O Suplemento Literário e os novos rumos do Jornalismo Cultural: uma análise dos cadernos de cultura e dos suplementos culturais

Em entrevista, Fabrício Marques, ex-editor geral e atual integrante do Conselho Editorial do Suplemento Literário, traçou um paralelo entre os suplementos culturais e os cadernos de cultura, discorreu sobre a integração do jornalismo cultural com as novas mídias e contou sobre as dificuldades de manter vivo um informe jornalístico cultural.”

Com mais de 40 anos de existência e um reconhecimento no Brasil e no exterior, o Suplemento Literário marca no cenário do país um segmento paralelo aos cadernos culturais diários dos grandes jornais. Quando Fabrício Marques foi convidado para chefiar a editoria do Suplemento Literário, em 2004, experimentou o começo do surgimento de uma nova configuração do jornalismo, como um todo. A entrada das redes sociais e do Web Jornalismo modificaram o cenário nacional da transmissão de informação em discurso, tempo e direcionamento. Com isso, o Suplemento iniciou uma leve adequação a este novo panorama, mas, mantendo a essência de se apresentar, dentro do jornalismo, como um caderno cultural alternativo, que não caísse nas panfletagens e vendagens comerciais dos cadernos culturais diários. Desta forma, foi capaz de reforçar a idéia de se caracterizar como um suplemento mas, por outro lado, tornou-se uma ilha dentro do cenário do jornalismo cultural do país.

A idealização do Suplemento Literário busca, não só atingir um público diferenciado, não se vendendo às questões comerciais mas, também, fortalecer um jornalismo cultural alternativo que, mesmo já tendo influência e peso no país, não é reconhecido, pois não trata do cotidiano. Sua escrita baseia-se na divulgação de textos que informem e formem, culturalmente, o leitor e, por não ser diário, possa agregar textos que não sejam somente bombas de informação sobre teatro, cinema e shows.
“Se você fosse fazer uma resenha crítica sobre um livro ou um CD, nos anos 80, você tinha praticamente meia página ou uma página standart, hoje você tem três parágrafos para falar. Então a reflexão vai embora. (…) A gente vive hoje a era da barbárie dos fatos. Hoje, os fatos têm um peso muito grande; por outro lado, tudo o que é reflexão, tudo o que é poesia e pensamento é deixado de lado, fica na periferia.”, afirma Marques.

Uma “reserva ecológica da sensibilidade” das pessoas. O Suplemento Literário atua de uma forma que mostre a seus leitores que o que está em crise não é o jornalismo, mas sim, a forma de fazer jornalismo. Sendo assim, o periódico abre espaços para que o leitor possa publicar seus textos, atuando, também, como um acervo do desconhecido que pode um dia adquirir sua fama.

Integrando o livro “Os cem menores contos brasileiros”, Fabrício Marques, diz que não se conhece o jornalismo, mas sim a área em que se atua nele. Trabalhando com um jornalismo mais literário, Fabrício não deixou de lado a idéia de navegar paralelamente por outras áreas, pois, como editor de um caderno de ampla amostragem de textos, não poderia se prender à apenas uma margem de recorte.
Sobre uma perspectiva de um futuro jornalismo, Fabrício Marques é cauteloso e afirma que vivemos uma fase de jornalismo “eucêntrico”: “Hoje, você edita o que você quiser, na hora que você quiser, onde e como você quiser. É o eu-leitor no centro de tudo. Então o jornalismo tende a ficar cada vez mais segmentado.”. Marques vê um futuro promissor para revistas como Piauí e o próprio Suplemento Literário pois, o leitor está buscando, cada vez mais, formas diferentes de edição, que possam transmitir um conteúdo interessante, tornando-se assim, peça fundamental para a sobrevivência do jornalismo.

Para finalizar, Fabrício Marques é cético quando questionado a respeito da existência de uma força de crescimento dos cadernos culturais dentro do jornalismo. Para ele, no Brasil, quando há uma crise, seja no setor privado ou no setor público, o primeiro corte feito é na área da cultura, pois há a mentalidade de que a cultura é algo superficial. Não obstante a isso, o modelo dos jornais parece esgotado. “Esse modelo de editoria, política, etc, é um modelo que vem dos anos 60 e que me parece estar cansado.”. Sendo assim, o único modo de resistir à crise estrutural do modo de fazer jornalístico é misturar os valores da política na cultura, e vice-e-versa, para que a cultura possa se reafirmar no cenário do jornalismo nacional.

Para assinar, de forma gratuíta, o Suplemento Literário, acesse: http://www.cultura.mg.gov.br/. Confira também, no site, as edições em PDF do periódico

Por Lincon Zarbietti

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