Entrevista Eliane Brum – editar a si mesmo

Movimentos muitos delicados, andando de um lado a outro da sala. O olhar penetrante, incisivo, tanto ou quase igual à força posta nas palavras ditas em sonoridade tranqüila e ao mesmo tempo inquietante. Uma camiseta com a estampa dos sete anões, peculiar talvez aos olhares desconfiados, ouvintes daquela fala sobre outro olhar e uma outra escuta dentro do jornalismo e para ele. Eliane Brum, jornalista, dona de uma escrita singular e mesmo, sobrevivente – em tempos onde a padronização e a ânsia por formatar consomem a produção jornalística. É colunista da revista Época, desde 2000, como repórter especial. Entre suas criações, vale lembrar Coluna Prestes – O Avesso da Lenda, A Vida que ninguém vê, e, mais recente, O Olho da Rua. Em sua palestra, apresentada na Intercom Sudeste 2011, “O olhar e a escuta, em busca de um personagem singular”, a jornalista, como de costume, falou sobre as limitações impostas que permeiam o campo do jornalismo. Porém, a cada nova frase, em tom e força de resistência, permitia a sensação e a busca pelas possibilidades de ousar, arriscar e fazer valer uma forma diversificada da prática jornalística. Na conversa, que se fez em entrevista, a jornalista falou ainda sobre a possibilidade de experimentar, de não enviesar o olhar. Para Eliane Brum, a escolha de ser jornalista, envolve caminhos que vão além da limitação do mercado: “o mercado está fora, vai ser uma escolha interna primeiro, qual é o teu projeto de vida?”. E ainda acrescenta: “ser repórter não é só o que tu faz, é o teu estar no mundo”. Outro fazer jornalístico, ainda que não se saiba ao certo e em precisão o que de fato é, pode ser ou poderá vir a ser, há que se trilhar, percorrer caminhos. Existe um abismo considerável entre os anseios por fazer diferente, e o que de fato se consegue fazer, cotidianamente, se libertando das pequenas amarras, das edições secas dos textos aos leads às vezes tão instransponíveis. Talvez para se pensar em outro olhar e outra escuta, seja necessário que o jornalismo, enquanto lugar, área de conhecimento e oficina de criações, não peque pela formatação ilusória de que os encaixes em lugares comuns tem peso e credibilidade. Sair fora do lugar, (des)encaixar.

Entrevista Eliane parte 1 by Camila Dias

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