracterização dos fatos, o julgamento pessoal do jornalista, as condições da empresa de media, a qualidade do material (texto e imagem), a relação com as fontes e com o público, os fatores éticos e circunstâncias históricas, políticas, econômicas e sociais. Temos então de considerar valor-notícia e seleção de notícias como conceitos exclusivos da noticiabilidade, porque o valor atribuído a determinado fato faz com que ele seja ou não selecionado para ser notícia.

A campanha de conscientização “Avalie seu consumo” faz parte de estratégias da Universidade Federal de Ouro Preto com o objetivo de promover mudanças no consumo de drogas lícitas e ilícitas, principalmente no meio universitário. A ação apresenta informações sobre os tipos de droga, seus efeitos e consequência para a saúde física e mental e os riscos envolvidos no processo. No endereço www.avalieseuconsumo.ufop.br serão publicados textos que abordam o tema, produzidos com o apoio de profissionais das áreas de saúde, psicologia e serviço social.

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