Ditador, mito ou herói?


Por: Yasmini Gomes

Em Caracas, no dia 5 de março de 2013, morreu o líder que conseguiu ir de um extremo ao outro, causando comoção em seu povo e em nações de outros países. Radical, carismático e tendo vencido quatro eleições consecutivas, Hugo Chávez foi presidente da Venezuela por 14 anos, sendo responsável pela elevação do PIB, a diminuição dos índices de pobreza e desemprego, além das diversas estatizações. Também foi ele o responsável pelo crescimento da dívida do país, assim como a violência e a inflação.

Desde sua entrada no governo, Chávez estabeleceu conflitos com a mídia privada da Venezuela, perseguindo profissionais da área que o chamavam de autoritário. Após sua morte, a mídia que tanto o criticou, seja ela a venezuelana ou a internacional, criou discursos diferentes em relação ao líder, como as capas da Revista Veja e Carta Capital. A primeira trouxe como capa a frase “Chávez: a herança sombria”, acompanhada de um foto obscura do ex presidente. Já a segunda apresentou um imagem mais leve, com cores, seguida da frase “A herança de um líder”. A grande questão é: seria Chávez um líder ou apenas uma sombra que governou a Venezuela?

De acordo com Matheus Pereira, historiador e professor da Universidade Federal de Ouro Preto, Chavez foi um personagem importante na história da Venezuela, que retornou com o discurso socialista, visando usá-lo para resolver os problemas do passado, que são também do presente e do futuro, como a miséria e a distribuição de renda. “Apesar de ser radical, Chávez aposta na dominação carismática, se assemelhando ao populismo, que visa uma política assistencialista, mas que tem contornos autoritários”, aponta Matheus.

Ainda que tenha tomado medidas extremas, o ex-presidente exercia grande influência política no país. Nas ruas e mercados de Caracas e outras cidades venezuelanas, por exemplo, é possível encontrar camisas com o rosto dele estampado. Segundo Matheus, essa relação da população com o político se dá da mesma maneira que é a relação do Brasil com o futebol. “Aqui em Minas, ou você é Atlético ou é Cruzeiro, lá ou você é Chávez ou não é”, comenta.

No Brasil, a morte de Chavez pode ser comparada a de Getúlio Vargas, que fez permanecer a herança das políticas trabalhistas e do populismo. “Chavez, na verdade, representa para os venezuelanos uma nova tradição política no país, que apesar de autoritária, visava atender as necessidades da população. Ele fundou uma tradição política tanto em seu país quanto na América Latina”, afirma Matheus.

“Herói é aquele que permanece vivo, e que muitas vezes se redime. Chávez é um figura representativa para os venezuelanos e para um mundo, mas não se tornou um herói”, conclui Matheus.