Vida de freelancer

Alguns jovens se destacam ainda na graduação como freelancer jornalístico

por Di Anna Lourenço, Douglas Gomes, Elis Regina e Paloma Ávila

Freelancer, freela, frila. São diversas as derivações de nomeação desse novo perfil profissional que desponta como uma alternativa viável não só à crise do mercado editorial, mas também aos próprios jornalistas que buscam  atuar de forma livre, determinando seus próprios horários, sem amarras impostas por regras de empresas. Essa liberdade, porém, acarreta uma série de responsabilidades que devem ser muito bem administradas por quem escolhe atuar dessa forma. Foco, agilidade, organização, pontualidade, controle financeiro e flexibilidade são palavras de ordem que devem permear a vida de um jornalista freelancer. Conversamos com dois jovens estudantes que ingressaram recentemente na carreira e eles nos contam suas experiências e os desafios encontrados a cada atuação.

Freelancer colaborativo

Foto: Di Anna Lourenço

Foto: Di Anna Lourenço

O estudante de jornalismo Cristiano Quirino Gomes, 21, natural de Mariana, MG, é um daqueles jovens que não espera a vida acontecer. Desde 2011 tem trabalhado como freelancer. Tomou gosto por este tipo de trabalho após ter sido voluntário em projetos de professores do curso. Ajudou a organizar e realizar coberturas jornalísticas de alguns eventos promovidos pela universidade, assim como os promovidos por outras organizações locais.

Gomes ingressou  em 2011 no Coletivo Muzinga, grupo que fomenta a cultura em Ouro Preto e Mariana, ligado a rede Fora do Eixo. Neste projeto tinha a função de Gestor de Mídias, atividade que lhe permitiu encarar seu primeiro grande trabalho em março de 2012, organizar a cobertura do “Grito do Rock” em Mariana, evento para os que querem curtir o Carnaval longe do Samba e do estilo tradicional de marchinhas. Nesse período, além de ser o responsável pela atualização das postagens no site e redes sociais, ele decidiu fazer parceria com outros estudantes de jornalismo. Assim, organizou e coordenou as equipes de fotografia, filmagens e reportagem.

Antes de se dedicar mais a área de freelancer jornalístico, Gomes trabalhou na Assessoria de Imprensa da Associação Comercial de Ouro Preto por aproximadamente 8 meses, experiência que lhe possibilitou ter uma visão mais abrangente do jornalismo e da função de assessoria: “Se aprende muito na universidade, mas o dia a dia te traz outros conceitos e outras visões. Ali eu pude aprender na prática. A partir do trabalho na associação adquiri várias técnicas e maneiras de lidar com a comunicação e que hoje me ajudam em outras oportunidades”, afirma Gomes.

Perfil de freelancer

As frases “errar é humano”, “é preciso saber lidar com o próprio erro” fazem parte da vida dos que se lançam no mercado como freelancer. Gomes considera que é comum entre os iniciantes, inclusive ele, ter aquela pressa de informar, de ser o primeiro a conseguir toda a informação. Cita as redes sociais como um meio em que a pressa se torna uma grande inimiga. “Por exemplo, se está acontecendo um evento e você precisa postar uma foto. Mas, às vezes você coloca uma legenda que não condiz com o que está acontecendo. Você age por impulso, mesmo não tendo certeza das informações que está acrescentando”, explica. E, ainda, acrescenta que esse estilo de trabalho jornalístico depende da paciência, dedicação e comprometimento do profissional.

Freelancer é uma forma de prestação de serviço em jornalismo que abre novos caminhos, graças aos contatos com outras pessoas por conta de trabalhos que foram desenvolvidos. Com Gomes não foi diferente. Durante seu trabalho no Coletivo Muzinga conseguiu formar uma uma rede interpessoal maior. Foi convidado para ser assessor do evento “Fotógrafos em Ouro Preto”: “Nesse evento conheci o pessoal da EBC e fiz uma cobertura para eles no evento Mimo. Então, os contatos a gente vai criando a partir de cada evento que a gente participa. Nasce uma relação de amizade, e a partir daí acabam me procurando para outros trabalhos”.

Mas, nem sempre aparece trabalho. Nessa hora, o freelancer deve procurar seus contatos ou novas empresas, pois trabalho não cai do céu. “O mesmo evento que eu participei no ano passado vai ocorrer novamente este ano. Então eu devo procurar os responsáveis pelo evento para eu poder participar, caso não me procurem. Mas acredito que tanto o freelancer deve procurar pelos editores e organizadores de evento, como quem precisa deve ir a procura de um profissional freelancer, mas isso ocorre a partir de uma relação de trabalho que já vivenciaram”, complementa Gomes.

