Posted by admin On abril - 12 - 2013

Por Ana Paula Rodarte, Diana Lourenço Luiz, Flávio Ernani da Costa.

Crianças e a associação de imagens

A exploração das crianças, tanto no que tange a sua imagem quanto às escolhas do vocabulário mais adequado para retratar notícias que as envolvam, é objeto de estudos promovidos pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância. Dessa forma, a ANDI vem promovendo critérios para que se constituam críticas sobre a influência dos meios de comunicação ao indivíduo ainda criança. Em uma das publicações colaborativas e disponibilizada pela Agência é possível compreender o que a autora, Inês Sampaio, destaca como “lógica de comercialização da infância”.
“O processo de intensificação do acesso das crianças às mídias vem seguindo, lamentavelmente, a lógica da comercialização da infância. A descoberta de que as crianças e os adolescentes constituem mundialmente um mercado rentável tem ocasionado o desenvolvimento do marketing infantil e a intensificação da publicidade dirigida a este segmento. Linn (s/d) chama atenção para o fato de que as crianças hoje são:
(…) bombardeadas com mensagens (…). Seu envolvimento com a cultura comercial é muito diferente da experiência de marketing e publicidade conhecida por seus pais”. (Sampaio, 2009, pág. 13)

A partir deste viés que aborda o mercado de consumo infantil, analisamos cinco edições impressas do jornal Ponto Final, referentes aos meses de novembro e dezembro de 2012. O jornal traz notícias sobre Mariana – MG e regiões próximas à cidade.
O jornal não possui editorias bem definidas, há notícias policiais em páginas com informações sobre vagas de emprego, e algumas de tragédias no mesmo espaço em que há notícia sobre campeonatos infantis. Sem haver uma delimitação dos assuntos que serão noticiados, pode ocorrer uma associação da imagem de crianças a um lado negativo da sociedade – o crime.

ponto final

 

 

 

 

 

 

 

 

Após analisarmos as páginas de todas as edições do Ponto Final, chegamos à conclusão que em um total de 58 crianças, que aparecem nas referidas páginas, mais de 50% têm suas imagens veiculadas em espaços intitulados “Sociais” ou relacionadas a campanhas publicitárias de Beleza e Moda. Assim, as crianças expostas a esse impresso acabam incorporando padrões estéticos intensificados por esse veículo de comunicação.

Após analisarmos as páginas de todas as edições do Ponto Final, chegamos à conclusão que em um total de 58 crianças, que aparecem nas referidas páginas, mais de 50% têm suas imagens veiculadas em espaços intitulados “Sociais” ou relacionadas a campanhas publicitárias de Beleza e Moda. Assim, as crianças expostas a esse impresso acabam incorporando padrões estéticos intensificados por esse veículo de comunicação.

grafico

 

 

A rentabilidade advinda da publicidade infantil certamente é almejada pelos anunciantes, uma vez que utilizam crianças para protagonizarem propagandas para crianças. O discurso acaba tornando-se mais cativante, já que ocorre entre pessoas de mesma faixa etária. Dessa forma, a infância acaba sendo violada, pois as crianças não são apenas os consumidores, são, também, representantes do discurso dos vendedores de roupas, planos de academia, perfumes… Enfim, um mercado capitalista maculando a imagem de indivíduos ainda na fase de formação e afirmação de valores.

 

 

 

 

A Edição 885

 

Figura 1: Proporção dos elementos da página em relação à mancha gráfica na edição 885 – Ponto Final

Na página 3, a matéria é colocada na parte superior e o título é outro: “Menina de quatro anos é violentada em Mariana”, não se trata mais de uma suposição como levava a crer o título da manchete na capa, mas passa a ser uma afirmação. Em uma espécie de olho ou título de apoio o jornal parece dar a impressão de ouvir o acusado “Pai nega o crime, mas é encaminhado à delegacia da mesma forma.

O jornal Ponto Final foi ponderado na matéria quanto à adoção dos termos, assim como sugere a ANDI o termo adotado foi menina e não menor, que seria um “termo pejorativo e depreciativo à criança”. Ao usar a expressão abuso sexual, a redação foi apropriada para “situações em que a criança ou adolescente fica sob a lascívia de um adulto”. Tiveram o cuidado de não dar as iniciais dos nomes da mãe, vítima e acusado, embora tenham citado o bairro onde moram e a idade da mãe.

Embora o jornal tenha acertado em não utilizar termos que remetam a julgamento de valor ou condenação prévia do pai que fora acusado de praticar a violência contra a própria filha de quatro anos, a matéria, sob a ótica da ANDI, não tem utilidade pública.

É superficial, somente reproduz o boletim de ocorrência. O fato poderia ser mais explorado, trazendo debates sobre o índice de denúncias semelhantes na região ou levantar se há algum trabalho local sendo desenvolvido para prevenir este tipo de violência.

A matéria está publicada na seção policial e divide espaço com os classificados. O texto representa 4,41% da mancha gráfica. Somando-o ao título e título de apoio representa 18,27% da página. Embora esteja no espaço de maior importância da folha, disputa atenção com fatos de homicídio, tráfico, assalto e apreensão de arma. Todas as sete matérias não ultrapassaram o limite da divulgação do boletim de ocorrência policial, em nada esclarecem a população. Assemelham-se a notas, embora respondam todas as questões do lide: O que, Quem, Onde, Quando, Como e Por que.

