Entrevista: Banda Djambê

Um ano após o rompimento da barragem de Fundão da mineradora Samarco, a CURINGA procurou a banda Djambê, que após a tragédia, lançou a canção “Quanto Vale?”, como forma de  expressar o desastre que alagou com lama tóxica Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e outros quatro subdistritos de Mariana MG. O grupo têm como gênero o Rock Macumba, de autoria da banda, o estilo é uma forma de celebrar a consciência. Desde a formação em 2003, a banda traz em suas melodias uma fusão de estilos que vai do rock aos ritmos africanos e nas letras sempre o engajamento social.

_MG_3741

Ensaio da Banda Djambê Foto: Janaína Almeida

Curinga: Como surgiu a ideia da música e como foi o processo de construção?

Priscilla Glenda: A composição é do Emílio, o primeiro registro que a gente fez foi voz e violão, a minha contribuição foi na melodia.

Emílio Dragão: Eu comecei fazer essa música três dias depois, mas foi sem pretensão nenhuma,  para colocar pra fora o sentimento de quem estava vendo aquilo tudo de longe. E começou a chegar em Valadares que é uma cidade que tenho uns amigos que tem família lá e tal e foi assim esse início de sentimento e de certeza da impunidade também. Mostrei pra uns amigos e todos reagiram de maneira positiva e incentivaram a publicar. O mais bacana é que deu para sintetizar o sentimento de muita gente.

Curinga: O acontecimento é representado no clipe de maneira profunda e reflexiva. Como foi a construção desse diálogo imagético?

Emílio Dragão: Essa construção foi muito legal, porque primeiro a gente lançou a música na versão voz e violão, mas teve uma repercussão muito grande depois que uma página no facebook Brasileiríssimos postou,  e chegou a mais de um milhão de visualizações.  Depois disso, uns amigos nossos do “Grupo dos Dez”, o grupo de Teatro Negro de Belo Horizonte,  descobriram que o lugar onde iriam apresentar sua peça no Festival de Artes Negra, seria no memorial da Vale. Eles, nos convidaram para fazer uma intervenção. Então, ao invés de apresentarem sua peça,  nos chamaram para tocar “Quanto Vale?”. Tocamos a música, aí o Beja que é um ator e dançarino, fez uma performance onde ele ficou todo nu, comeu  e passou lama na cara, o que gerou um incômodo muito grande. Foi uma coisa muito forte e dessa performance veio a ideia de fazer o clipe. Convidamos a  galera do “Grupo dos Dez”, “Do Fora do Eixo”  o Balé Jovem do Palácio das Artes  veio, foi acrescentando ideia e foi tudo feito pela causa, não tinha um roteiro fechado.

Curinga: Como é ser uma banda Independente no Brasil. Ser Independente da uma maior liberdade de expressão?

Emílio Dragão: Não vejo problema nenhum em ser uma  banda vinculada a uma grande gravadora desde que não mexa na nossa essência.

Priscila Glenda:  Eu acho engraçado esse termo independente, porque a gente é totalmente dependente. A gente tem trabalhado muito a nossa banda pra ser tipo uma empresa, lógico mantendo toda a parte artística, todo o conceito, a gente tenta funcionar como uma empresa. É como qualquer outra profissão pra você se destacar você tem que trabalhar muito. A gente trabalha praticamente 24 horas por dia ainda mais que é uma coisa que você ama fazer o mais importante é saber o que você quer. Por exemplo se eu quiser ganhar  R$ 5 mil hoje, eu tenho que ter compreensão de onde eu tô inserida no mercado, acho que é isso que vai fazer  a gente se destacar ou não. Ter compreensão do mercado que a gente tá, ter compreensão do som que a gente quer fazer, pra quem que a gente quer chegar, acho que é isso….

Emílio Dragão: Acho que é um exercício diário de autocrítica mesmo sabe? Porque… Reclamar é muito fácil sabe? Eu falo isso porque eu já reclamei muito na minha vida. O Djambê tem 13 anos e só com o lançamento do CD de 2015 que a gente começou a trabalhar com a coisa mesmo.

Curinga: Considerando que a banda, ainda não tem um alcance tão grande, rola uma gratificação maior, em termos da identificação?

Emílio Dragão: Eu acho legal o fato das pessoas virem até nós por se reconhecerem naquela mensagem. Isso eu acho muito legal. Mas, eu também acho que às vezes a gente pode romantizar demais. Eu quero que o meu som chegue para o máximo de pessoas, porque o que a gente fala é o que a gente pensa que é relevante e o que a gente realmente acredita. Então assim, pra mim é relevante cantar isso para o maior número de pessoas.

Curinga: Como enxergar esperança após essa tragédia?

Emílio Dragão: Talvez se alia pessoas que estão nesse mesmo movimento que também foram atingidas por coisas parecidas, movimentos da sociedade civil organizados, sabe? Às vezes essa é uma forma de passar a coisa ruim e evitar que essa coisa ruim aconteça com outras pessoas mais pra frente, porque é só com pressão popular que a coisa funciona.

A banda Djambê nasceu de um grupo de amigos que frequentava aulas de capoeira, da formação original de 2003 só está o Emílio. Apesar dos rostos diferentes o rock macumba permanece,  os integrantes suas experiências de vida, suas representatividades enquanto pessoas e suas experiências culturais agregam valor artístico a banda e o rock macumba a suas vidas, não dá para fazer parte da banda sem celebrar a consciência.

Atualmente os integrantes da banda são:  Emílio Dragão (voz), Priscila Glenda (voz e Sampier), Mayra Motta(percussão), Júnior Caban (baixo/Guitarra) e Biel Sant’ Anna(teclado).

 Foto e Entrevista por : Janaína Maria de Almeida