Para garantir que será requisitado para um próximo trabalho, Gomes sugere que a pessoa não deve se deixar desanimar. Ao terminar um freela precisa continuar a construir uma relação de contatos com a pessoa que o contratou ou lhe solicitou um trabalho colaborativo. É preciso estar ciente que não é a única pessoa que dará conta de um determinada pauta. Deve lembrar que precisa da ajuda de muitas outras pessoas envolvidas no processo de comunicação. “O freelancer vai precisar de outras pessoas para cumprir o seu trabalho. Vai precisar de outras pessoas que vão o auxiliar para que ele possa fazer um trabalho que seja reconhecido. Como é o meu caso. Eu era um gestor de mídia, mas eu precisava de uma equipe para trabalhar comigo para que o meu trabalho fosse reconhecido e o deles também. Então, é preciso manter uma relação de parceria”, afirma Gomes.

Rotina não existe na vida de freelancer. Cristiano Gomes acredita que os eventos e oportunidades impõem um perfil ideal. Acredita que o profissional precisa ser responsável, cumpridor de seus deveres, autônomo, que saiba fazer seu trabalho e que também tenha vínculos com outras pessoas e, principalmente, tenha em mente que aquele trabalho é temporário e que irá precisar de novos freelas por isso deve se dedicar em fazer um ótimo trabalho. Tem que ter disponibilidade para trabalhar dentro dos prazos combinados e atendendo os critérios solicitados para o produto final.

Frilando no mundo do rock

A estudante de jornalismo Gisela Cardoso Teixeira, 19, natural de São Gonçalo do Rio a Baixo, MG, é apaixonada por Rock. Faz questão de ir aos shows e eventos do estilo musical Heavy Metal. Por conta dos shows já foi a São Paulo, ao Rio de Janeiro e até a Porto Alegre/ RS. Não costuma perder nenhum evento que ocorre em seu estado natal. Mas, nos últimos anos, o que era simplesmente uma diversão virou trabalho.  Ainda no Ensino Médio, tinha o desejo de unir suas duas paixões, a música e o jornalismo. Criou um blog para publicar notícias sobre as bandas que mais gostava. Embora, não soubesse o que era um lide, quase que por instinto, hoje revendo os primeiros post, afirma que desde aquela época seguia o esquema ensinado na universidade.

Foto: Di Anna Lourenço

Foto: Di Anna Lourenço

As notícias publicadas em seu blog Wildchild  eram postadas no maior site especializado no Brasil, Whiplash. “Comecei a postar com meu nome e o endereço do meu blog. Aí algumas pessoas passaram a me procurar por conta de meu trabalho neste site o Whiplash. Outros sites, menores, me convidaram a escrever para eles”, afirma sorrindo Gisela. E no final de 2011, a rádio Web Roots a convidou para fazer trabalhos freelancer, como repórter e atualizando o portal de notícias.  Como sempre está diariamente e muitas horas na internet, tinha facilidade de procurar redigir notícias, seria um ótimo exercício de preparação para a profissão. Hoje é um trabalho remunerado.

Gisela mora numa cidade do interior. E, por este motivo, propôs ser a responsável pela cobertura dos eventos fora da grande BH. Em janeiro de 2012 encarou o desafio de fazer em João Monlevade a cobertura do Festival Metal Attack, no qual tocaram quatro bandas. “Entrevistei as bandas, o público e toda galera. Busquei contar como foi o evento e a recepção”, detalha Gisela. “No mês seguinte teve evento em Itabira. Depois, a maior cobertura, foi em Varginha, Roça In Roll”, relembra.

Gisela entrevistando os canandeses do Skull Fist em 07 de janeiro de 2013, em conselheiro Lafaiete, durante o Rising Metal Fest. Foto : Anderson Carvalho

Gisela entrevistando os canandeses do Skull Fist em 07 de janeiro de 2013, em conselheiro Lafaiete, durante o Rising Metal Fest. Foto : Anderson Carvalho

Sobre dificuldades, Gisela diz que teve que vencer a timidez de falar com as pessoas. Recorda que certa vez, em Itabira, uma banda tcheca foi se apresentar e na hora de entrevistar, custou segurar a emoção de fã. “Foi difícil. Fiquei nervosa. Em português eu não conseguia falar direito. Imagine então em inglês! Mas, no final deu tudo certo”, afirmou.

