Posted by admin On abril - 14 - 2013

Por Ana Luísa Reis, Dalilia Caetano e José Sampaio

 

Um estudo feito pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância – ANDI, comprovou que a cobertura da violência contra a mulher feita pela mídia não é devidamente ampliada em sua discussão como deveria ser. Os aspectos complexos e multidirecionados do tema ganham formato individualizado. Ao invés de uma abordagem mais completa, os veículos midiáticos preferem apenas reportar casos isolados da questão.

 

 “A principal característica da cobertura dedicada ao tema é a individualização do problema, ou seja, o noticiário se limita a abordagem de casos pessoais, em detrimento de uma perspectiva que contemple a dimensão pública da questão, exigindo respostas das diferentes instâncias do Estado e da própria sociedade.” Trecho do estudo publicado pela ANDI

 

Análise feita pela ANDI sobre a cobertura das editorias sobre o tema MULHER (legenda foto abaixo)

 

 

Recentemente o noticiário foi amplamente ocupado pela pauta do desaparecimento de Elisa Samúdio. Além do sensacionalismo, houve apenas o interesse da imprensa em noticiar o julgamento, ao invés da discussão do assunto como um todo, traçando paralelos entre casos não esclarecidos ou mesmo falando sobre a importância em denunciar as agressões por exemplo.

 

A exibição e a circulação de fatos e imagens da mulher são taxativas, machistas e porque não dizer constrangedoras, sobretudo para as mulheres. Internet, jornais e revistas inferiorizam e transformam a mulher pejorativamente em objeto de desejo sexual. Sejam através das peças publicitárias, seja por meio de produções televisivas como novelas e programas humorísticos, seja pelas letras de músicas ou mesmo pelo espaço dado as mulheres frutas.

 

A banalização do sexo, a igreja e seus dogmas e preconceitos atrelados a forte tendência machista da sociedade, influenciam totalmente na cobertura dos fatos relacionados à mulher.

 

No Brasil, segundo dados do estudo Donos da Mídia, do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), existem 9.477 veículos de comunicação, mas apenas quatro grupos nacionais controlam diferentes mídias e conglomerados, gerando um evidente monopólio informacional, o que por consequência acaba gerando a má qualidade na discussão de gêneros, em detrimento da discussão das diferenças.

 

A Rede Globo de Televisão possui 340 veículos, o SBT tem 195, a Rede Bandeirantes, 166, e a Rede Record, 142. A comunicação concentrada e copiada entre as mesmas se constitui um fundamental instrumento ideológico das classes dominantes. A falta de diversidade do mass midia ou o mesmo discurso ideológico compartilhado pela maioria da grande mídia imprime e dita um senso comum na abordagem da figura feminina. São estabelecidas ideias, conceitos e o famoso “padrão de beleza”.

 

Os tabloides brasileiros se assemelham em vários aspectos. Os dois principais jornais deste estilo em Minas Gerais, Super Notícia e Aqui, o primeiro do grupo O tempo e o segundo do Estado de Minas, mantem um padrão em suas capas e ao longo do periódico que parece ser universal. Uma manchete policial no centro, algumas menores, uma manchete sobre futebol e uma “mulher gostosa” em um dos cantos da página. No interior do noticioso, quando não retratadas nas páginas policiais, as mulheres são mostradas quase que somente nas colunas sociais e quase sempre como “sex symbol’s”.

 

Iremos fazer uma análise do conteúdo do jornal SUPER NOTÍCIA, abordando a maneira como as mulheres são retratadas nas reportagens.

 

O Super Notícia é um jornal de circulação nacional com cerca de 20.000 exemplares publicados por dia. O SUPER traz propagandas, matérias e fotos, e é dividido em quatro editorias maiores (cidades, geral, variedades e esportes). Com páginas bem coloridas, o jornal chama à atenção dos leitores. O valor da edição é R$0,25 (vinte e cinco centavos). Em cada página ele traz uma ou várias notícias acompanhado de propagandas, inclusive sobre suas promoções. Outras páginas são dedicadas exclusivamente às propagandas.

