Juventude engajada: entrevista Cristiano Vilas Boas

Por Yasmini Gomes

Fotos: João Felipe Lolli

O rosto jovem esconde as muitas responsabilidades por ele assumidas. Aos 22 anos, o estudante de Direito da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Cristiano Vilas Boas, foi eleito vereador mais jovem de Mariana e já faz planos para tentar melhorar a qualidade de vida dos moradores da cidade histórica. Interessado em questões políticas desde cedo, Cristiano é um exemplo de jovem que se interessa e luta pelos seus direitos. Além da política, o vereador também faz parte de grupos de jovens da Igreja Católica. Nessa entrevista, ele conta os bastidores de sua candidatura e a importância dos jovens se envolverem na política.

 

Revista Curinga:  De onde surgiu a vontade de participar da política?

CVB: Desde criança eu já tinha o interesse de participar de ações coletivas. Eu disputei minha primeira eleição por volta dos 13 anos, quando estudava na 5ª série do ensino fundamental e fui eleito representante de turma. A partir de então comecei a organizar caminhadas na Pastoral da Juventude e a participar de eventos juvenis em Mariana.

 

RC: Como você decidiu se candidatar a vereador?

CVB: Eu sempre tive uma simpatia pelo Partido dos Trabalhadores (PT), desde criança, quando acompanhei as eleições que o ex-presidente Lula disputou. Eu lembro que quando voltava da escola, sempre passava no comitê do Lula para pegar material e distribuir pelo caminho. Dessa maneira, acabei conhecendo e fazendo amizade com o pessoal do partido e, quando eu completei 16 anos tirei meu título de eleitor e me filiei ao PT.

Durante essa caminhada, eu sempre tive participação em projetos sociais, além de ser funcionário efetivo da Prefeitura, onde eu trabalho com projetos voltados para a juventude da cidade. E devido a esse meu envolvimento, várias pessoas disseram que tinha perfil para me candidatar e contribuir para renovação do quadro político de Mariana.

 

RC: Como foi ter contato com as pessoas durante a campanha e conhecer as maiores necessidades e carências dos moradores de Mariana?

CVB: Ao longo da campanha, eu tive oportunidade de andar pelos bairros e distritos da cidade. As demandas mais necessárias observadas foram a falta de habitação, de água e tratamento de esgoto. O contato foi fundamental, pois pudemos ver os casos de perto. Muitas vezes, a gente ouve falar da situação, mas só estando in loco pra realmente se dar conta de quão precária é o contexto.

 

RC: O que representa ter sido eleito vereador de uma cidade como Mariana, conhecida pelo seu tradicionalismo?

CVB: Quando eu aceitei o desafio de me candidatar em Mariana, eu sabia que era uma cidade peculiar. É muito difícil entrar no jogo político daqui devido à tradição que já existe e à uma Câmara que não é muito renovada. Eu tinha uma esperança maior porque o número de vagas passou de 10 para 15. Mas, pelo número de votos que tive, mesmo que ainda fossem as 10 cadeiras, eu teria sido eleito, o que foi realmente uma surpresa.

Mariana é uma cidade arcaica no que se refere à política. Na cidade ainda existem muitas trocas de favores, típicas de um curral eleitoral. No entanto, com a vinda de trabalhadores e estudantes o perfil do eleitorado tem mudado bastante. As pessoas estão se desapegando da tradição de famílias no poder.

 

RC: Quais as prioridades que você defenderá em seu mandato?

CVB: Acho que o mais urgente agora é a questão do esgoto, da água, das moradias e do transporte público. Algumas áreas sempre precisam de uma atenção maior com relação à saúde, educação, cultura. Além disso, o patrimônio da cidade precisa ser mais valorizado e, claro, a juventude, que será uma das bandeiras que vamos trabalhar.

 

RC: Como a eleição de jovens pode contribuir para reestruturar a política e recuperar a confiança dos eleitores?

CVB: Eu tive a felicidade de ter sido eleito o vereador mais jovem dessa legislatura, com 22 anos, e acho fundamental a participação do jovem na política. No governo Lula e agora com a Dilma, a juventude tem tido um novo olhar por parte do poder público. Desde 2004, existe a Secretaria Nacional da Juventude, o Conselho Nacional da Juventude, houve o incentivo do governo para que as cidades implantassem o Conselho Municipal da Juventude, o que mostra essa preocupação do Governo Federal de deixar de olhar o jovem como um sujeito-problema do poder público. O jovem passou a ser visto como um sujeito de direitos, que tem suas necessidades específicas dessa fase da vida.

No último Congresso Nacional, o PT aprovou que toda direção do partido, seja municipal, estadual ou nacional, deve reservar 20% da direção para jovens até 29 anos. E, os vereadores do PT não podem se reeleger mais de três vezes consecutivas para permitir a renovação de quadros.

 

RC: Além de político você também é aluno da UFOP. Qual a sua opinião sobre o sistema de vagas em repúblicas estudantis?

CVB: Atualmente eu curso o 5º período do curso de Direito na UFOP e conheço de perto essa realidade. Eu lamento muito essa tradição da UFOP, porque na minha visão o ideal seria o critério socioeconômico para ocupação de vagas nas repúblicas federais. Vários jovens que tem uma necessidade socioeconômica maior, muitas vezes passam por muitas dificuldades para se manter estudando. Mas eu também entendo a dificuldade de mudar esse sistema que existe há tantos anos e é uma tradição na UFOP.

 

RC:   Na sua opinião, os estudantes da UFOP se excedem em suas comemorações?

Se sim, qual a melhor maneira de evitar esses exageros?

CVB: Existem alguns exageros, sim, mas não podemos generalizar. Isso depende muito da responsabilidade de cada pessoa e de cada república. É necessária uma maior conscientização dos alunos. A UFOP também poderia fazer uma campanha de orientação e a nova reitoria deve ficar mais atenta a isso, pois esses fatos acabam desgastando a imagem da Universidade.

 

RC: E sobre a questão das mineradoras em Mariana, como você avalia a intervenção delas na cidade?

CVB: Atualmente, eu faço parte do movimento Mariana Viva, que é contra a mineração na área urbana. Essa questão foi levantada em 2010, quando a Vale se interessou em reativar a Mina Del Rey. Essa mina fica localizada dentro do município e próxima a bairros. No meu mandato, eu vou continuar defendendo isso. Não sou contra a mineração, pois ela gera renda e empregos na cidade. Sou contra a forma como ela acontece. As empresas investem muito pouco nas cidades que são exploradas e, com isso, a cidade se torna caótica.

 

RC:  Mariana é uma cidade que não possui infra-estrutura para receber tantos estudantes e trabalhadores. Você vai tentar fazer alguma coisa no que diz respeito à especulação imobiliária e falta de moradias?

CVB: Eu vou defender essa questão na Câmara. Inclusive pretendo fazer uma audiência pública, porque a Câmara pode interferir muito pouco nesse assunto, pois somente o Executivo pode autorizar algum tipo de projeto que gere custos para a cidade. Mas vamos ampliar essa discussão e levar ao diálogo com o Executivo para chegarmos a uma solução.

O ideal seria que a Prefeitura fizesse novos loteamentos e abrisse novos bairros. Mas, as terras na cidade são concentradas nas mãos de muitas empresas, então a cidade tem pouca área para se expandir, mas ela existe.

Pretendemos também implantar o programa “Minha Casa, Minha Vida”, do Governo Federal.

 

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