Este tipo de cobertura requer que o freelancer procure interessados em seu trabalho, mas que os que já o conhecem também o contatem. “Penso que há mais magia quando nos procuram. É sinal de que o trabalho feito foi reconhecido, pois fazer propaganda de seu trabalho nunca é de mais” fala convicta.  Para divulgar seu trabalho na rádio entrou em contato com a revista Roadie Crew , uma das principais do Brasil. Desse contato nasceu um parceria que ampliou os contatos e visibilidade da rádio Web Roots para a qual é freelancer.

Além de estudar, está no 4º semestre de Jornalismo – na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) campus Mariana, ser freela para a rádio, a estudante ainda escreve para outros três sites. Essa rotina, segundo ela, é muito cansativa. Requer muito empenho.Não pode deixar a preguiça bater, precisa ter paixão pelo que se propôs fazer para poder manter a qualidade do trabalho prestado. Mas, só isso não basta. Acrescenta que é preciso melhorar a escrita, o estilo, fazer perguntas cada vez melhores. “Por isso é muito importante ler muito. Ler outras entrevistas, matérias, release, resenhas. São dicas fundamentais para encontrar inspiração”, pontua Gisela.

Quanto às dificuldades  que enfrenta o jornalista que se dispõe a ser freelancer, Gisela dá uma dica: “é preciso ter paciência. Não deve colocar o carro na frente dos bois, pois nunca se sabe quando vai levar algum ‘não’. É preciso ter cuidado para achar que é o melhor, que sua escrita é impecável. Quando seu texto passa pela mão do editor chefe, você vai perceber que não está o bastante bom. Então eu digo, para melhorar não tem limites. É preciso ser o melhor cada vez mais,” complementa a jovem. E, ainda, sugere atenção para um erro muito comum entre os que estão começando, que é fazer “perguntas estúpidas”, óbvias demais. “Se a gente não conhece ou não estuda sobre a banda, fica evidente na cara das pessoas que elas não aprovaram ou não se sentem confortáveis com nossas perguntas. Na verdade esperam mais nós. Esperam perguntas que venham favorecer na divulgação de seus trabalhos”, conclui.  Gisela Cardoso sugere que o ideal é descobrir coisas novas sobre a banda e sobre o que os fãs podem esperar dos próximos CDs, quem são os produtores, em quanto tempo fica pronto. É preciso muito esforço; tempo; aguentar ou ter paciência com as condições locais (quente, frio, chuva ou sol) onde o evento está sendo realizado e, principalmente, identificação com esta modalidade de trabalho. Os eventos são geralmente agendados, pois nessa área há uma programação prévia que permite ao repórter se preparar. Para facilitar o trabalho sugere que é preciso fazer uma pauta o mais completa possível para levantar o máximo de informação e, inclusive, colocar fotografias que tornem mais fácil reconhecer quem são os entrevistados.

Opinião sobre o mercado de trabalho no interior

Paula Karacy Faliba Silva, 47, editora do jornal O Liberal de Ouro Preto, fala ao Tecer sobre as oportunidades do Freelancer nos jornais impressos do interior:

VEJA TABELA DE PREÇOS POR FREELAS

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QUERO SER UM FREELANCER, #COMOFAZ?

Para quem se interessa em se tornar um freelancer, temos dicas preciosas de três jornalistas experientes na área que traduzem bem a rotina de um frila.  Confira:

Acervo Pessoal

Acervo Pessoal

Ulisses Mattos, 40, formado em Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF) especialista em roteiro e produção cultural. Trabalhou como jornalista freelancer durante cerca de sete anos em veículos como revista Época, site Veja.com, revista Veja Rio, revista Playboy, revista Sexy, revista do Comitê Organizador dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007 e revistas corporativas de empresas como Banco do Brasil, Oi e Souza Cruz. Nos últimos 10 meses, vem atuando apenas como roteirista freelancer.

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Acervo pessoal

Acervo pessoal

Natália Becattini, 25, é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e trabalha como freelancer há sete meses. Faz freela frequentemente para Editora Abril e no site Viajeaqui.com. Já escreveu para a revista Super Interessante e para o Guia do Estudante, além de ter atuado na agencia BHPress.

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Acervo pessoal

Acervo pessoal

Débora Rubin, 33, formada em Jornalismo pela PUC-SP, fez cursos de extensão na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e outros em instituições focadas em literatura. Trabalha como freelancer há exatamente um ano, com experiência anterior entre 2008 e 2009. Frilou em revistas como Época,  Istoé, Marie Claire.

 

 

 

 

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CRÔNICAS DA VIDA DE FREELANCER

BLOG DESILUSÕES PERDIDAS: Crônica sobre o frila fixo

BLOG DESILUSÕES PERDIDAS: O homem que não recusava frilas

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Estudante de Comunicação Social - Jornalismo