Jornalismo, humor e meios digitais

Quem são os verdadeiros “Duda Rangel”?

Por Laís Diniz e Bianca Bueno

Emerson e Anderson Couto durante palestra na IV Secom.     Foto: Kaio Barreto.

Emerson e Anderson Couto durante palestra na IV Secom.Foto: Kaio Barreto.

Anderson e Emerson Couto são irmãos, gêmeos e jornalistas.  Pode parecer muita coincidência, como se já não bastasse terem o “mesmo” rosto, ainda partilham da mesma profissão. No começo, Anderson ainda tentou “fugir”, prestou vestibular para odontologia, não passou, foi para o cursinho e depois de um ano viu que o que queria mesmo era o jornalismo, curso em que seu irmão já estava. A vida quis que eles dividissem muitas coisas, e eles então resolveram que era isso que tinham que fazer. Hoje os dois são Duda Rangel, metade do Anderson, metade do Emerson, e várias partes de muitos jornalistas por ai.

Desde crianças, Anderson e Emerson gostavam de escrever ficção. Em cima de seus desejos e brincadeiras, resolveram criar o Blog Desilusões Perdidas e o personagem Duda Rangel. De fácil acesso, fácil manutenção e atualização e de grande abrangência, o blog trata de assuntos referentes aos jornalistas.

Por mais fictício que o Duda seja, ele carrega em si um pouco dos irmãos e um pouco dos amigos e conhecidos deles. Sendo assim, ele acaba se tornando um personagem meio autobiográfico.

Até mesmo as Desilusões estão perdidas?

Por: Tamara Pinho

Duda Rangel, um quarentão que se formou em jornalismo ainda na época das, hoje raras, máquinas de escrever, tinha o sonho de mudar o mundo através de suas palavras, de ficar famoso, e porque não, um dia apresentar o Jornal Nacional. Mas os anos foram passando, Duda percebeu que muita coisa mudou: os empregos, a aparência, o humor (esses várias vezes ao dia), o mundo. Sim o mundo mudou bastante, mas não graças a suas palavras. Mais de 20 anos de carreira e ele não ficou famoso, pior ainda, foi alvo do programa de reestruturação do jornal em que trabalhava.

Duda Rangel. Foto: Facebook

Então em 2008, um Duda desempregado, recém-traido, sem dinheiro para um terapeuta e sem competência para cometer suicídio, criou o Blog Desilusões Perdidas, após o conselho de um amigo, e passou a contar sobre o que ele viveu e o que gostaria de viver.

Duda, ao ver a situação em que sua vida se encontrava, abandonado pela esposa, desempregado, e até sem o seu cachorro Nestor, percebeu que não restavam mais ilusões em sua vida, apenas as desilusões. Assim encontrou o nome perfeito para o seu novo projeto: Desilusões Perdidas, uma parodia do livro “Ilusões Perdidas” de Honoré Balzac.

Após quatro anos de blog muita coisa aconteceu na vida de Duda, seu blog recebe milhares de visitas por mês e é um verdadeiro sucesso na internet. A maior parte dos frequentadores são jornalistas ou estudantes que querem saber um pouco mais sobre, como o Duda mesmo diz, o lado B do jornalismo e, porque não, da vida.

Duda Rangel: Novas mídias fazem com que o personagem se torne real

Por Debora Simões

Em uma conversa entre jornalistas, Duda Rangel conta via chat do Facebook um pouco de sua vida, porque escolheu o jornalismo e como a internet e as novas mídias digitais o salvaram da depressão. O que um jornalista experiente que já passou por tudo o que a profissão pode oferecer e que perdeu todas suas ilusões e desilusões a respeito da carreira pode nos contar? Confira no bate-papo a seguir:

Débora Simões: Duda quando decidiu ser jornalista?

Duda Rangel: A decisão de ser jornalista deve ter ocorrido ainda na infância. Nos meses de dezembro, compilava as notícias do ano e apresentava à família uma pequena retrospectiva. De tudo: esportes, política, guerras. Usava um terno emprestado de meu pai, vários números maiores do que o meu corpo. O povo fingia que gostava, e eu fingia que já era um jornalista de verdade. Isso aos 9 ou 10 anos. Acho que me fiz jornalista aí.

