Gogô: Memória em ruínas

 

Filipe Barboza e Rayana Almeida

A história do escravismo e da exploração aurífera encontra-se arraigada na memória e no cotidiano da população da cidade de Mariana, sobretudo no Parque Paisagístico e Arqueológico Morro Santana . Conhecida popularmente como “Gogô”, essa região nos remete ao auge e a queda do ouro. Local de trabalho e moradia de cerca de 20 mil escravos no século XVIII, o sítio, que também foi explorado por garimpeiros nos séculos seguintes, só deixou de ser povoado na década de 1960.

São cerca 131,70 hectares que nos revelam minas de ouro desativadas, galerias, ruínas de moradias, cemitérios, além de uma lagoa artificial utilizada para a batear (lavar) o ouro. O sítio é considerado um dos mais importantes acervos da mineração brasileira.

Em 2008, um decreto municipal determinou o tombamento do parque, demarcando limites de utilização da área pelos moradores da redondeza. Mas, ainda assim, é possível ver construções fora da divisa, cercas particulares agregando o sítio às áreas particulares, e, principalmente, é possível notar o descaso do poder público.

Através do conhecimento e das aclamações de um morador local, vamos desbravar um pouco dessa região e recuperar um pouco do que está esquecido: patrimônios, memórias e desejos de colocar o local na rota turística de Mariana.

Salvador Alves de Freitas, 62, é líder comunitário do Bairro Gogô. Ele atua como guardião da história e das estruturas do sítio arqueológico. Seu Salvador é quem nos guia dentro do Morro Santana.

O Parque Paisagístico e Arqueólogo Morro Santana está localizado a aproximadamente três quilômetros da região central da cidade de Mariana. Nele ainda existem cerca de dez ruínas das antigas residências dos escravos e garimpeiros.

O passado exploratório do garimpo e as paisagens misteriosas impulsionaram a criação de diversas lendas ao local. As almas penadas de mineiros que morreram soterrados e a ''mãe do ouro'' são exemplos de histórias que permanecem no imaginário popular até os dias de hoje.

O passado exploratório do garimpo e as paisagens misteriosas impulsionaram a criação de diversas lendas ao local. As almas penadas de mineiros que morreram soterrados e a ”mãe do ouro” são exemplos de histórias que permanecem no imaginário popular até os dias de hoje.

Dentro do parque seu Salvador nos leva às inúmeras galerias de minas subterrâneas. Elas foram construídas para extração de ouro e minério de ferro. Hoje, devido ao elevado custo da exploração mineral para pequenos garimpeiros, nenhuma mina encontra-se em uso.

Dentro do parque seu Salvador nos leva às inúmeras galerias de minas subterrâneas. Elas foram construídas para extração de ouro e minério de ferro. Hoje, devido ao elevado custo da exploração mineral para pequenos garimpeiros, nenhuma mina encontra-se em uso.

Nas galerias, é possível encontrar lagoas naturais, lençóis freáticos e materiais usados para a extração do ouro. Seu Salvador defende a valorização desses recursos a fim de transformá-los em atrações turísticas.

Nas galerias, é possível encontrar lagoas naturais, lençóis freáticos e materiais usados para a extração do ouro. Seu Salvador defende a valorização desses recursos a fim de transformá-los em atrações turísticas.

Dentro das galerias existem “buracos de sarilho”, antigos túneis verticais utilizados como entrada de ar e saída de minério. Nas paredes, foram construídas pequenas perfurações que serviam para ajudar os mineradores a se locomoverem.

Dentro das galerias existem “buracos de sarilho”, antigos túneis verticais utilizados como entrada de ar e saída de minério. Nas paredes, foram construídas pequenas perfurações que serviam para ajudar os mineradores a se locomoverem.

A saída dos “buracos de sarilho” oferece grande risco de acidentes a quem caminha pelo parque, pois a vegetação, na maioria das vezes, encobre os buracos e, consequentemente, camufla o perigo de queda dentro das minas.

A saída dos “buracos de sarilho” oferece grande risco de acidentes a quem caminha pelo parque, pois a vegetação, na maioria das vezes, encobre os buracos e, consequentemente, camufla o perigo de queda dentro das minas.

No parque encontra-se a também a ruína da Capela de Santana. Construída em 1712, esse templo foi desfeito em 1968. Hoje existe uma grande expectativa por parte dos moradores para a reconstrução desse monumento.

No parque encontra-se a também a ruína da Capela de Santana. Construída em 1712, esse templo foi desfeito em 1968. Hoje existe uma grande expectativa por parte dos moradores para a reconstrução desse monumento.

A área onde se encontra a ruína da capela tem sido utilizada anualmente pelos romeiros por ocasião da Festa de Santana. Essa procissão foi resgatada pelos moradores do bairro do Gogô após 36 anos de inatividade.

A área onde se encontra a ruína da capela tem sido utilizada anualmente pelos romeiros por ocasião da Festa de Santana. Essa procissão foi resgatada pelos moradores do bairro do Gogô após 36 anos de inatividade.

Pelos caminhos do parque, é possível encontrar vestígios da exploração mineral, como, por exemplo, o “brunidor”, ferramenta de pedra utilizada para pulverizar o ouro.

Pelos caminhos do parque, é possível encontrar vestígios da exploração mineral, como, por exemplo, o “brunidor”, ferramenta de pedra utilizada para pulverizar o ouro.

Na sua própria casa, Seu Salvador guarda em uma caixa de papelão improvisada vestígios que ele mesmo recolheu em suas caminhadas pelo parque.

Na sua própria casa, Seu Salvador guarda em uma caixa de papelão improvisada vestígios que ele mesmo recolheu em suas caminhadas pelo parque.

Seu Salvador possui, entre outras coisas, a chave da capela desfeita, uma balança utilizada para pesagem de ouro e cachimbos, que provavelmente, foram usados por escravos. O guia tem o sonho de ver o parque se tornar um ponto turístico de Mariana, com a capela reconstruída e as peças antigas que ele guarda expostas nela.

Seu Salvador possui, entre outras coisas, a chave da capela desfeita, uma balança utilizada para pesagem de ouro e cachimbos, que provavelmente, foram usados por escravos. O guia tem o sonho de ver o parque se tornar um ponto turístico de Mariana, com a capela reconstruída e as peças antigas que ele guarda expostas nela.

O Parque Morro Santana está também ligado ao Sítio Santo Antonio, outro importante espaço arqueológico da extração de ouro na região que também se encontra em esquecimento. A faixa de divisão entre a linha férrea marca a divisão de um sítio ao outro.

O Parque Morro Santana está também ligado ao Sítio Santo Antonio, outro importante espaço arqueológico da extração de ouro na região que também se encontra em esquecimento. A faixa de divisão entre a linha férrea marca a divisão de um sítio ao outro.