Coberturas Jornalísticas

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Por Ariadne Selene, Danilo Moreira, Emanuel Brandão e Marília Ferreira

O ato de cobrir uma série de fatos ou eventos é um dos pilares do jornalismo. Na fronteira entre notícia e reportagem, as coberturas jornalísticas são, basicamente, relacionadas pela ideia de continuidade. Podem ser divididas em duas categorias: planejadas ou inesperadas. As coberturas planejadas, na maioria das vezes, abordam eventos como Eleições, Copa do Mundo, Olimpíadas. Assim, permitem maior organização de pauta e produção, além do preparo do repórter e de toda uma equipe voltada para determinada cobertura. Entretanto, quando há uma morte, um acidente ou algum desastre, pode não haver tempo hábil para esse preparo. São as chamadas coberturas “de última hora”, inesperadas e urgentes, que exigem experiência e desenvoltura daqueles que ficam responsáveis por elas.

O processo de uma cobertura jornalística pode ser resumido entre as etapas de planejamento e de preparo, além de uma coordenação eficiente. Estes elementos, se bem feitos, resultam em uma apuração de qualidade, boas notícias e reportagens. Estratégias para uma cobertura jornalística relevante são alteradas com frequência, atualmente. Isso porque a internet oferece inúmeras possibilidades e recursos para a produção e consumo de informação. Celulares, tablets e notebooks fazem parte do cotidiano de muitos, o que cria uma espécie de indivíduo “multimídia”. Em tempo real, o jornalista pode escrever, enviar ou publicar um texto ou uma breve informação. As redes sociais amplificam esse poder dinâmico de comunicação, representando novas e importantes ferramentas para a imprensa como um todo.

Mas, a principal diferença é observada no público. Agora, quem antes apenas recebia a informação pode participar da mesma, contribuir ou interagir com aquilo que está sendo noticiado. A rede de comunicação tem aumentado de tal forma que o procedimento de uma cobertura jornalística é hoje algo volátil, que recebe conteúdo e informações de todos os lados. Essa nova visão comunicacional pode ser observada em quase todos os aspectos do que é produzido. Seja no anúncio de um novo Papa ou em simples partidas de futebol, a cobertura jornalística é aquilo que marca estes fatos e os transmite, da melhor maneira possível, ao público.

A COBERTURA ESPORTIVA

Uma das coberturas mais dinâmicas é a do esporte. Todo evento a ser coberto vai depender do timing do repórter para capturar os melhores momentos. É preciso estar atento a cada segundo, dentro e fora do jogo. Dono de um blog sobre futebol, Rafael Lima, conhecido como Fael, 27, está cursando jornalismo na Universidade Newton Paiva e cobre quase todos os jogos do seu time de coração, o Atlético Mineiro.

Com o Cam1sa Do2e no ar desde maio de 2009, a ideia é falar sobre o que não é possível encontrar na internet, com o principal foco voltado para os bastidores, principalmente na arquibancada. “Os blogs querem repetir o que já se encontra nos grandes sites e, se é para ver o que já existe, as pessoas vão procurar pelos grandes portais. Quando precisou ficar no meio de pancadaria eu fiquei, horas na estrada, debaixo de chuva, em qualquer situação que poderia me trazer uma postagem interessante”, diz.

A ascensão do blog foi tanta que o levou de Caratinga, cidade do interior de Minas, à Belo Horizonte e, logo a seguir, rendeu-lhe um emprego no programa Golasô, da Band, desde maio de 2012. Estar na TV ajuda a publicar matérias no Cam1sa Do2e e vice-versa, além de facilitar o acesso a patrocinadores. O segredo, diz ele, é falar a língua do torcedor: “Não faço blog ou matéria para jornalista. Não adianta usar um termo técnico se uma pessoa que raramente vai à escola não irá entender. É uma balança, usar o que agrada a todas as idades e aos torcedores de diferentes classes sociais. Não perder a essência daquilo que deu certo no início”.

