Posted by admin On abril - 12 - 2013

 

 

Por César Diab, Davi Machado, Eduardo Braga, Pedro Ferreira.

Esta pesquisa visa analisar as vozes e os enunciados das reportagens do jornal “A Semana” que retratam a educação do município. Pretendemos observar se as matérias possuem caráter emancipador ao retratar os anseios/necessidades da população – professores, alunos e pais – ou se o texto representa apenas a voz institucional do poder público de Mariana
Faremos uma leitura meticulosa sobre as fontes que compõem o produto jornalístico, dando ênfase aos diferentes espaços destinados a elas. Procuraremos demonstrar, também, de quem são essas vozes que tecem os discursos e porque outros dizeres estão ausentes.
Para tanto, tomaremos a seguinte descrição de Eni Orlandi (2006) para analisar o discurso das reportagens. “A formação discursiva aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determina o que pode e deve ser dito.”. Isto é, vamos mapear a ideologia presente no jornal para formular discursos a respeito da educação de uma forma e não de outra. Usaremos as normas da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), que orienta aos profissionais de comunicação o reconhecimento e sabedoria para realizar com qualidade e responsabilidade o lugar essencial que ocupam na observação vigilante do interesse de crianças e adolescentes.
Por fim, para chegar ao nosso objetivo, olharemos para a pluralidade das informações, para os critérios adotados na construção jornalística e porque o jornal abordou a educação pública desta maneira.

Oito mil alunos voltam às aulas – A SEMANA, edição 461, 31 de janeiro de 2013, p.
Na matéria citada, no que tange às vozes no texto, nada se falou da precariedade da infra-estrutura das escolas. O que conduz a matéria é a voz do poder público, aqui representado pela Secretaria de Educação. Ela toma a volta às aulas de uma maneira positiva, divulgando as intenções do novo governo para com a educação, que visa melhorar o desempenho da cidade no IDEB.
Como defendem Kovach & Rosenstiel, a verdade do jornalismo se configura nas verificações das informações e no amplo e bom uso das fontes. Para eles, “a essência do jornalismo é a disciplina da verificação” (2004, p.113)
Sob essa ótica, a narrativa nos dá uma impressão de negligência ao caráter plural e transparente que se espera de um produto jornalístico à medida que denota apenas um enunciado e uma única só voz para construir as informações. Isto é, ouviu-se uma fonte – Secretária da Educação Elisabeth Cota – na qual proferiu o discurso do poder público e com a qual norteou a apuração do jornal.
Para tanto, a educação pública aqui retratada, em vez de conotar um valor notícia – no sentido de ir de encontro dos problemas emergentes – é utilizada como um espaço sobre o trabalho da administração do município. Trabalho esse muito parecido com uma assessoria de imprensa oficial.
Abaixo segue um estudo sobre o espaço cedido ao jornal A Semana para publicações sobre educação em Mariana/Ouro Preto. Foram contabilizados os números de caracteres da edição e da matéria analisada a fim de demonstrar como o jornal dirige atenções para editorias distintas. Constatou-se que o espaço destinado à educação é expressamente menor em relação às outras matérias do jornal.

Prefeitura nega a pretensão de reduzir verba da Educação – A SEMANA, edição 464, 21 de fevereiro de 2013, p. 4.

Nessa reportagem, a matéria é construída com base no acompanhamento de uma reunião da câmara de vereadores de Mariana, que discutiu sobre o pedido de diminuição de 5% na parcela destinada à educação.
A primeira fonte, o vereador José Jarbas Ramos Filho, Zezé de Nego, mostra indignação com a proposta do Executivo. Contundo O espaço de sua fala ocupa nada mais que sete linhas, enquanto a nota da Prefeitura toma conta de todo o resto da notícia, ou seja, os três parágrafos seguintes. São 137 caracteres destinados à oposição (pronúncia do vereador José Jarbas), contra 513 caracteres retirados da nota oficial.
Para Schoenherr (2008), o artifício de designar diferentes espaços para fontes dialoga com a posição editorial e organizacional defendida pelo jornal; “no caso do jornalismo, a técnica de tratamento das fontes lida com uma contingência organizacional e aciona/alimenta uma postura ou posicionamento em relação às instituições e ao universo consumidor, incluindo a concorrência”
Com isso, pode-se inferir que o texto analisado propõe, de fato, duas vozes e dois enunciados distintos. Grosso modo, essa construção que tende ao pluralismo cumpre com os preceitos de uma reportagem isenta e transparente. Entretanto, no caso desta matéria, os espaços destinados às vozes são desiguais causando, assim, um desequilíbrio entre as partes representadas na qual a voz da Prefeitura leva uma ampla vantagem.
Por fim, nesse exemplar o espaço reservado para a educação pública é ainda menor do que na edição de número 461. Em todo o jornal, 8% de seu texto foram dedicados à educação contra 10% destinados à editoria de polícia.


Concluímos com essa análise de algumas edições do jornal ‘A Semana” que as normas aconselhadas pela ANDI, para o jornalismo envolvendo crianças e adolescentes, analisadas com o viés da educação, não foram seguidas, como espaço maior às informações voltadas às crianças e adolescentes e o uso de várias fontes para uma maior credibilidade.

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