 

Na edição de número 3.959 a figura de uma mulher seminua é estampada ao lado esquerdo da página de capa. A página 3 da editoria de cidades traz dois relatos de violência contra a mulher e o título dessa notícia é escrito em letras garrafais em cor vermelha que além de ser uma cor vibrante.

 

De acordo com a ANDI, a violência contra mulher em termos de abrangência e aprofundamento investigativo de conteúdo ainda encontra desafios, pois nem todas conseguem denunciar os casos. Por meio de um estudo realizado pela Agência, com base em um monitoramento de 16 jornais impressos de todo país entre janeiro e dezembro de 2010, foi verificado que o foco majoritário desse tipo de cobertura está em casos individuais, relatos a partir de viés policial, negligenciando uma abordagem mais ampla do problema.  De acordo com dados coletados 73,78% das notícias que abordam a violência contra a mulher trazem um enfoque individual.

 

A análise de dados permite afirmar que o assunto se torna público especialmente quando ocorrem casos mais brutais de violência – sobretudo se a agressão for cometida com crueldade, como ocorre nos exemplos publicados pelo jornal Super Notícias. No conjunto das matérias analisadas, pouco mais de 13% dos enquadramentos principais estão relacionados ao Estado e suas ações para prevenção e combate ao crime.

Ainda na editoria de cidades, na página 6, o jornal publicou uma foto de uma mulher com o objetivo de incentivar as pessoas a participarem do Prêmio Bom Exemplo 2013. Esse projeto premia pessoas que prestam algum tipo de serviço que ajuda a melhorar a comunidade.

 

No número 3.964, Analisaremos como o tema “MULHER” é tratado pelo noticioso. Nesta edição, como é comum em todas as outras capas do SUPER, tem a presença de uma mulher seminua em destaque do lado esquerdo da página. A capa tem uma manchete sobre uma notícia de violência contra a mulher. Na página 3, na editoria de cidades, há exclusivamente uma matéria sobre mulheres que foram autuadas por estarem dirigindo bêbadas. E na página 4, do lado esquerdo, o relato do caso da violência contra a mulher que era destaque na capa.

 

Na editoria geral, página 15, o SN publicou uma matéria intitulada “Mutirão para agilizar apoio a mulheres”, que fala sobre mulheres que, amparadas pela Lei Maria da Penha ao sofrerem qualquer tipo de violência, denunciam imediatamente seus agressores. O intuito da matéria é justamente dar apoio a este tipo de ação visto que muitas mulheres vítimas de violência ainda resistem em denunciar os abusos.

 

Para reforçar esta nova postura das mulheres frente à violência doméstica, a ANDI publicou (em observatório Brasil da igualdade de gênero) uma matéria  mostrando que, de acordo com a pesquisa DataSenado, 66 % das mulheres se sentem mais protegidas com a Lei Maria da Penha.

 

Já na editoria de esportes a conotação de objeto sexual é ressaltada na matéria “Musas do Mineiro” mostrando mulheres saradas em trajes devidamente curtos.

 

Número 3.965. Nesta edição não foi publicado nenhuma matéria relacionada a Mulheres.

 

Veículo Super Notícia – 1° EDIÇÃO – MINAS – Belo Horizonte, 28 de  Fevereiro de 2013, número 3.946. Nesta edição não foi publicado nenhuma matéria relacionada a Mulheres.

 

Concluímos com a análise do Super Notícias, segundo as normas da ANDI, que a figura da mulher continua sendo estereotipada como “objeto sexual”, e sendo vítimas de violência. Pouca ou nenhuma voz é dada a elas como fontes nos noticiários de violência e pouco é falado pelos órgãos de assistência com relação à violência contra a mulher.

 

 

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