Como sua renda depende da cobertura, Fael vai aos jogos do Atlético – ou simplesmente Galo – sempre que possível. Em 2012, com exceção de uma partida disputada em Teófilo Otoni-MG, esteve presente em todas. “Nos jogos em que o Galo é o mandante, eu perdi um contra o Araxá, já em 2013, mas não perdia desde 2011”, acrescenta. Costuma viajar só para ver o time jogar: “Normalmente é só para ver o Atlético. Claro que se você chega ao Rio de Janeiro pela manhã, vai aproveitar para assistir ao jogo parecendo um camarão, pois mineiro adora praia. Há casos em que chegamos a uma cidade, entramos para o estádio e quando acaba o jogo, voltamos imediatamente para BH. O último caso foi na Argentina, talvez eu não conheceria o país se não fosse para ver o Galo em campo”.

AS DIFICULDADES

Quanto às dificuldades de uma cobertura, Fael fala dos gastos e da distância: “Nordeste e o Sul são os locais mais difíceis, pelo valor da passagem de avião e o tempo que gastaria em uma caravana de ônibus”. Também diz como é estar em um jogo e ter de se preocupar mais com a cobertura: “Hoje eu não posso comemorar o gol no momento em que ele acontece, pois é a melhor hora do vídeo. Assisto à reprise assim que chego em casa, pois no estádio vejo pouco do jogo. Procuro reações dos torcedores, se é uma festa bacana, eu fico de costas para o campo, atento somente ao vídeo, um certo sacrifício para a felicidade de outros atleticanos”.

Ele destaca o principal problema: “Se você não possui carteira de imprensa, no caso de Minas, da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE), a maior dificuldade é o ingresso, pela procura e valor. Além disso, o equipamento pode sair caro, exigindo um alto investimento”. Em se tratando de equipamentos, ele possui dois iPads e uma filmadora que, por questões de segurança, leva ao estádio em uma mochila e raramente é questionado pela polícia quando os utiliza. A interação com os torcedores também é muito importante tanto para ajudar com pautas para o blog como para divulgá-lo.

Os resultados divergem de acordo com a partida. Na cobertura do jogo Atlético e Cruzeiro, em 4 de dezembro de 2011, em que o Cruzeiro venceu por 6×1, Fael foi com uma filmadora e câmera fotográfica para um bar que fica cheio de atleticanos e, ao fim do primeiro tempo, encerrou a cobertura. “Curiosamente, conversando com outros blogueiros, vi que existe uma reação padrão dos torcedores. O número de visitas pode ser maior após uma derrota, pois o torcedor quer desabafar, quer saber se o representante na internet falou o que ele queria falar. No caso de vitória, posto mais vídeos e durante a semana volto a falar sobre a partida, o que raramente acontece quando perde”, afirma.

Fael: "Hoje eu não posso comemorar o gol no momento em que ele acontece" (Foto: Lucas Cardoso)

Fael: “Hoje eu não posso comemorar o gol no momento em que ele acontece” (Foto: Lucas Cardoso)

OS FRUTOS

Seu maior orgulho na profissão foi recente: uma entrevista com o jogador Ronaldinho Gaúcho. “No embarque do time para a Argentina, fiquei anestesiado ao segurar o microfone diante do Ronaldinho. Era o Ronaldinho… Aquilo nunca havia passado pela minha cabeça, nem nos sonhos em um dia ser jornalista”. Em relação ao jornalismo, Fael considera o curso fundamental e ter um diploma depende primeiramente do gosto pelo esporte, para suportar as dificuldades que o mesmo exige. Ele complementa: “Para os profissionais que trabalham em jornais e emissoras de TV, a maior reclamação é quanto ao salário. Vi profissionais deixando a área por não se sentirem valorizados”.

Ao ser perguntado sobre o que é exercer jornalismo esportivo, ele respondeu: “Olhar diferenciado, atento, sempre crítico e, mesmo que faça a cobertura somente de um time, como é meu caso, não deixar de buscar e repassar a verdade em qualquer situação”. Por meio do blog, Fael recebe uma quantia suficiente para pagar a faculdade, transporte e despesas da casa. Por mais que seu coração seja só do Galo, ele busca ganhar mais experiência profissional, o que significa, futuramente, cobrir outros times, e aprender mais sobre outros esportes.