Jornalismo, literatura, tecnologia e tempo

Durante vinte minutos, José Castello falou de jornalismo, de literatura, de tempo e de espaço. Em palavras lúcidas, o escritor, crítico literário e jornalista comentou sobre o mercado e as mudanças naturais que seguem com os avanços tecnológicos.

Castello é autor de “Vinicius de Moraes: O poeta da paixão” (Companhia das Letras, 1993), “Inventário das sombras” (Record, 1999), e “A literatura na poltrona” (Record, 2007); além de muitas outras contribuições para os suplementos “Prosa e Verso” do jornal “O Globo”, e  “Rascunho” de Curitiba, cidade onde mora. Em outra ocasião, o autor, ao falar sobre seu livro “Inventário das Sombras”, comentou do lugar marginal onde ficam alocadas as coisas interessantes em relação à grande imprensa. Nossa conversa partiu desse ponto; desse lugar do fazer jornalístico e das alterações através das mudanças sucessivas e em tempo muito rápido.

“E aí Castello? O jornal acaba?”. Não, não assim. O jornalista que se considera isolado em Curitiba, ouve falar muito disso: fim do impresso, jornais somente em plataformas na web. Entretanto, para ele o lugar tão importante da reflexão vai garantir a vida do impresso, sua razão de ser está na pausa, na análise, na necessidade e na demanda pela pausa, pelo respiro frente ao bombardeio de informações encontrado na rede. Apesar de não ser possível fazer nenhuma previsão, já que a rapidez e fluidez das transformações são aspectos com um quê de avassalador, esse fim do impresso não é considerado da maneira como os apocalípticos crêem.

Ao falar de tecnologia, avanços e perspectivas, José Castello lança toda sua experiência e lucidez em sua fala. As coisas têm mais de dois lados, e vantagens e desastres potenciais acompanham toda e qualquer alteração de algo dado. Questiona ainda algumas máximas que andam de mãos dadas ao discurso acoplado às novas mídias. O leitor é realmente um sujeito apressadíssimo e sem tempo para nada? É mesmo necessário simplificar e diminuir tanto os espaços das matérias e artigos nos jornais impressos, por exemplo? O homem hoje é sim apressado, mas o é tanto quanto se cansa da pressa, do excesso. Castello, ao longo dos vinte minutos frisou bem a relevância dos espaços de debate, de crítica e reflexão que vêm da pausa, do suspiro, do parar frente ao peso natural das informações do dia e da semana.

Ele fala do abismo entre jornalismo e literatura, e o abrigo que  essa oferece aos profissionais que precisam ir além da linguagem diária daquele. E ao tocar mais uma vez na aceleração da vida, fala de facebook e da relação tempo e corpo, e das consequências sérias dos lugares sociais comprimidos nas redes sociais.

A visão do nosso entrevistado reflete ainda um pensamento e um modo de crer em jornalismo que muito se assemelha ao modo que (nós) nos colocamos enquanto estudantes de jornalismo. O escritor, ao ser indagado sobre a formação que o jornalista tem hoje, falou abertamente sobre o que envolve a obrigatoriedade do diploma. Para ele, que tem formação na década de 70, é fundamental para a sobrevivência no campo a ampla e densa formação; a formação humana, o pensar, ver, sentir, intuir, a relação do jornalista com as artes de modo geral; a expansão da mente, sem se prender ao que é só do dia-a-dia, ao que é técnico e mecânico, pois quem se prende é engolido pelo mercado.

Ouça a entrevista de José Castello ( 08/07/2011):

The Launch (Soundtrack: In The Shadow of the Moon) by Radiomovies

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