Sucesso nunca é demais

Em uma rápida e descontraída conversa, Priolli falou dos rumos que o jornalismo vem tomando e as mudanças que está sofrendo.

Uma conta no Skype, dúvidas em mente e uma ligação inesperada, foi assim o começo da entrevista com Gabriel Priolli Netto, 35 anos de jornalismo (graduado pela ECA – USP), período em que já passou pela TV Cultura, Rede Globo, Bandeirantes, Record, Gazeta, Canal 21, TV PUC, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Carta Capital, Jornal da Tarde, Época e Veja. Também foi membro do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, do Conselho Superior do Cinema (Ministério da Cultura) e do Comitê Consultivo do Sistema Brasileiro de TV Digital (Ministério das Comunicações). Ufa! Por um momento pensei que não fosse acabar a lista de veículos por onde Priolli já passou. Mas ainda tem espaço para dizer que em 1988, juntamente com João Alves das Neves e Nelly Novaes Coelho, venceu o Prêmio Esso de Jornalismo na categoria Informação Cultural com a obra “Homenagem a Fernando Pessoa”, veiculada na Revista Imprensa.

Após o envio do pedido desta entrevista para o seu e-mail, que está disponível em seu próprio blog, tive o prazer de um retorno imediato e solícito, onde enviou também seu nome de usuário no Skype para que pudéssemos ter o bate-papo. Diligência de um jornalista que hoje é professor, e sabe das dificuldade que passa o estudante de Jornalismo. Mas o dead line das redações não sai de sua rotina só por hoje frequentar as salas de aula, o tempo curto o obrigou a me “chamar” em um momento que eu não imaginava, e nossa conversa pareceu mais um diálogo de amigos, numa banca de revistas, como quem passara por ali apenas para comprar um livro e ir viajar. Ele realmente iria viajar, e quando disse que em 15 minutos conseguiríamos conversar, ele ironicamente reclamou do tempo exagerado. Então, podemos começar?

Como qualquer jornalista que começou sua carreira no auge da Ditadura Militar, em 1975, Gabriel Priolli acredita que houve uma perda de substância no jornalismo de um modo geral. Alguns valores que eram obedecidos com mais rigor fogem das redações de hoje em dia, principalmente a questão da “pluralidade”. É como se tivesse tornado-se um desafio e uma necessidade buscar a diversidade de pontos de vista e o seu equilíbrio na produção da notícia. Antigamente esta necessidade de buscar o outro lado dos fatos era visto como um dogma nos veículos de informação, atualmente não é mais.

Pluralidade é talvez o grande timing na produção jornalística de Gabriel Priolli. Pouco tempo depois de assumir um importante cargo na área do jornalismo da TV Cultura este ano, ele foi afastado de sua ocupação. Alguns dizem que é pelo fato de uma matéria veiculada no Jornal da Cultura, que contou com seu apoio, sobre o pedágio em São Paulo, onde ouviram-se os dois lados, tanto oposição quanto situação política. Mas Priolli não falou sobre nada em nossa entrevista, que por alguns segundos foi interrompida com uma falha na conexão.

Ao voltarmos, Priolli contou sobre a influência da tecnologia no jornalismo, pra ele, a área contou com a incorporação de muitas ferramentas na comunicação, que teoricamente ampliariam a capacidade de apuração e qualidade de apuração, entretanto ela não está contribuindo para tal. A tecnologia acaba prejudicando, na medida em que elas estão substituindo a reportagem direta, in loco, nos locais dos fatos.

Priolli é um nome importantíssimo na história do jornalismo e na história da Televisão, e não poderia deixá-lo ir para o Aeroporto sem falar um pouco sobre o futuro do audiovisual. Ele tem toda a certeza que a internet está roubando o público da TV, não só no Brasil, mas os índices de audiência caem enquanto a audiência de tempo de permanência da internet aumentam em todos os lugares. Priolli possui todo o gabarito de jornalista, professor e crítico, de quem já passou pelo Vitrine e pelo Jornal Nacional, para poder dizer que a TV está se transformando, assim como o jornal impresso, em uma mídia de gente madura, mais velha. E caso ela não se recicle rapidamente, tornando-se capaz de enfrentar o avanço da internet, ela terá sérios problemas.

Conversamos pouco para um curioso de TV e do jornalismo, mas muito para uma entrevista com um ícone da área. É claro que gostaria de ter perguntado mais um milhão de coisas, mas como quinze minutos já era muito, me senti honrado de poder aprender a profissão com o Priolli. O título desta entrevista é sua despedida, quando eu o desejei mais sucesso, se é que ele poderia ter mais, “Sucesso nunca é demais, sempre a gente pode ter mais”.

por Eduardo Guimarães

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