Por trás das grandes lentes do homem que veste carapuças

Nada mais instigante e prazeroso do que ouvir um homem que se atreve a entender a complexidade de machos e fêmeas. As provocações são tentadoras, mas o assunto tem que ser sério. Cearense, jornalista, colunista, comentarista esportivo, é lembrado pela acidez de seu humor. Xico Sá deixa dois quartos de hora de suas atividades diárias na grande São Paulo para um dedinho de prosa bem mineiro sobre o futuro de nossa profissão.

As novas tendências de um jornalismo engessado nas novas tecnologias abrem um leque de discussões com qualquer pessoa. Nada mais justo e recomendável do que perguntar a um profissional que vive de perto dessa situação. Dono do blog  O Carapuceiro, Xico se rende à literatura mais uma vez e veste carapuças em qualquer um que se atreve a xeretar em suas escrituras.

TRABALHO,TRABALHO NOVO,TRABALHO

O jornalista é o único animal do planeta que quanto mais avança a tecnologia mais o desgraçado  trabalha. Isso é o que mais perturba e intriga. Agora mesmo, sábado, 17h40, e eu em cima dessa máquina.

Todos evoluíram com os tempos modernos e novos sistemas. Até o burro do campo, se livrou do arado pré-histórico.

Nós, muito pelo contrário, aumentamos a nossa carga: fazemos o jornal, atualizamos o blog, perguntamos e ao mesmo tempo filmamos o entrevistado… Cobramos escanteio, corremos para cabecear e no percurso entre a bandeirinha do córner até a pequena área ainda mandamos uma informação no Twitter aos seguidores das obsessivas páginas virtuais.

Lembro bem o dia que apareceu o primeiro computador nas redações. Além do susto de alguns tiozinhos, o entusiasmo dos mais jovens: agora vamos diminuir as jornadas. Qual o quê. Com a internet, pior ainda, viramos processadores multiuso, centrífugas, chupa-cabras de textos e notícias.

O pior: o furo, essa mercadoria de luxo dos jornais, agora gira na velocidade do minuto a minuto. Parem as máquinas, quero meu furo -com 24 horas de vida, pelo menos- de volta.

(Xico Sá, em O Carapuceiro)

Hoje, é possível ver Xico no programa Cartão Verde, todas as quintas às 22h10 na TV Cultura e ler suas crônicas, colunas, fábulas, carapuças e pitacos na Folha de S. Paulo, em seu blog http://carapuceiro.zip.net/, na área de colunistas da página do Yahoo! e em seus livros já publicados, como  “Chabadabadá -aventuras e desventuras do macho perdido e da fêmea que se acha” ,“Modos de macho & Modinhas de fêmea” e “Divina Comédia da Fama”.

As perguntas de uma mera principiante em um tom clichê se transformam em uma conversa esclarecedora. O futuro do jornalista diante das novas mídias, a utópica liberdade de expressão devido a interesses dos donos dos veículos, o comportamento da Folha de S. Paulo nestas eleições, literatura, novas narrativas que o jornalista pode buscar, usar ou não usar gravador. Eu já vesti a minha. Vale a pena ouvir a voz desse profissional nada obsoleto e vestir sua carapuça.

por Fádia Calandrini

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