 

Mulheres, entre a igualdade e a exploração


Na edição nº 882, publicada entre os dias 8 e 14 de fevereiro de 2013, na página 3 estão assuntos considerados gerais. Entre classificados e divulgação de um sorteio aparecem duas notas sobre denúncias registradas pela polícia no boletim de ocorrência. Uma das pautas é sobre violência doméstica, o título “Homem tenta matar ex a tiros” ocupa uma área 87cm², o que significa 5,77% da mancha gráfica. No entanto, o tamanho do título é apenas apelativo, para obter o interesse do leitor. A matéria, sem o título, ocupa área de 126cm², ou seja, 8,35% da mancha gráfica. Estas proporções geram um enquadramento em que o título, por pouco, não anula a importância do texto ao ter quase o mesmo espaço na página.

Novamente, o jornal utiliza foto ilustrativa, que ocupa um espaço maior do que o texto. O título de apoio recebe enquadramento de olho de reportagem, pois não aparece em linha única logo abaixo do título, mas aparece num formato de caixa sem borda. No entanto, apesar de apresentar o lide no corpo do texto, respondendo as perguntas básicas de uma informação, não traz nenhuma informação de utilidade pública.

O jornal, conforme sugere a ANDI, não faz julgamento, não expõe a vítima ou o acusado, mas também não coloca informações importantes para o leitor, como por exemplo, como um vizinho pode socorrer alguém que esteja passando por uma situação parecida.

Apesar de toda notoriedade conquistada, através de movimento feminista, a exposição da mulher na mídia ainda é atrelada a valores pejorativos. Levando em consideração as mesmas cinco edições do jornal Ponto Final, pretendemos discorrer sobre como é explorada a imagem da mulher.

Comparando o número de fotos em que há mulheres com as que têm presença masculina, a diferença é notável. Nas 60 páginas analisadas, visualizamos 200 homens nas fotos, contrapondo a figura feminina, que apareceu 117 vezes. Em dados percentuais, temos:

Na maioria dessas imagens, as mulheres estão como coadjuvantes nas cenas, sempre ao fundo, logo atrás dos homens ou, ainda, aparecem somente na publicidade.

Na coluna social essa diferença é um pouco menor, 66 homens e 42 mulheres. O que chama a atenção nessa editoria não é a possível igualdade entre gêneros, mas, sim, a presença de fotos reforçando estereótipos esperados pelo mercado, como estar bem vestidas, maquiadas e bonitas. Vistas como símbolos sexuais, suas imagens deixam de ser a representação da luta feminina por seu espaço e passam a ser tratadas como produtos de mercado e consumo.

Sites como a ANDI http://www.andi.org.br/, o Centro Feminista de Estudos e Assessoria http://www.cfemea.org.br/, Observatório da Mulher http://observatoriodamulher.org.br/site/ e Observatório Brasil da Igualdade de Gênero  http://www.observatoriodegenero.gov.br/, são fontes de pauta para os direitos da igualdade de gênero e contribuem para que o assunto saia das entrelinhas e ganhe o merecido reconhecimento.

 

Referência

Infância e Consumo: estudos no campo da comunicação. ANDI e Instituto Alana. Brasília, 2009. Link acessado em 22-03-2013 às 23:00:

http://issuu.com/andi_midia/docs/inf_ncia_e_consumo?mode=embed&layout=http%3A%2F%2Fskin.issuu.com%2Fv%2Flight%2Flayout.xml&showFlipBtn=true

 

Ponto Final reforça o senso comum da sociedade sobre mulheres e crianças

Após analisar os termos adotados,  as fotos utilizadas, os enquadramentos escolhidos, comparar a área destinada às matérias com outros elementos da mancha gráfica, pode se inferir que o jornal Ponto Final, sob o prisma da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), é direcionado ao público machista. Reforça valores e estereótipos que reduzem as mulheres a coadjuvantes, companheiras dos homens, dona de casa e símbolos sexuais. A publicidade utiliza e associa a imagem das crinças à produtos e serviços, como estratégia para estimular o consumo.

A análise dos equandramentos e espaços destinados às mulheres e crianças no semanal revela que suas matérias não adotam termos reprovados pela ANDI, mas, no entanto, elas não agendam ou aprofundam o debate sobre  os fatos publicados. As notícias são distribuidas aleatoriamente nas editorias. Ao lado de classificados aparecem notas sobre violência, tráfico e sorteios de prêmios. Os títulos são chamativos pelo tamanho em comparação com a mancha gráfica e pelos termos adotados. Estratégia que atraem leitores para textos, embora estes sejam meras notas dos boletins de ocorrências policiais.

As fotos, em sua maioria, são ilustrativas, reforçando o caráter apelativo. E, muitas vezes, ocupam espaço maior do que o texto, denotando o não interesse de agendar o tema ou discussões sobre os fatos noticiados.

Categories: Destaque

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