Tamara Pinho: Duda, você que está na faixa dos seus 40 anos, quando se formou os blogs ainda não eram muito populares, porém quando ficou desempregado criou um. Como é para você toda essa transformação tecnológica no jornalismo? Foi/está sendo fácil se adaptar?

Duda Rangel: Quando eu me formei, ainda não existia a internet, muito menos os blogs. Sou de uma geração de transição. Peguei a fase da máquina de escrever, mas vivo intensamente também a era das tecnologias digitais. Antes, era muito difícil disseminar seus textos, suas ideias. Os blogs revolucionaram isso. É fácil de escrever, fácil de alcançar gente de todos os cantos, até de fora do Brasil. Em 2008, quando fiquei desempregado e me descobri corno, pensei em fazer terapia ou cometer suicídio. Como não tinha grana para o terapeuta, nem competência para me jogar do 23º andar, resolvi criar um blog.

Acho que sou um cara flexível e tenho me adaptado bem às novas tecnologias. Questão de sobrevivência para os jornalistas e para o próprio jornalismo.

Laís Diniz: Duda, qual o seu maior desejo?

Duda Rangel: Meu maior desejo? Escrever, escrever, escrever.

Chat com Duda Rangel pelo Facebook

Chat com Duda Rangel pelo Facebook

Débora Simões: A internet foi uma saída para suas desilusões com a profissão?

Duda Rangel: A internet, como escrevi antes, é um espaço maravilhoso de expressão. Tem me ajudado muito a superar as minhas desilusões, sem dúvida. O blog virou uma terapia para mim e para muita gente.

Chat no Facebook com Duda Rangel

Chat no Facebook com Duda Rangel

Débora Simões: Você é um jornalista experiente, que conselho dá para quem está começando?

Duda Rangel: Sou péssimo em dar conselhos, mas vamos lá: a essência do jornalismo não muda, mesmo com as novas tecnologias. Um jornalista (jovem ou não) precisa gostar do que faz, ter humildade, olhar a vida de uma forma diferente, jamais se acomodar, ser inquieto, curioso, gostar de ler. E criar sempre, ter projetos, não ficar parado.

Débora Simões: A internet é uma forma de ganhar espaço no jornalismo?

Duda Rangel: A internet é um excelente espaço para se fazer jornalismo, sim. Mas não basta dizer “quero ter um blog”. Algumas perguntas são legais de serem respondidas. O que eu quero escrever? Como posso escrever isso de uma forma diferente do que já existe por aí? Para quem eu quero escrever? Como seduzir o meu leitor, como deixá-lo interessado a voltar sempre aos meus textos?

Débora Simões: Você acredita que a era digital pode mudar o jornalismo clássico?

Duda Rangel: A era digital já está mudando o jornalismo clássico. Muitos jornais impressos já acabaram e outros vão acabar. É tudo uma questão de tempo. Hoje, consumimos informação em diversas plataformas, em celulares, e a nova geração que está nascendo não vai nem querer saber do papel. Mas o mais importante é saber que a essência do bom jornalismo não muda. Nós, jornalistas, precisamos sempre correr atrás das boas histórias, dos bons personagens. E isso serve tanto para o papel quanto para as mídias digitais.

O jornalismo digital está cada vez mais em evidência, cabendo ao jornalista se adequar e utilizar os novos recursos a seu favor. Foi isso que Duda Rangel fez, após a conversa ficou claro que é possível fazer jornalismo digital, contudo a essência sempre será a mesma. Aprender com os desprazeres da profissão talvez seja a receita do sucesso de Duda, contudo sem a paixão pelo jornalismo ele não teria contado suas experiências com bom humor, afinal a essa é a essência da profissão.

Equipe como Anderson e Emerson Couto, os Duda Rangel.

Equipe como Anderson e Emerson Couto, os Duda Rangel.

Bônus: Como a reportagem é sobre jornalismo e meios digitais, além de uma uma conversa pessoalmente com os criadores do blog, Emerson e Anderson Couto, Entrevistamos o “personagem” através do chat do Facebook, o que mostra como o jornalismo está aliado aos meios digitais, abaixo temos a ilustração dessa conversa.

 

67071_4314144625679_755143172_n ]              541101_4314145185693_1551009559_n

 480443_4314144865685_1857786312_n           

300235_4314146945737_1639365767_n

480443_4314144865685_1857786312_n

       577647_4314145705706_1230482115_n 62989_4314144985688_786859272_n